Capítulo 5

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Rael

"Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser convertida numa força capaz de mover o mundo." Mahatma Gandi

Ao despertar em seu dormitório cheirando perfume vencido e maconha, Rael havia percebido que a sua estadia seria mais desagradável do que poderia imaginar. Com ele, contava se ao todo quatro rapazes ao todo que dividiam aquele pequeno espaço.
Naquele cubículo como podemos chamar, continha duas beliches, uma escrivaninha que dividia o local, para dar a impressão que era maior, uma pequena estante com uma televisão de vinte polegadas acoplada, que só poderia ser usada durante os horários disponíveis.

Não continha guarda-roupa, então eles mantinham suas peças de vestimentas em cada mala devidamente organizada. Se houvesse uma camiseta ou cueca jogada por qualquer parte do cômodo, teriam uma punição. Pois, a ordem e a cooperação de todos, era totalmente essencial para um bom convívio, mesmo sabendo que não era assim que funcionava no dia a dia.

Por quanto, que em cada alojamento, continha um líder e seu subsequente, que sempre andava com uma prancheta anotando toda movimentação do local. Da entrada de alguma possível família até mesmo o horário que a diretora saia para almoçar ou ir para sua residência. Cada bloco assim dizendo, tem seu quadro de normas as serem seguidas, para no fim do dia ser abatido e podendo ganhar alguma regalia. Mas o que chamava a atenção do rapaz era o fato do líder nunca mostrar a sua identidade, o que tornava a situação mais curiosa. Por ele sempre estar mandando um de seus encarregados averiguar a função que a pessoa foi designada naquele momento.

Era notável que existe uma hierarquia, uma força de comando interna entre todos, por não ser um lugar afável, porém, tornou se um dos orfanatos mais procurado de São Paulo, localizado em Higienópolis. Pelo modo como era governado, demonstrando ser acolhedor, responsável e educativo, criando futuros homens de caráter integro.

Carolina conhecida assim pelos mais íntimos era a mantenedora, sempre estava de olhos e ouvidos abertos, para qualquer novidade que surgisse ali. Ela era muito próxima a mãe de Rael, por terem algumas amizades em comum em sua adolescência, especificamente na idade dele. Tinham seus contatos diretos, para falar sobre o desenvolvimento dele com a turma.

Depois de observar o movimento intenso no ambiente, Rael pega seus objetos pessoais e caminha até o banheiro, para poder assim fazer suas higienes e falar com o coordenador. Sendo assim, redirecionado para o aposento que precisa de sua ajuda.
Não demora muito até que Daniel, subsequente chega até o mesmo e já começa a ditar as ordens vindas de seu chefe, mal deixando o pobre moço enxugar seu rosto molhado.

- Então meu querido, você está responsável de arrumar o escritório da Dona Carolina, até o horário do almoço, que é às 12:30. Depois que comer, vai para a sala de estudos limpar os livros que chegaram da antiga biblioteca. Estarão bem empoeirados, então limpa com vontade viu, quero ver nenhum rastro de poeira. O chefe tem alergia a ácaro. Logo após isso, irá com o Guilherme e os outros, dar suporte a uns moleques retardados, aqueles que ficam babando feita criança, em cadeira de rodas esperando algum trouxa ir lá dar atenção. Bando de idiotas. Fazendo tudo isso, irá ter alguma vantagem, se cumprir tudo perfeitamente. Quando terminou de falar, foi se dirigindo a Marcos, um menino de apenas nove anos que estava deitado lendo um livro, tentando passar o mísero tempo que lhe restava.

- Tranquilo, poderia só me mostrar onde fica cada coisa, estou perdido aqui, tudo mudou rápido demais. Depois disso não irei mais importuna lo. - Ele tremia ao falar com o cara por não querer parecer desrespeitoso, mesmo estando apenas de samba canção e uma toalha azul-marinho na mão.

Ao terminar os seus afazeres, saiu em direção ao gabinete da diretora, tendo em vista que não poderia tirar nada do lugar sem sua permissão. Seja de uma simples foto de porta retrato, até mesmo o celular que ficava na mesa a espreita de todos.

Quando começou a limpar, notou que em cima da mesa estava sua ficha de adoção, contendo todas as suas informações, fotos e histórico escolar. Ao ver, sua mão coçava para abrir a pasta e vasculhar alguma notícia sobre sua verdadeira genitora, entretanto o que encontra é o nome de um homem escrito a mão.
- Victor Monteiro, CEO da empresa M.M, administrador de escolas e responsável legal de MARCOS DINIZ.

Naquele momento, ele apenas fechou a pasta com raiva, começou a ajeitar a sala com pressa, por não conseguir digerir a informação que buscou. Era provável que aquilo fosse falso ou implantado ali. Como um homem de tanto poder, poderia deixar o próprio filho, menor de doze anos num lugar desses? A pergunta que poderia ter a pior resposta existente.

Tentando compreender, resolve falar com Daniel, dizer o que viu sem chamar muita atenção. Porque aquilo era uma falta grave e poderia gerar uma expulsão com todos os direitos de ser acolhido por uma família boa. Perante a lei, não seria aceito em quaisquer outro lugar. Ficando à deriva da vida nas ruas novamente.

Não demorou muito até o encontrar, dizendo tudo que havia visto. A reação de Daniel foi apenas uma, rir da cara de Rael, por inventar uma mentira tão tenebrosa sobre isso. Brincar com a vida de um moleque tão novo assim, para poder ganhar mais visibilidade com os outros.

- Acredita em mim cara, o documento está certinho o nome dele. O que não faz nenhum sentido, pôr o próprio sangue aqui dentro, para sofrer a espera de uma mãe/pai, sabendo que existe um verdadeiro lá fora. È muita sacanagem com o menino, você precisa falar isso para ela Daniel, não seja injusto.

- Oh!? meu parceiro, segura tua onda, ai, vou levar esse teu papo pra chefia, ai somente ele poderá dizer o que iremos fazer diante do caso. Aqui existe lei e deve ser respeitada, que peitar com ele, o problema será totalmente seu. Te vira sangue bom, ou fecha o bico, ou morre.

- Você acha que vou mexer com papo sério assim de brincadeira? Só estou alertando, porque ele se encontra na minha fixa, o que deixa a atender que temos algum tipo de ligação. Podemos ser irmãos ou algo do tipo. Só fica o alerta.

Algo ficou suspeito para ele, o fato de ter o nome do menino que dorme ao seu lado em sua identificação, a maneira como aquilo estava fácil demais, a vista de qualquer um. Existe um mistério nesta história e ele não pararia até poder entende lá por completo.

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