2

8 1 0
                                    

Assistir Paula evaporar em minha frente foi a coisa mais assustadora que já vi em minha vida, e já vivi o suficiente para ver muitas coisas.

Sem dúvidas, o que aconteceu foi algo sobrenatural, e se tem algo que aprendi com meu pai foi que a polícia não pode ser envolvida neste tipo de caso. Me ajoelho no local onde por último vi Paula e me desabo em lágrimas, por muito tempo tive que enfrentar monstros com o triplo de meu tamanho, mas está sendo a primeira vez que estou lidando com a morte de minha amada. E é muito mais doloroso.

Meia hora depois, em minha casa, abro a lista telefônica e procuro por Rebecca. Ela atende em segundos, antes do terceiro toque.

- Irmã? - digo, a chamando.

- Júnior, que saudades! - ela responde e percebe meus soluços de alguém que estava chorando. - Tudo bem?

- Para ser honesto, não. Não está nada bem, Rebecca. Você lembra da Paula?

- Sim, sei. Sua namorada. Vocês terminaram?

- Alguém a tirou de mim.

Rebecca não responde, então prossigo.

- Ou algo. Era um círculo totalmente escuro, ele girava no ar e soltava faíscas. Estávamos na rua conversando quando...

- Júnior. - ela diz, séria. - Eu estou casada, tenho dois filhos, eu moro há horas da sua casa. Se está pensando na possibilidade de eu sair da grande São Paulo para retornar a Espírito Santo por causa da sua namorada, então descarte a possibilidade de nos juntarmos.

- Você disse para sempre, não lembra?

- Tínhamos quinze anos.

- Pois foi com quinze anos que o nosso pai se virou contra nós. Foi com quinze anos que ele matou seu namorado e eu fui o único que fiquei do seu lado.

- Não começa.

- Eu matei o meu próprio pai, com quinze anos, apenas porque você pediu. Tem certeza que vai abrir a mão de me ajudar?

Silêncio total no outro lado da linha. Uma criança começa a chorar e Rebecca apenas diz que está ocupada e desliga o telefone.

Fui traído por meu próprio pai, mas não aceito ser traído por minha irmã.

Rolo a lista telefônica a procura de outro número e aperto em "chamar" quando vejo o nome de Bianca, minha outra irmã.

- Departamento de Artes da Universidade Federal de Ouro Preto, com quem eu falo?

- Boa noite, eu quero falar com a Bianca.

- Irei passar para ela, só um instante.

Alguns minutos se passam e eu escuto uma voz familiar.

- Bianca, é o Júnior. Seu irmão.

- Não brinca! - ela exclama. - Por que está ligando?

- A Paula, minha namorada. Ela meio que... - não consigo encontrar as palavras certas, apenas retorno a chorar.

- Júnior, se acalme. O que aconteceu com ela?

- Eles a levaram. Uma espécie de esfera escura a levou, eu preciso de sua ajuda.

- Por favor, não me diga que nós temos que nos reencontrar. Júnior, você sabe que quando estamos juntos...

- Sim, Bianca, eu sei. Mas não é como se algo ou alguém me xingou ou outra coisa, estamos falando de uma vida.

- E quanto a Rebecca? Ela vai?

- Nós conversamos, mas ela não virá.

- Ótimo, porque eu não estarei em nenhum lugar que ela estiver.

Há muitos anos atrás, meu pai se revoltou contra nós. Éramos cinco ao total, porém ele exterminou dois de seus filhos. A fúria começou após Rebecca assumir seu namoro com um rapaz, e podemos ver que meu pai não havia gostado muito da história. Na época, lutávamos contra um Titã, porém a luta foi totalmente esquecida quando o duelo de pai contra filhos começou. Por tudo ter começado após o namoro de Rebecca, Bianca acha que ela merece toda a culpa pelo acontecido, o que não é verdade, já que quando meu pai nasceu, foi quando se deu início a profecia.

Andará por todos os caminhos,

Entrará por todas as portas.

Porém, com um mísero descuido,

Acabará cedendo ao maligno.

O seu final é sua escolha,

Morrerá como covarde,

ou viverá como vilão.

Filhos do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora