8

7 1 0
                                    

- Você ainda está com o pergaminho de Davi? - Rebecca pergunta e eu digo que sim.

Passamos por tantas coisas que nos esquecemos do principal. Não sabemos onde irá acontecer a batalha, não sabemos onde está o que devemos enfrentar e nem sabemos como enfrentar.

Bianca tira o pergaminho do meu bolso e abre no chão, damos uma olhada ao nosso redor para conferir se não há ninguém e peço para que o pergaminho nos mostre para onde ir. Pela segunda vez, ele se estremece e solta as mesmas faíscas anteriores, revelando algumas palavras em seu interior.

Os Filhos do Sol não sabem o que fazer,

na verdade, sabem sim.

Pois já estiveram ali.

Antes da batalha, entenderam meu recado.

Nada tem um fim,

nem o pior dos vilões.

O deus do Sol sempre esteve vivo,

Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo.

Sempre os observando.

Não há maldição, mesmo que digam os boatos,

apenas repulsa.

O deus do Sol queria a queda de vocês.

Use a flecha, e o portal se abrirá.

O deus do Sol nunca os deixou em paz,

sempre os perseguiu.

Já passou da hora de persegui-lo também.

Entendemos o recado no instante em que lemos a última frase. Sabemos onde nosso pai está, e devemos segui-lo. Corremos novamente até a biblioteca, mas antes de entrar damos um abraço triplo.

- Não há maldição - Rebecca diz. - O tempo todo foi ele.

- Precisamos acabar com isso, rápido - Bianca diz, seu rosto estava em uma junção de tristeza e ódio.

- Não erre desta vez - Rebecca diz, olhando para mim. - Te chamei de covarde, mas é pura mentira. Olha o que você está fazendo para salvar sua namorada, se isso não for o ato mais corajoso que eu já vi, então não vivi muito tempo.

- Vamos entrar - Bianca finaliza. - Por Rafael e Natan.

- Por Rafael e Natan - eu e Rebecca repetimos e entramos na biblioteca, os três com sede de vingança.

Nem o deus do Sol conseguirá nos parar, o foco é a nossa força.

Saco a espada e entro em posição de luta, Bianca faz o mesmo. Rebecca pula em uma das mesas e tira uma flecha de sua bolsa, posicionando-a entre o ferro do arco e a linha.

Derrubo a porta dos fundos, onde por último vimos nosso pai, fazendo um estrondo alto. O velho que nos recepcionou estava ao chão, gritando de dor. Ficamos prontos para atacá-lo, mas ele só repetia "graças aos deuses encontrei alguém."

- Pai? - Bianca chama.

- Pai? Eu sou Antônio - o velho diz. - O que vocês estão fazendo aqui?

- Estamos procurando nosso pai, o deus do Sol.

- Hernício? Há quanto tempo! Saudades quando ele ainda era do bem.

- Você o viu? - pergunto. O velho geme de dor e responde em seguida, com o ar faltando.

- Ele não é mais humano, está rodeando em formato de trevas. Pobre Hernício, dominou tanto o sol que esqueceu do mais importante, o brilho da vida. Era tão quente, hoje está tão frio.

- Você tem algo que possa nos ajudar? - Bianca pergunta, já estamos aflitos.

- Caros, estou morrendo - o velho diz, e realmente está. Ele olha para Rebecca e para de falar por alguns segundos. - A pedra, você a obtém. Assim que eu der meu último suspiro, esfregue-a em mim, não me deixe morto.

Antes que pudesse falar mais alguma coisa, um círculo preto se abre, soltando luz e um barulho inaudível. O círculo o consome e volta ao nada. Não esqueço da última vez que o presenciei, foi o mesmo círculo que matou Paula. Ficamos cara a cara com as trevas, com o nosso pai.

Reparamos na estufa que ficava acoplada na parede, sabíamos que era o portal que estava escrito no pergaminho.

- Use a flecha e o portal se abrirá - Rebecca repete o que lemos há pouco tempo. Ela nos afasta e mira o seu arco na estufa. - Estamos perto, desgraçado.

A flecha é lançada, no ar ela se reparte em três, todas com fogo na ponta. Quando entram em contato com a estufa, uma explosão acontece e quase nos cega.

Minha visão está escura, não consigo destinguir o que está ao meu redor. Gradualmente, ela vai voltando, mas ainda turva.

Demoro a voltar em meu estado sóbrio, e então me deparo com o sucesso. Na parede, onde antes se encontrava a estufa, flutua um círculo branco, o mesmo que passamos milhares de vezes quando íamos para batalhas. Nos abraçamos novamente, estamos perto, muito perto.

Rebecca é a primeira a passar, sua bota é a última coisa que vimos. Bianca se apressa em ir por segundo e entra com um pulo rápido. Eu não consigo parar de observar na beleza do portal, mas preciso continuar, então entro em seguida.

O outro lado acabou com toda a euforia de felicidade anterior, estávamos em um deserto. Uma mísera casa é a única coisa que habita no seco extremo.

- Não podemos ter acertado, isso aqui não tem nada - Bianca diz. Quando nos viramos para voltar, encontramos uma torre gigante, aquilo claramente não está sendo habitável, mas tem o tamanho suficiente para abrigar o monstro que enfrentamos aos quinze anos.

Filhos do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora