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Nós nunca começamos uma batalha, mas pelo menos sabíamos de vários lugares onde acharíamos as armas.

Exceto a espada de duas lâminas, que fica escondida em meu quarto, todas as demais são conseguidas em uma livraria no centro da cidade.

Entramos, esperando que alguém nos atendesse. Um velho com uma barba enorme e vestes esmeralda aparece por meio dos livros e arregala os pequenos olhos quando nos vê.

- Os Filhos do Sol - ele diz, calmamente. - Vieram a procura de que?

- O senhor nos conhece? - Rebecca pergunta.

- Ah claro! - o velho responde e dá três risadas seguidas de uma tosse. Ele se senta em uma das cadeiras e estende a mão para que nos sentamos também. - Eu era um amigo do pai de vocês. Uma pena que ele morreu.

Engulo em seco.

Me viro e vejo vários artefatos claramente mágicos, alguns brilhavam e outros flutuavam.

- Não tem alguma lei de proibição do uso de artefatos mágicos em lugares públicos? - pergunto.

- Estamos no Brasil, meu filho - o velho retruca. - Ninguém que não seja como nós visita uma biblioteca ultimamente. Confie, estão a salvo.

Fico envergonhado com a resposta. Quero conseguir o que preciso o mais rápido possível.

- Um arco e uma espada, ambos mágicos - Bianca diz. Ela também não está se sentindo confortável.

- Como disse?

- Nós iremos lutar e precisamos de algumas armas, um arco e uma espada - ela repete.

O velho se levanta calmamente, quase precisando de ajuda, e nos chama para uma sala aos fundos. É enorme, iluminada apenas por tochas que se acendem assim que entramos. Uma estufa de vidro está acoplada em uma das paredes e o velho entra, nos avisando para esperar.

- Este lugar é bizarro - Rebecca diz.

Estou com a mão na ponta de minha espada, que se encontra diminuída entre minha calça e minha pele.

O velho volta com um arco e uma espada, como pedido. Ele as entrega a Bianca e Rebecca e abre um sorriso do mais largo que eu já vi, de uma forma sinto que eu já o conhecia.

Começamos a sair da sala escura quando eu me viro e pergunto:

- Qual o nome do senhor? - o que acontece em seguida é algo surreal, algo que eu nunca vi acontecer em todos os meus anos de vida.

Os olhos do velho ficaram totalmente brancos e uma luz flamejante amarela se exala em seu redor, ele flutua um metro do chão e abre seus braços, dando oportunidade a luz se espalhar. Eu e minhas irmãs colocamos o braço em nosso rosto em forma de proteção a luz.

- Eu sou aquele que brilha - o velho começa, sua voz está com um efeito metálico. - O dono de todas as luzes, o infinito, a via láctea, pai de cinco, eu sou o que se rebelou. Não se lembram de mim, crianças? Eu sou o deus dono do sol.

Um ar gelado sobe por dentro de minha camisa e eu tiro a espada rapidamente, ela volta ao tamanho normal e percebo Rebecca e Bianca também ficando em posição de luta.

- Pai? - pergunto.

Sem responder, meu pai lança algo contra nós três, mas nos abaixamos e conseguimos desviar.

- Não estamos prontos - Bianca diz. - Vamos correr.

Eu e Rebecca concordamos e fazemos uma contagem regressiva. No zero corremos para fora da biblioteca, escondendo nossas armas.

- Vocês escutaram o que eu escutei? - Bianca pergunta, estávamos todos confusos.

- Eu não sou capaz de repetir - digo.

- Aquele velho é o nosso pai? - Rebecca pergunta, mesmo já sabendo qual a resposta.

- Não - Bianca diz, séria. - Não deu tempo para ele envelhecer desse jeito, provavelmente ele está usando o espírito dele e entrando em corpos para nos deter.

- Espera - exclamo. - Se ele realmente não estiver morto...

- Meu Deus! - Bianca grita, agora ela estava feliz, uma mudança total em suas expressões. - Natan e Rafael. Se o nosso pai está vivo, então eles também estão.

Eu e Rebecca entendemos o que ela quis passar. Por mais que eu quem havia mostrado a ideia, não queria que ela ficasse animada. Já me decepcionei algumas vezes e entendo o quão ruim é.

Após nós afastarmos da biblioteca, Rebecca nos mostra algo roxo, quando ela abre sua mão, o artefato sobe e fica planando sobre sua pele, soltando faíscas também roxas. Demoro cinco segundos até lembrar de onde eu havia visto aquilo.

- Você roubou isso da biblioteca? - pergunto.

- Eu não roubei nada, quando passamos em frente correndo isso simplesmente se jogou em mim - ela diz. Eu e Bianca nos entreolhamos. - É sério.

Em uma forma de prova, Rebecca lança o objeto há alguns metros e, antes de tocar o solo, volta para sua mão. Ficamos espantados, mas temos certeza que aquilo seria de bom uso mais tarde.

Algo que Natan uma vez me falou me vem a mente e eu não consigo evitar sorrir.

A insistência é vista por muitos como birra, mas se formos olhar bem fundo, se alguém insiste com você, significa que ela precisa de você. Significa que entre bilhões, você foi o escolhido. Não é maneiro pensar isso? Que logo você seria o escolhido. Digo, olha o tanto de gente no mundo, e logo você.

Filhos do SolOnde histórias criam vida. Descubra agora