Meu pai já enfrentou várias batalhas épicas que hoje estão escritas no pergaminho de Davi. Ele era amado por todos, era o garoto da profecia desde que nasceu, serviu a todos quando adolescente, era impossível não gostar dele, mesmo sabendo que estava destinado a ser um vilão no final. Há duas maneiras de se tornar um deus: nascendo de um Titã ou por mérito, sendo o herói perfeito.
Meu pai foi o primeiro deus adolescente. Com dezessete anos se sentou ao lado dos outros deuses e com vinte foi denominado como comandante do Sol, por isso o nosso sobrenome. Com vinte e um se apaixonou e foi entre os vinte e quatro a trinta que eu e meus irmãos nascemos.
Com quarenta e quatro, decidiu abandonar o conselho celestial e finalmente, com quarenta e cinco, se rebelou contra a humanidade.
Sempre que é completado um ano a mais da morte de meus irmãos, eu os escuto o dia inteiro, não sei se é por conta da maldição ou se eu apenas sinto muita saudade. Ainda não superei a cena que eu havia visto.
- Você precisa cortar a garganta dele! - Rebecca grita, eu havia conseguido me apropriar da espada flamejante de duas lâminas, a única capaz de acabar com aquela história.
- Rebecca, é o nosso pai, eu não irei matá-lo - eu digo.
- Não seja covarde - ela responde. Rafael tira a espada de minha mão e me entrega seu arco.
- Você está com medo, Júnior. Eu tomo a frente - ele diz, seu corpo está suado. - Muitas vezes irão te chamar de covarde, mas somente você sabe o que você realmente é.
Ele corre e salta até o pescoço do nosso pai, mas é parado quando com um soco é arremessado para o nosso lado novamente. A espada se desliza até o meu pé.
- Rafael! - eu grito e vou até ele, seus olhos estão arregalados e ele mal consegue respirar.
Me viro para Bianca e Rebecca, dou um sinal e as duas assentem, correndo até Rafael para ajudá-lo.
- Você quem deve matá-lo - Natan diz, tirando o arco de minha mão e me entregando a espada. - Mas você não matará nosso pai, você matará um demônio.
- Por que eu?
- Porque eu tenho a tática perfeita. Vou correr pela esquerda e você o mata pela direita, não esqueça que deve ser na garganta - ele diz, seus olhos passam medo. - Um.
- Dois. - respondo.
Natan me abraça e em meu ouvido sussurra: Já.
Deixo ele correr primeiro, para distrair. Meu pai estava gigante, então assim que Natan foi pela esquerda, não o vi mais. Corro pela direita, com fé que conseguiria matá-lo.
A luta entre os dois estava intensa, mas eu só conseguia ver a fúria de meu pai. Pulo em seu ombro e passo a lâmina em sua garganta, ele me joga para o chão com suas últimas forças, ao lado de Rafael, que já estava melhor. Ele se vira para nós, Natan estava pendurado em um de seus braços, sangrando.
Rafael grita em resposta ao assassinato de nosso irmão, pega a espada de minha mão e corre em direção ao nosso pai, destinado a dar o golpe final. O deus do Sol grita mais alto e os três desaparecem em uma explosão luminosa.
Após o caos da explosão diminuir, percebemos que Rafael e Natan não estavam mais ali, nos sentamos e começamos a chorar, a única coisa que eu consigo repetir é "Eu já havia dado o golpe."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Filhos do Sol
FantasyApós anos sem se encontrarem, os filhos do Sol se sentem na obrigação de estarem juntos para enfrentar um dos piores monstros já visto.