Quando entrei na empresa e lembrei-me – pela trigésima vez só na última uma hora e meia – que Camila não estaria aqui, um desânimo percorreu o meu corpo novamente. Estava acostumada a chegar aqui e ela já estar pronta para me irritar ou provocar. Por mais meloso que isso acabe soando, isso deixava meu dia incompleto.
Sentei-me em minha cadeira e observei o computador que estava ligando, eu não precisaria passar a agenda do dia para ela e aquilo era tão estranho. Observei as pastas em cima da minha mesa que eu precisaria digitalizar e organizá-las por data. Eram várias, e eu sabia que aquilo levaria cerca de quatro dias para terminar. Animador, não?
Abri a primeira pasta e antes que eu pudesse começar a ler, meu celular tocou. Quando o nome de Camila apareceu na tela, não pude deixar de sorrir.
— Já está com saudades? — Eu disse quando atendi.
— De você? O tempo todo.
Sorri novamente feito uma idiota. Se Chris me visse assim, provavelmente me daria um tapa na cara para eu parar de sorrir desse jeito.
— Acho ótimo — Mordi o lábio.
— Você não está com saudades de mim, senhorita?
— Claro que sim. Morrendo.
Já podia ouvir Chris dizendo que todo esse açúcar o causaria diabetes. Meu irmão não era dos mais românticos, e por isso que sempre que eu falava de Camila, eram essas frases que eu escutava de sua boca.
— Acho ótimo — Ela disse no mesmo tom de voz que eu, me fazendo gargalhar — Tenho uma reunião muito chata hoje.
— Tenho vários papéis para organizar pelos próximos quatro dias, mais ou menos. Uma chatice.
— Prometo compensar quando eu voltar.
— Cobrarei com juros.
— Sinta-se a vontade.
Eu podia imaginá-la com aquele sorriso pervertido nos lábios, mordendo-os em seguida como sempre fazia involuntariamente quando dizia algo com conotação sexual para mim. Céus! Como eu podia estar sentindo tanta falta dela? Chegava a ser dramático a situação, e eu nunca fui assim.
— Preciso desligar, Lo. Tenho algumas coisas para fazer agora. De noite te ligo.
— Tudo bem, Camz. Até depois.
— Se cuida.
— Você também. Beijos.
Desliguei o celular voltei a focar naquele monte de papelada que eu precisava organizar.
×××××
Entrei na empresa após meu horário de almoço e subi de elevador até meu andar. Quando a porta se abriu, uma mulher de cabelos loiros estava sentada em uma das cadeiras de espera. Observei-a por alguns minutos e ficou careta, me perguntando quem seria. Camila não me disse nada sobre alguém vir aqui hoje. Por que a deixaram subir?
Sai do elevador e ela subiu o olhar até me olhar nos olhos. Então se levantou, ela era bem mais alta do que eu.
— Olá, sou Dianna. Você é? — Ela perguntou, totalmente séria.
— Sou Lauren. A secretária da Sra. Cabello. O que deseja? — Perguntei, indo até minha mesa e sentei em minha cadeira.
— Gostaria de ter uma conversa em particular com sua chefe. Já que ontem ela foi em minha casa de noite e não quis me ouvir.
Engoli seco. Ontem a noite eu estava com Camila, ela foi para a casa dessa mulher após me deixar em casa?
— Camila está viajando. Só volta na semana que vem. Quer deixar algum recado, para que quando ela volte possa entrar em contato com você? — Encarei-a.
— Então poderia avisar ela, por favor, que assim que voltar venha me procurar. Porque não hora de fazer ninguém reclamou, e eu vou atrás dos meus direitos, ela vai ter que assumir essa criança.
— Oi? — perguntei, sentindo um nó na garganta se formando aos poucos.
— Estou grávida, de um mês e meio. O filho é de Camila. E eu não vou aceitar que no sábado ela tenha ido em casa e feito amor comigo, para ontem simplesmente ir até minha casa dizendo que não queria mais nada e depois de quase transar comigo. — Dianna disse histérica e Lauren precisou se segurar para não chorar. Ela não podia fazer isso na frente dela, ninguém sabia sobre as duas.
— Certo, Dianna. Assim que Camila chegar, direi tudo a ela. — Sorri fraco e Dianna assentiu, limpando algumas lágrimas que começavam a cair.
— Obrigada, Lauren. Tenha uma boa tarde.
— Você também.
Ela se virou e caminhou até o elevador. Quando ela entrou e as portas se fecharam, não pude mais segurar as lágrimas.
Camila seria mãe. Oh, merda.
Meu coração estava apertado, e as palavras de Dianna ecoavam em minha cabeça. Sábado elas transaram, e ontem elas quase transaram. Ah, meu Deus.
Tudo o que eu queria era ir para casa, me trancar em meu quarto e chorar. Agora que as coisas estavam acontecendo, isso não podia estar acontecendo comigo. Porém, eu não podia sair dali, aquele era o meu trabalho e eu tinha horários a cumprir.
Talvez pelo motivo de eu querer ir embora, as horas pareciam não passar e quando finalmente deu o horário de ir embora, eu já estava a cinco minutos com tudo arrumado. Só queria ir para casa.
Quando estava na frente da empresa esperando o táxi que pedi, Camila me ligou, mas eu ignorei a chamada. Não queria falar com ela, não naquele momento.
Talvez eu nem tivesse motivos para me chatear, estávamos juntas desde domingo, tecnicamente. Antes disso eu não tinha nada certo com Camila.
Só que no dia do carro, após meu jantar com Zayn, ela pareceu tão chateada comigo, que era difícil acreditar que ela ainda estava transando com Dianna. Mas o que mais me pegou, foi a loira dizer que elas quase transaram na noite anterior. Antes ela estava comigo, tinha feito amor comigo e depois foi até a casa daquela mulher? Respirei fundo segurando as lágrimas mais uma vez e agradeci mentalmente quando o táxi parou.
Eu pude chorar durante todo o caminho, enquanto Camila continuava me ligando e mandando mensagens carinhosas.
Camz: Oi, meu amor. Não pode me atender?
Camz: Estou com saudades. Por que não me atende?
Camz: Lauren, aconteceu alguma coisa?
Camz: Já é a oitava ligação, Lauren. A última você realmente rejeitou. Por que está me ignorando?
Camz: Lo?
Desliguei o celular e joguei-o dentro da bolsa. Respirava fundo tentando cessar as lágrimas e a única pergunta que ecoava em minha cabeça era:
Será que eu tinha o direito de me sentir chateada com isso?

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Feelings
FanfictionLauren Jauregui. Uma garota de olhos verdes, sorriso encantador e inocência quase inacreditável para a idade dela, era o orgulho de seus pais. Frequentava a igreja todos os domingos, era voluntária de um orfanato, uma garota exemplar. Quando complet...