Capítulo 21

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Chris me olhou durante todo o jantar, ele tentava fazer contato visual comigo, mas eu só conseguia fixar meus olhos em meu prato e concordar algumas vezes com o que meus pais falavam apenas para fingir estar prestando atenção no que eles diziam. Na verdade, nem com fome eu estava, a única coisa que eu queria era deitar em minha cama e chorar um pouco mais e dormir até o dia seguinte. Que aliás, por sorte, eu não a veria.

Meu celular ainda estava desligado e eu não pretendia ligá-lo até o dia seguinte. Mas já imaginava que teria muitas mensagens e ligações de Camila que eu com certeza iria ignorar novamente.

Quando terminei de comer, pedi licença e subi até meu quarto, trancando a porta e me jogando em minha cama para voltar a chorar, abraçada com meu ursinho de pelúcia.

Seria muita sacanagem logo agora que eu assumi todos os sentimentos que tinha por Camila, uma mulher aparecer grávida dela. Será que era Deus me mostrando que eu realmente estava equivocada sobre Camila? Eu estava tão confusa, meu coração estava tão apertado.

Ouvi várias batidas na porta e me levantei para abri-la, dando de cara com Chris que me olhava sério. Seu celular estava em sua mão e ele estendeu-o em minha frente, mostrando que Camila estava na linha.

— Camila quer falar com você.

— Eu não quero falar com ela.

— Fale com ela, Lauren. Ela quer saber o que está acontecendo e eu também.

— Certo — Peguei o celular e encerrei a ligação. Entreguei o celular de volta para ele e me deitei novamente em minha cama confortável e quentinha.

Chris fechou a porta e a trancou, em seguida sentou-se na beirada da minha cama e me encarou por alguns minutos antes, parecendo procurar as palavras certas.

— Você poderia, por favor, me explicar por qual motivo não está querendo falar com Camila?

— Camila vai ser mãe. Uma mulher apareceu na empresa hoje dizendo que está grávida dela de um mês e meio, que não aceitava que fosse abandonada justo naquele momento e que na noite passada, Camila foi até a casa dela e após quase transarem ela disse que não queria ter mais nada com ela e foi embora, antes que ela pudesse contar, pelo jeito. Detalhe, antes Camila estava comigo em um jantar e depois fodemos no carro dela.  — Eu disse, fungando.

— Ok, e por isso você decidiu simplesmente ignorá-la? Sem ao menos questioná-la antes sobre isso?

— O que você quer que eu pergunte, Christopher? Se foi bom para ela? Ou se ela está feliz que um herdeiro está a caminho?

— Porra, Lauren! — Ele controlou o tom de voz para não gritar — Camila nem sabe o que está acontecendo. Ela está preocupada e tentando entender o que aconteceu, você tem o direito de estar chateada, mesmo que na época que essa mulher engravidou vocês não estavam juntas, não é mesmo? E outra, você ao menos deveria escutar Camila, ela com certeza deve ter algo a dizer sobre esse assunto, não acha? Se você vai querer acreditar ou não, é outro assunto. Mas, na minha humilde opinião, o mínimo que você deveria fazer é conversar com ela. Não seja infantil, Lauren.

— Não quero falar com ela agora. — Abracei meu ursinho novamente e respirei fundo, tentando, inutilmente, parar de chorar.

— Você pode falar com ela amanhã. Apenas fale com ela, e escute o que ela tem a dizer. É o mínimo.

— Tudo bem. Amanhã eu vejo isso — Passei a mão por meu rosto — Você pode, por favor, me deixar sozinha?

— Tudo bem. Boa noite. Durma bem — Ele beijou minha testa e saiu do quarto, fechando a porta.

Apesar de não estar muito disposta a ouvir, eu seguiria o conselho de Chris.

×××××

Quando cheguei na empresa na manhã seguinte, estava mais frio que o normal e parecia que eu ia congelar. Subi até meu andar de elevador já sentindo meu corpo aquecendo aos poucos porque a empresa era climatizada e isso era ótimo.

Fui até minha mesa e me sentei, ligando o computador e já pegando as pastas de dentro da gaveta.

Coloquei minha bolsa sobre a mesa e tirei meu celular dela, ligando-o em seguida. Várias notificações de mensagens e ligações de Camila apareceram na tela e eu respirei fundo, lembrando de todas as palavras de Chris na noite anterior.

Eu não precisava acreditar, apenas ouvi-la. Era o mínimo.

Disquei seu número rapidamente e me senti nervosa quando começou a chamar. Balancei minhas pernas e mordi meu lábio. Na quinta chamada, ela atendeu.

— Alô? — Sua voz era de sono. Merda, esqueci que ela poderia não estar acordada nesse horário.

— Camila — Eu disse e a ouvi pigarreando.

— Meu Deus, Lauren, por que não me atendeu ontem? Eu te liguei tanto, mandei tantas mensagens. Seu irmão disse que você estava chateada e não queria falar comigo, mas não me disse o motivo. Por Deus, Lauren! O que aconteceu? — Ela dizia rapidamente e eu podia sentir medo em sua voz.

— Ontem — Respirei fundo, tentando não chorar novamente como todas as vezes que eu pensava nisso — Uma mulher veio aqui, se chama Dianna, ela me disse que está grávida de você há um mês e meio. E que anteontem, você foi até a casa dela, vocês quase transaram e você terminou tudo com ela. Doeu, Camila. Aquilo doeu. — Suspirei.

Um silêncio perturbador se instalou na linha e eu até pensei em desligar. Quem cala consente, não é?

— Lauren — Ela suspirou — Não tem como...

— Como que não tem como? — A interrompi.

— Dá para me deixar falar, por favor? — Ela pediu impaciente.

— Tá — Sussurrei.

— Eu realmente transava com Dianna, mas nunca foi nada além de sexo. No sábado eu fui até a casa dela e antes que pudesse acontecer alguma coisa, você me mandou mensagem dizendo que iríamos sair. Então, eu dei uma desculpa e fui embora, mesmo estando muito chateada com você. Anteontem, eu realmente fui até a casa dela, mas para terminar tudo, eu disse que tinha uma outra pessoa que eu estava me apaixonando e ela não aceitou muito bem, tentou me beijar, mas eu não quis e fui embora.

— E sobre a gravidez? — Perguntei e pude ouvir Camila suspirando.

— Eu não posso ser a mãe do filho dela, porque não posso ter filhos, sou infértil, Lauren. Entretanto, ninguém sabe, nem meus pais. Se não quiser acreditar em mim, apenas espere eu voltar e te mostrarei meu exame.

— Camila… — Eu disse, respirando fundo.

— Eu não te julgo, se fosse comigo também ficaria chateada e pensaria mil e uma coisas. A única coisa que eu não faria era ignorar suas ligações, eu tentaria tirar isso a limpo o mais rápido possível. Você simplesmente virou a cara e não me explicou o que estava acontecendo, e isso me deixou mal. Não consegui dormir direito a noite e minha cabeça está doendo tanto.

— Me desculpe — Sussurrei.

— Está tudo bem. Tenho uma reunião daqui a uma hora e preciso ir. Quando eu voltar de viagem conversamos, ok? — Ela estava chateada e eu entendia seus motivos. Mas ela também sabia dos meus motivos para ter ficado daquele jeito.

— Tudo bem. Se cuida.

— Se cuida também.

Desliguei o celular, respirei fundo e passei a mão por meu rosto. Como as coisas ficariam agora?

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