Capítulo 28

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Chego em casa após mais uma "reunião de trabalho" com Camila. Dessa vez ela me buscou de tarde para irmos até a casa que ela ia para relaxar na cidade vizinha. Me encantei com a tarde que tivemos, em meio a carícias e conversas gostosas. Ainda me sentia surpresa com todo bem que ela me fazia, cada vez mais me sentia apaixonada. 

Quando abro a porta, encontro minha mãe sentada no sofá com um envelope aberto na mão. 

— Oi, mãe — digo sorrindo, mas ele morre assim que percebo que ela está estática. 

Clara continua olhando para o que ela tem não mão e só então percebo ser fotos. Franzo o cenho tentando enxergar que fotos são aquelas. O que está acontecendo?

— Mãe, tá tudo bem? — me aproximo devagar até conseguir enxergar o que ela tem em mãos. Meu coração parece parar por um instante e eu engulo seco. Merda, merda, merda. 

Ela finalmente me olha e eu não reconheço seu olhar, acho que nunca a vi desse jeito antes. Sei que estamos sozinhas em casa e isso me preocupa ainda mais.

— Você pode me explicar — ela se levanta do sofá e se aproxima — que porra é essa aqui, Lauren? — ela joga o conteúdo em suas mãos em mim e as fotos caem espalhadas pelo chão. 

São várias fotos nossas, nos beijando, nos abraçando, em jantares e até mesmo nos despedindo em frente a casa dela. Quem tirou essas fotos era profissional porque nunca percebemos nenhuma movimentação suspeita ao nosso redor. 

Sempre me preocupei em como minha mãe descobriria sobre meu relacionamento com Camila, mas confesso que nunca passou pela minha cabeça que alguém mandaria fotos nossas para ela, acho que nunca esperei algo tão baixo vindo de alguém. Naquele momento, as palavras simplesmente sumiram e eu tentava abrir a boca para dizer algo, mas nada saía. 

— Não vai dizer nada, Lauren? Dizer que é mentira você não pode, as provas estão bem explícitas. — parecia ter ainda mais raiva em sua voz.

— Nós estamos juntas, mãe.

— Essa filha da puta quis abusar de você! Ela quis encher sua cabeça de merda e pelo visto conseguiu, não foi? — ela me olhava atentamente e se aproximou mais. 

— Pare de falar besteira! — pedi — Ela não abusou de ninguém, acho que já estou na idade de saber o que quero, não acha? Ela não me ameaçou com uma arma para ficar com ela, foi eu quem quis. 

— Não faz sentido nenhum, Lauren! Você sempre gostou de homens. Nunca deu indícios de ser sapatão. — em seguida, ela abaixou o tom de voz — Meu Deus, onde foi que eu errei? 

— Eu nunca imaginei que um dia me apaixonaria por uma mulher, mas aconteceu. O sentimento que tenho por ela é recíproco e nós fazemos bem uma a outra, simples assim

Minha mãe solta uma risada debochada, como se eu tivesse acabado de contar algo absurdo.

— Apaixonada? Meu Deus, Lauren! Ela definitivamente corroeu seu cérebro. 

— Por que você está falando como se eu fosse uma pessoa manipulável? 

— Porque você é, minha filha. Não entende nada vida e se sente dona do próprio nariz só porque arranjou um emprego que… — a interrompi, magoada pelo jeito que ela me vê. 

— Você está se escutando? — questiono e franzi o cenho — Eu e Camila estamos juntas, namorando. Eu quero me casar com ela e já planejamos nosso futuro juntas. 

— Você só pode estar maluca… — ela conclui. 

— Essa é a realidade, só basta você enxergar. Não estamos lidando com uma criança inocente, eu já sou maior de idade, tenho certeza do que quero e quem eu quero é Camila. Espero que você possa me apoiar, apesar de estar assustada com o que viu. 

— Eu não vou aceitar, Lauren. Camila é uma aberração! Que mulher nasce com um pênis? É isso! — ela sorri como se tivesse descoberto algo incrível — ela só pode ser do demônio, é por isso que você está parecendo cega por ela. Você deve ter sido possuída! Vou te levar para o pastor e… 

Suas palavras me dilaceram por dentro e agradeço por Camila não estar aqui ouvindo tanta crueldade. Não é possível que minha mãe seja tão cega assim e só aceite enxergar o que convém. 

— Chega! — grito, cansada de ouvir besteiras —  Não acredito que você esteja falando tantas besteiras. Pare para se ouvir um pouco! Você não sabe do que está falando. 

— Lauren, se for para você ficar com ela, então não posso te aceitar mais nessa casa! — ela me ameaça e eu a olho incrédula mais uma vez, mas sei que não vale a pena discutir. 

— Eu vou pegar minhas coisa e vou sair. — antes que eu me virasse para subir até meu quarto, ela segura meu braço. 

— Não vai levar nada daqui, nada foi comprado com o seu dinheiro. Se você quiser ir embora, vai ter que ir somente com a roupa do corpo. 

— Certo. Então, tchau. — puxo meu braço para fugir de seu toque. 

— Espero que um dia você veja o quão ingrata está sendo com sua mãe que só quer seu bem. 

A encaro e nego com a cabeça. 

— Não, mãe. Na verdade, estou vendo isso como uma libertação. Estou livre do seu controle, finalmente… — sinto um tapa em minha cara e o ardor em seguida. Levo minha mão até onde fui atingida e acaricio, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. 

— Sua vadia ingrata! — ela me xinga e eu definitivamente não consigo mais enxergar aquela mulher como minha mãe. 

— Que Deus te perdoe, porque eu não sei se um dia poderei. — digo com a voz embargada e saio o mais rápido que posso dali, para minha sorte Chris está estacionando o carro em frente de casa e eu entro desesperada em seu carro, enquanto ele tenta me acalmar para entender o que está acontecendo. 

A única coisa que peço é para que me tire dali e me leve para a casa de Camila. Meu corpo inteiro tremia e eu chorei copiosamente, sentindo meu rosto arder, meu coração doer e um gosto amargo em minha boca. 

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