Anne (revisão)

Capítulo 10 - Rosas Murcham

60 minutos. Esse é o tempo em que ela está na cirurgia. Mas para mim, parecem 500.

Tudo ainda está vívido em todos os sentidos. Ainda ouço o choro baixo, e as rodas em atrito contra o chão, deslizando.

As lagrimas ainda enfeitam a minha blusa, depois de limpar as órbitas assustadas de minha irmãzinha.

Podia sentir o macio de sua mão, quando envolvi suas pequenas com as minhas, e ela agarrava com forças a flor de guardanapo.

O único barulho no corredor tão branco quanto o nada, eram minhas botas batendo apreensivas e impacientes no piso. Acho que as marcas da borracha preta deixarão as faxineiras irritadas.

Preciso vê-la rápido, e também contar-lhe do incidente. Logo tiro essa ideia absurda da cabeça, e decido abrir a boca só quando ela se recuperar da cirurgia.

Meu coração é um turbilhão de sentimentos, mal sei se ele se encontra dentro do meu peito, na minha garganta, ou na minha frente, já fora de mim, porém invisível. Não suportaria que nada desse errado, por tudo, não aguentaria.

Começo a vasculhar meus bolsos atrás de um cigarro, velho costume de quando fico apreensiva, porém só acho mais um guardanapo. Esse, porém, escrito. Uma caligrafia garrancho de primário.

"Minha imãzana.."

Rio com da tentativa dela de escrever Irmãzona.

"Sei que você ficou muito triste quando sua mamãe falou com você e que eu não consegui te ajudar, imazãna
Não tive coragem de te falar de verdade então desculpa tá? Porfavor não ache o bilhetinho enquanto eu estiver do seu lado ou vou morrer de vergonha.."

Continuo sorrindo com olhos marejados a tentativa dela de escrever algo, quase totalmente sem pontuação e sentido.

"..Eu te amo, e então quero que se preocupe mais com a imazãna do que com a Rose, certo?"

Na parte de trás do bilhete embolado, tinha um desenho. Duas bonequinhas de mãos dadas, e várias florzinhas saindo de uma grama de risquinhos.

Acho que foi a carta maia bonita que me mandaram, levando em compensação que só me mandam contas, multas, e cartas ofensivas com ameças de morte, mas isso é o de menos.