Daise sempre achou fascinante passear pela Fábrica de sua família, era um lugar amplo com homens trabalhando velozmente e uma produção que só tendia a crescer. Um cheiro pungente preenchia o ar misturado ao suor dos trabalhadores, enquanto o barulho de máquinas a vapor e dos martelos era enervante.
Apesar de achar tudo aquilo de certa forma belo, ela nunca teve interesse de se aprofundar nos negócios, afinal, passava tantas horas na companhia de sua preceptora aprendendo línguas, bordar, costurar e tocar instrumentos que não sobrava ânimo nenhum para se dedicar aquilo, mesmo sabendo que seu pai adoraria ensiná-la (por mais escandaloso que isso pudesse parecer).
Ao contrário de seu pai, seu irmão não gostava muito que ela fosse até a Fábrica, vivia repetindo que não era lugar apropriado para uma dama, mas sempre que ela está lá fazia questão de acompanhá-la de maneira atenciosa explicando cada coisa que a garota perguntava.
Era uma sexta feira qualquer e Daise estava a caminho da casa de sua melhor amiga Laura Rogers. Laura dizia ter visto belos tecidos na modista e queria muito que Daise a acompanhasse para escolher o melhor modelo de vestido para o baile na casa dos Langhebutons. Mas enquanto passava por uma ruela próxima a fábrica ela pediu ao cocheiro que mudasse o rumo do cabriolé.
E lá estava subindo as escadas que levavam ao escritório privativo de seu querido pai. Ela adorava visita-lo, embora não o fizesse com a frequência desejada, por outro lado seu pai adorava recebê-la. Sempre que a via seu rosto se iluminava com uma felicidade genuína.
Desde que a mãe da garota morrera no parto de um irmão natimorto, ela era a princesinha de seu pai e de seus irmãos. Muitos consideravam que esse apego do pai era devido ao fato de que Daise parecia muito com a mãe por seus cabelos loiros, o rosto pequeno com maçãs proeminentes.
Outros contrapunham que isso não dizia nada pois sua pele, parecia com a do pai em um tom mais dourado e tinham os mesmos olhos escuros. Independe da opinião, o certo era que Daise era a única, dentre os 3 filhos do casal, que guardava certa semelhança com a falecida condessa e isso chamava a atenção das más línguas.
Petrarque, o Conde de Mandsor amava a esposa com completa fascinação. Eles tiveram um casamento arranjado que contrariando todas as expectativas havia sido harmonioso, mesmo que todos soubessem que a condessa não correspondia aos sentimentos devotados do marido.
A falecida condessa teve muito medo quando descobriu que seus pais haviam combinado o casamento com Petrarque que era pelo menos 20 anos mais velho, porém teve uma agradável surpresa quando ele cumpriu todas as promessas que lhe fez no altar e a amou com devoção óbvia.
Elizabeth fora feliz. Teve 3 filhos saudáveis, era gentil, solicita, de sorriso fácil e cativante e conseguia tudo que desejava , já que o marido se empenhava para lhe agradar de todas as formas.
A morte dela e do bebê foi um choque grande para toda a família, mas Daise não se lembrava bem pois só tinha 3 anos na época, mas todos sempre repetiam aquela mesma história.
Apesar de ser tratada como a princesinha de todos Daise não tornou-se uma garota frívola, pelo contrário, seu temperamento era dócil e discreto, além de ser sorridente e gentil com todos independente da classe social. O pai em muito se orgulhava dela o que no começo gerou ciúme dos irmãos, mas logo foi dissipado, era impossível ter qualquer ressentimento contra uma garota tão simpática.
Daise chegou ao último degrau da escada e esperou seu irmão que havia parado para conversar com um funcionário e vinha logo atrás. Ela aproveitou para olhar a fábrica do alto, o lugar se perdia de vista de tão grande e era ainda mais magnífico apesar de sujo e austero. Existia beleza no carvão, no tom cinza das paredes e na capacidade de transformar a matéria prima em coisas extraordinárias.
Logo Austen a alcançou e ofereceu-lhe o braço que ela prontamente aceitou desviando seu olhar encantado para o corredor estreito e ambos seguiram com uma conversa agradável sobre a viagem que fariam a Paris na semana seguinte e os lugares que pretendiam visitar em sua estada. Assim que chegaram à porta do escritório Austen bateu e esperou que seu pai permitisse a entrada deles.
Assim que a voz rouca e abafada permitiu, eles entraram.
Petrarque era um senhor roliço, com uma pele dourada que parecia sempre coberta com gotículas de suor, ele era calvo, mas tinha grandes costeletas e uma barba avantajada completamente branca, usava um terno de 3 peças discreto e uma bengala de ouro cravejada de pedras preciosas. Era alto, grande e pesado e tinha o sorriso mais acolhedor de todos.
Daise não pode deixar de pensar que o pai parecia ainda mais imponente no pequeno escritório onde comandava seu império. Assim que a viu ele abriu o mais esplendoroso dos sorrisos e abriu os braços para um abraço.
Ela, animada, soltou o braço de Austen e se apreçou para retribuir o abraço sem nem pensar nas regras de etiqueta.
— Que bela surpresa minha querida, não sabia que viria me visitar — comentou quando a garota se afastou um pouco.
— Estava indo até a casa da Srta. Rogers para acompanha-la a modista quando pensei que poderia escapar por uns instantes para vê-lo — informou e só então viu que seu pai não estava sozinho. A garota corou quando se deu conta de sua postura impulsiva e deixou as costas reta e o queixo erguido.
— Fico contente que esteja aqui, agora deixe-me apresentar o Sr. Trevor, ele é o nosso novo sócio na Fábrica. — informou apontando para o rapaz alto, de cabelos negros que tocavam os ombros, olhar astuto e postura austera — Sr. Trevor, essa é minha pequena Lady Snow
Tentando resgatar um pouco de sua dignidade, Daise cumprimentou-o com uma pequena mesura ao que ele retribuiu de maneira discreta. A garota não podia negar o quanto aquele homem era bonito.
Conforme os segundos passavam e ela podia absorver mais de sua imagem mais se encantava. Ele tinha uma postura austera, mas também reparou que tinha um quê de relaxamento que lhe conferia um ar zombaria, era como se o tempo todo estivesse rindo de uma piada que apenas ele conhecia.
Seus olhos eram escuros como a noite, mas possuíam um brilho incomum, sua boca parecia perfeita para sorrisos, mas Daise suspeitou que ele não era muito sorridente. A pele era de um tom de oliva escuro que fê-la imaginar que ele fizesse muitos trabalhos braçais ao sol o que por sua vez a levou a imaginar o físico que se escondia por detrás do terno bem alinhado.
Ela corou com o rumo de seus pensamentos e se repreendeu por desejar vê-lo sem aquele terno atrapalhando, não era de seu feitio pensar assim e céu! Ela nunca havia nem mesmo beijado um homem!
Em suma, concluiu que ele era um belo espécime do sexo masculino, mas que não podia se aprofundar nessas ideias, por mais que visse algo de selvagem brilhando sobre aquela fachada polida.
— Sinto muito ter que partir agora, mas existem alguns assuntos que requerem minha presença — informou e foi dispensado por Petrarque que agora só tinha olhos para sua filha.
Daise só conseguia pensar em como a voz dele poderia soar tão baixa e clara ao mesmo tempo, era como se tomasse de assalto todo o ambiente e o tornasse cativo de seus atrativos. Ela, porém, tentou novamente se conter e manteve uma aparência de neutralidade enquanto ele se retirava.
A conversa com seu pai logo tomou o foco de suas atenções e incluiu Austen também. Eles planejavam a viagem de maneira animada e antes de sair, pois não queria deixar Laura esperar, ela o viu pela última vez. Ele estava entrando em um coche de aluguel, não tinha uma cartola ou uma bengala, nem mesmo luvas ela reparou horrorizada ante a visão daquela mão morena, grande e de dedos compridos.
Balançou a cabeça enquanto ele fechava a porta de seu coche e seguia rua acima sem nem mesmo reparar na existência da garota que o admirava encantada.
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Peço desculpas caso encontrem algum erro gramatical, ainda estou em processo de escrita/revisão. Espero muito que tenham gostado de conhecer nosso futuro casal , semana que vem teremos capítulo novo e está bem quente kkkkk obrigada por lerem até aqui,
Com amor.
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Querido Sr. Trevor
RomantizmQuando Daise conhece Vincent, o novo sócio do seu pai, ela se encanta. Mas os anos passam, muitas coisas mudam até que eles se reencontrem, 4 anos depois na propriedade de sua família no campo. O encontro é arrebatador para ambos, mas dessa vez, Dai...