𝕋𝕖𝕞𝕡𝕠𝕣𝕖 𝔹𝕖𝕝𝕝𝕚

biblioteca

"aproveitar, tenho que aproveitar."

Saturno repetia isso em sua cabeça enquanto andava pela escola, ele estava procurando um lugar tranquilo para escrever, mas em todo lugar que ele olhava tinha pessoas conversando e rindo, tanto barulho... Até que encontrou em um lugar escondido uma porta preta que tinha uma placa escrito "a biblioteca" e decidiu entrar.

A biblioteca era um lugar pequeno no segundo andar do prédio, um cômodo com estantes bagunçadas e livros empilhados do lado delas, tinha um cheiro de livros velhos e terra molhada, um cheiro bom de terra molhada. E no canto do cômodo havia 2 mesas que ficavam na frente de 2 janelas.

As janelas que cobriam quase toda a parede e davam destaque para a sacada, onde havia mais duas mesas.

Saturno já se sentia confortável naquele lugar. Ele fechou a porta e foi entrando sem fazer nenhum barulho. Só o que conseguia ouvir era os pássaros, os alunos que pareciam distantes daquela realidade e algum barulho que parecia uma cachoeira.

Ele passou pelas estantes bagunçadas e amarrotadas de livros, ele encontrou bonequinhos e papéis soltos escritos à mão, achou algumas prateleiras com livros empoeirados, outros limpos e alguns  só tinham lugares limpos em formato de dedos. Livros famosos e livros que alguns estudantes escreviam e lá deixavam.

Sonhos deixados em páginas bem escritas, sonhos que foram deixados para trás junto com a poeira por algum aluno antigo. Saturno sentia todos esses sonhos ali mesmo, sentia a energia de todas as vidas que passaram por lá.

Ele pega um livro que foi feito à mão e continua olhando para as coisas. "O nosso oceano é laranja." Era o que estava escrito na capa.

Olha para o teto e vê alguns desenhos e papéis colados, algumas carinhas alegres, frases motivacionais e muitos papéis colados.

Cada detalhe daquele lugar fazia Saturno se sentir mais humano, o fazia esquecer que era um ser imortal. Ele era só um estudante fascinado pelos livros, encantado pelos detalhes que eram minimamente perfeitos.

–Aproveitar né...

A divindade vai até a sacada e fica do lado da mesa que estava na direita, um vento suave encontra seu rosto que está nocauteado pela vista da sacada. Ele fica um tempo observando a paisagem para depois tentar sentar no banco.

–Ai!!- diz ele com uma careta colocando rapidamente a ponta do dedo na boca– Isso está quente!?!– a criatura divina ainda  estava descobrindo novas sensações e sentimentos nesse mundo. Coloca a mão novamente no banco e desiste de tentar sentar ali. O banco estava quente demais por cauda do Sol.

Pensa em recorrer a mesa do lado esquerdo que tem um ser com a cabeça apoiada na mesa e os braços cobrindo seu rosto, porém acha melhor não incomodar o menino que aparentava estar dormindo tão bem.

Saturno coloca suas coisas no chão e decide sentar ali mesmo. Coloca seu livro no colo e tira o celular do bolso para colocar uma música. Quando liga o celular conseguimos ver 1 mensagens de um número desconhecido, 14 do grupo da escola, 3 do grupo de patinação e tênis, 12 do grupo da "família" e 45 de Lua. Ele passa rápido por algumas mensagens, outras ele lê rapidamente e só para em 2.

"Não é nada demais, nem é com você... Só quero que m--" número desconhecido.

"Vocês podem escolher a dupla para is--" grupo da escola

"Ok, Ulisses entrou no grupo, agora podemos marcar o dia para vermos o seu desempenho." Grupo de patinação e tênis. (Ele ainda se pergunta o motivo do clube só ter os dois esportes em específico).

"Terra ainda não apareceu, vocês tem alguma ide---" grupo da 'família'

E as mensagens de Lua, onde as primeiras eram: Meu lindo, você pode mandar sua localização? Estou na área B4. e acho que sei quem é o guerreiro (tenho sorte meu bem, bjs😘)

Já não mensagem 29:
"Acho ótimo você estar vivendo na sua, mas VOCÊ pode me mandar algum SINAL? MORREU CARALHO?"

E a penúltima: "Sua sobra espacial vc pode me responder? Juro, se eu descobrir que vc n está me respondendo por causa de algum humano eu te mato."

E a última: "bjs, amei a ligação de ontem❤️🥰 e o nome dela é Melissa."

Saturno só abre a conversa da Lua e responde ela com um  "Tá." E depois escreve "quase me queimei em um banco, n sabia q isso poderia acontecer."

Saturno coloca uma música, deixa o celular de lado e começa a escrever. Não se sabe direito o que ele começa a escrever, porém ele é muito bom.

   Quente...

Uma cor quente;
Azul é uma das cores mais quentes que eu já vi;
Ele queima seu pulmão com a cor de sua água e te faz pensar pela primeira vez em si.

Não importa o resto, só importa o que você vê no quente do azul e no frio do laranja.

Azul está em muitos lugares e com isso ele se esbanja;
Mas o laranja te rasga e te mancha;
Toda essa vida sem cor é colocada em criatividade e em um grito desesperado de dor.
Pois o azul nunca irá saber o que é o amor.

Saturno para de escrever e fica olhando para a palavra "saber" e para a palavra "vida", mas a palavra que ele mais caprichou em escrever foi amor, mesmo sem perceber foi a mais bem feita.

–Eu não deveria viver aqui... Estou no lugar de alguém que só pode viver essa vida...

O sinal toca, o recreio acabou. E quando ele está se levantando para voltar a aula, o olhar dele se encontra com o do garoto que estava dormindo. Aquiles.

– Você escreve? – diz o garoto que agora está com um curativo na maçã do rosto– eu ouvi...

– Eu tento, mas tudo parece sem vida, acho que é por causa que nunca vivi isso.

– Ah!...Algum dia você vive, a vida é isso né?– Aquiles fala se levantando– Eu vou indo. Até Ulisses, não esquece do clube amanhã!

"Não sei se é melhor me aproximar dele ou me afastar." Saturno pensa voltando para a biblioteca e esquecendo de devolver o livro que pegara.

–Algum dia vou arrumar esse lugar.

Diz fechando a porta da biblioteca e indo para a aula.

A biblioteca, o banco quente, a facilidade que foi falar com o garoto loiro. Tudo isso é muito novo para Saturno e ele ainda não entendia algumas coisas, só sentia que estava gostando. A curiosidade sempre deu a mão para ele.