família?

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— Alô e por que chamada de vídeo?
— Queria ver seu rostinho lindo. E você não veio na minha casa.— Era Lua do outro lado da ligação, dava para ver ela deitada em uma cama preta com uma coberta bege quase para o branco. Tudo era muito refinado.

— Onde foi parar o "tudo bem e você?"?— Diz Saturno guardando uma harpa dourada e algumas tintas.— Eu vou para a escola daqui a pouco.

— Eu quero te falar uma coisa Ulisses.

— Saturno por favor minha querida Ariel.

— Pelo menos eu gosto do meu nome de mortal.

— Ariel, teve pessoas que ficaram cochichando de você, e ficaram se perguntando "O que esse ser humano maravilhoso era". — o deus conta fazendo aspas com uma mão enquanto está indo para a cozinha e pegando dois potes, um azul e uma verde água.— Como eu explico para aqueles mortais sem eu explodir a cabeça oca deles?

— Fala que deuses não tem gênero, só se eles decidirem ter. Brincadeira. Fala que eu não ligo para qual eu sou. Odeio que me definam.

— entendi. Legal.

— Agora me escuta. Eu vou me contradizer, porém, sei que tudo isso é novo para você. E não revire os seus olhos assim. Continuando, não deixe esses devaneios te levarem e fazer você esquecer o verdadeiro motivo de estar aqui. O tempo é curto e passa rápido. Quero que você aproveite, porém, precisamos do segundo guerreiro. É melhor para eles, vai ser melhor para eles. Entende?— Lua sabia que ele estava escondendo algo dela, só precisava de uma dica do que era.

— Se acharmos eles... Nós vamos sair daqui e voltar a ser os deuses do passado? Mas quanto à Terra? Ela desaparec--.

— Bem... Talvez.— Lua fala pensando que Saturno quer voltar como era antes.

Agora um barulho de campainha tocou do lado da linha de Lua.
— Penso que você não gostou dessa vida né? Desculpa-me, iremos resolver isso.

—Nã--

— Desculpa por isso, vou desligar até mais — Agora parecia que ela estava com pressa.

Saturno fala para ele mesmo:
— Essa foi a ligação mais aleatória do mundo.

O deus ficou a remoer a ligação o dia todo, mal conseguiu fazer sua lição e seu projeto.

Aquiles percebeu isso e o convidou para ir até à casa dele. Não gostava de vê-lo quieto daquele jeito.
Já era tarde quando saíram da escola.

— Uma nova aluna?

— Liv. A professora Slava quer que ela faça parte do nosso grupo.

— Mas... Por quê?...

Saturno e Aquiles estavam andando sobre uma rua feita de paralelepípedos que eram coloridos, mas com o tempo se tornaram vários tons de cinzas. Tinha árvores de cerejeiras de um lado da rua e do outro havia algumas casas e um céu começando a anoitecer.

— Você... Bem... Não consegue se comunicar com outras pessoas, nem eu sei como conseguimos nos tornar amigos. Parece que você começou a viver nesse mundo agora.

Saturno sempre percebeu que Aquiles tinha uma voz doce e tranquila, era como uma mãe fazendo carinho na cabeça de seu filho, e com isso, as verdades que ele falava saíam mais leves e boas de ouvir. 

A voz de Aquiles o trazia paz e conforto coisas que humanos jamais iriam trazer para Saturno. Isso era contraditório e isso fazia Saturno se sentir um hipócrita. Por que só Aquiles consegue fazer ele se sentir assim? Por que Aquiles faz ele se sentir assim?

Saturno olha para o céu que está lindamente estrelado e fala com um sorriso de canto:

— Também acho isso... Gosto de como você fala.

— Desculpa... Ah! Já sei. Vamos lá, como você descreveria as árvores de cerejeira?

O deus sem entender olhou para as árvores, Aquiles observava as árvores e Saturno com os olhos brilhando. Depois de alguns segundos o deus começou a falar:

— As árvores são tão delicadas e a passagem ao todo tem tantos detalhes que nem o melhor escritor conseguiria descrevê-las e nem o melhor pintor conseguiria pinta-las e se pintasse, faltariam tantos detalhes que a pintura seria considerada um rascunho da verdadeira beleza que esse local transmite.

Depois dele falar olha para o menino loiro que colocou a mão na boca pensativo:

— Muito bem... Eu não sei o que falar... Uau!

Saturno sentiu algumas batidas de seu coração mais forte. Aquiles continuou a falar:

— Agora fala do céu.

— Hmm... O céu está particularmente estrelado, tão estrelado que o breu da noite virou um mero detalhe e se olhar para o norte você irá ver nuvens de chuva vindo para cá. Então percebi que estou andando em encontro ao por do Sol.

— Você já pode escrever um livro de romance... Tipo você é demais. Agora eu quero ouvir como você me vê.— Fala Aquiles parando de andar, indo na frente de Saturno e colocando a mão nos ombros macios da divindade.

 A diferença de tamanho deles é notável, porém isso não afetava o jeito que os olhos grandes e curioso de Aquiles encontravam Saturno.

— Bem... É… Hmm... Calma. Vamos andando e então eu falo.

— Ok. No seu tempo.

Após caminharem um pouco a divindade começa:

— Um garoto com os cabelos dourados e macios, se ele alisasse seus fios ondulados bateriam em seu ombro, uma pele macia de porcelana, com as pontas de seu nariz e de suas maçãs do rosto vermelhas rubis. Seus olhos pareciam duas pedras preciosas que emitiam conforto, juventude e curiosidade. Seus olhos guardavam tudo o que era de bom assim como sua personalidade.

— Caralho...

"Ele fala esse tipo de coisa? ELE?" Saturno pensou. 

Saturno leu em alguns livros que nesse tipo de situação os personagens ficam nervosos e com o rosto corado, sentem o coração palpitando mais forte e a barriga com borboletas. Porém, não sentia nada disso. Só sentia uma ansiedade insana para ouvir a voz do garoto que ele acabara de descrever. Queria ouvir Aquiles falando. Porém, não sentia vergonha, seu rosto ardendo e nem nada disso.

Os dois atravessaram a rua e estavam descendo uma rua meio ingrime e estreita. O menino loiro limpou a garganta e recitou:

— Você é um belo escritor, gosto disso em você.

— Ma--

— Chegamos a minha casa, quer entrar? Minha tia não está hoje.— fala ele com um tom de empolgação e alívio.— entre, vai chover.

Eles estavam entrando e indo para o quarto de Aquiles quando ouviram um grito vindo da sala de sua casa.

— AQUILES! 

E antes de pensarem em algo uma mulher apareceu. Tinha sardas e cabelos cor de fogo encaracolado, estatura media e olhos castanhos. 

— Oi! Tia.— Aquiles falou com uma voz trêmula. Saturno sentiu o ar pesando e o desespero no rosto de Aquiles.

𝕋𝕖𝕞𝕡𝕠𝕣𝕖 𝔹𝕖𝕝𝕝𝕚Onde histórias criam vida. Descubra agora