As piores verdades são aquelas que você esconde por ouvir seu coração.

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Tudo o que ele queria agora era tirar Aquiles dessa situação. Saturno sentiu Aquiles estremecer quando viu a mulher com um vestido azul nas mãos.

— Quem é esse moleque?

— Prazer, meu nome é Sa-Ulisses.— Ele esticou a mão para cumprimentar, porém, a tia de Aquiles não tirou os olhos de seu sobrinho.

— É seu namoradinho, seu anormal de merda?

— Não! E se fosse?

— Agora eu entendi o motivo de sua mãe ter te mandado para cá. VOCÊ É DOENTE! Você não ama sua família né seu egoísta?

Saturno estava perdido, porém, seu ódio aumentava a cada palavra que saia daquela mulher, até que sentiu a mão de Aquiles em seu braço.

— Do que a senhora está falando?— diz o menino que estava prestes a chorar.

— Você me traiu, você me traiu. Era para ser só sua família aqui. VOCÊ ME TRAIU!!

— O que está acontecendo aqui?— Saturno cochicha.

— É melhor você ir embora.— Aquiles fala segurando o braço de Saturno com tanta força. Ele fala uma coisa, porém quer outra.— Vou levar ele até a porta.– Diz agora para sua tia.

— Quero ter uma conversa depois com você seu egoísta!

Eles descem devagar as escadas e vão até o portão, onde Aquiles desaba chorando. Tudo foi tão rápido para Saturno, ele estava em choque e perdido em seus pensamentos, só voltou quando ouviu a voz rouca e trêmula do loiro:

— Perdão, minha tia, minha tia! Sinto muito! Não queria que você visse isso!— ele fecha o pequeno portão.— esqueça isso por favor.

Sem pensar Saturno envolve o garoto em seus braços e o deixa lá por um tempo, tantos sentimentos se misturam em Saturno, um sentimento de impotência, fraqueza e ódio. 

— Não está seguro lá, mas aqui você está.— Saturno deixa escapar isso pela sua boca. Ele jamais pensaria em falar isso para alguém, porém ele está sendo o mais honesto possível com ele e com o mundo. Ele está abraçando o que realmente sente e pensa sobre tudo principalmente por Aquiles. E o choque é ainda maior quando Aquiles retribui o abraço. 

Ele estava tremendo e foi parando gradualmente durante o abraço, Saturno sentia em suas costas as mãos quentes e macias de Aquiles. Ele se culpava por não poder fazer nada sobre Aquiles e todos que passam por coisas parecidas. Ele sabia estar sendo egoísta em colocar Aquiles em primeiro entre todos do mundo, mas ele não conseguia mais negar o lugar de Aquiles na vida dele. Tudo tão rápido.

Eles ficam um tempo abraçados até que Aquiles estava mais calmo e saiu do abraço e só conseguiu falar:

— "As piores verdades são aquelas que você esconde por ouvir seu coração. Então nunca negue que me ama."

Agora sim, o deus sentiu seu rosto ardendo, seu coração palpitando rápido e as malditas borboletas voando onde não deveriam estar. Por segundos ele quis mata-las de sua barriga.

— Você escreveu isso no meu caderno, penso que você pensou ser seu caderno... — continua Aquiles que agora estava limpando os olhos— E você me entregou seu caderno de poemas e o meu caderno, então escrevi essa frase em seu caderno. Juro que não li nada. Boa noite Sys, tome cuidado começou a chover 

"Fica." Saturno pensou sem perceber que o garoto o chamou por um apelido.

"Fica" era falada na cabeça de Saturno diversas vezes e depois era esfaqueada pelo peso da pergunta "você pode parar de ser tão egoísta?". Ele se esquecera completamente de que era um deus, agora ele era só um humano sentindo um gosto amargo dentro de si, um ser humano que nunca viveu nada em choque por ver tanta crueldade nos olhos de alguém.

Ficou um tempo parado no mesmo lugar até que foi acordado pelas gotas de chuva que caiam nele e então decidiu espiar o que acontecia na sala de estar e deparou com a cena mais desesperadora que poderia ver.

 Seu companheiro com um vestido azul e sua tia passando a mão em seu rosto de um jeito malicioso e asqueroso. Saturno tentou ouvir o que aquela mulher falava, porém, devido à chuva só ouviu partes.

— ... Meu...

— ... Você não é de mais ninguém ouvi?

Saturno saiu dali as pressas até parar em um ponto de ônibus, estava com um olhar horrorizado e com as mãos tampando sua boca, ele se sentia tonto e então vomitou. Aquilo o trouxe tantas lembranças que gostaria de queimar. E as lágrimas chegaram, chegaram com a tontura e mais enjoo. Saturno sentiu a dor que os humanos sentiam, a raiva que eles passavam e como eles ficavam em cacos. Afinal, deuses e humanos não são tão diferentes quando querem. Saturno era só mais um garoto chamado Ulisses, um garoto que lembrou de um passado distante que mais ninguém sabia e que o fez ser assim.

Ele pega seu celular sem pensar e faz o que tem que ser feito.






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