SIMON
Agatha me ajuda com o terno. Ainda bem, porque eu não saberia o que escolher, já que 1) não costumo frequentar festas em que se usa esse tipo de roupa (chique) e 2) qualquer um me parece bom.
O tal amigo dela realmente deve ter muito dinheiro, porque a compra não sai barata e Aggie diz que ainda temos dinheiro para ir em mais um lugar. A sigo para dentro da loja de maquiagem e fico no celular enquanto ela procura sei-lá-o-que – parece que temos quinze anos de novo.
– Tá, vai lá pra casa amanhã que eu vou te ajudar a se arrumar – estamos saindo quando ela diz.
– Eu ainda sei me vestir sozinho, Aggie.
– Não perguntei, falei pra você ir lá pra casa.
Eu vou.
Descubro que as compras da loja de maquiagem também eram para mim, e não para ela, como eu havia pensado. Primeiro ela tira da sacola uma pomada e aplica um pouco no meu cabelo, então me convence a borrifar o que ela diz ser um tipo de água no rosto, e por fim abre uma embalagem redonda, fazendo uma poeira brilhante subir no ar.
– Você não vai passar essa coisa em mim.
– Só um pouquinho, Simon – eu desvio dos dedos cintilantes dela.
– Eu não vou usar glitter, Agatha.
– Isso não é... para de se mexer! Simon! – estamos praticamente rolando na cama.
– Sai!
– Tá tudo bem aqui? – Ginger aparece na porta com um avental amarrado na cintura e o cabelo preso num montinho cacheado.
– Amor, o Simon não quer me deixar passar iluminador – Aggie choraminga.
– Eu tô indo pra uma festa de natal e não... sei lá... pra um concurso!
– Eu não vou te dar um banho disso aqui, é só um pouquinho!
– É assim que é ter filhos? – Ginger pergunta. – Se for, vamos ter que repensar, babe.
– Simon! Se não gostar é só tirar! Jesus! – eu solto os braços dela.
– Táaaa.
Agatha dá umas batidinhas nas laterais do meu rosto e, quando olho no espelho, até que não ficou ruim; não é exagerado como eu achei que fosse. Consigo ler o "eu disse!" em negrito nos olhos da loira.
Felizmente estou arrumado para sair antes de o jantar ficar pronto – assim não preciso recusar a variedade de folhas verdes que me seriam oferecidas. Já estou na porta quando Agatha dá mais uma ajeitada na minha gravata e Ginger sorri, logo atrás, erguendo dois polegares positivos para mim.
BAZ
A festa desse ano é na casa dos Staintons – uma mansão vitoriana, como a do meu pai, porém um tanto menor e eu diria que menos sofisticada também. Consigo um bom lugar para estacionar o carro e, ainda no banco do motorista, pego o celular para conferir se há alguma mensagem de Agatha me informando sobre o paradeiro do acompanhante misterioso.
Faz alguns minutos que ela enviou um ele já foi, tá? Depois disso há meia dúzia de reclamações sobre eu não ter mostrado nenhuma foto minha antes de sair; escolho uma que tirei nos últimos instantes, no espelho do closet, e encaminho para ela.
Enquanto sigo em direção às escadas da fachada, passando pelo jardim de entrada, me pergunto se ele já chegou aqui, se está me esperando, que roupa está vestindo, se Agatha não o fez colocar uma gravata de arco-íris... então ouço alguém dizer meu nome.
Não é bem um chamado, é mais como uma pergunta, como se quisesse confirmar que sou eu. É uma voz masculina e extremamente familiar – o que não é surpreendente; todos aqui são conhecidos. Eu paro, dou meia volta e não sei se acredito no que vejo.
Bom, eu soube que ele estava voltando para cá, para Hampshire, mas não esperava encontra-lo tão cedo, muito menos essa noite. No entanto, ele está aqui. Com seus olhos azuis, sardas douradas, cachos cor de bronze e os mesmos dez centímetros a menos.
– Snow?
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dois beijos
FanfictionEles não se falam há anos, mas Baz Pitch precisa de um acompanhante para uma festa de natal e Simon Snow está na cidade. A questão é que nenhum dos dois espera esse reencontro, tampouco as dúvidas e sentimentos guardados que ele pode resgatar. • Per...