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SIMON

O pai dele não faria nada violento, certo?

Quero pedir para que ele me ligue, caso necessário, mas – se ainda o conheço bem – não acho que Baz Pitch aceitaria isso de mim, então passo a pensar em mil e uma coisas para dizer; tenho tanto a perguntar, tanto a redescobrir.

Quanto ele mudou nesses cinco anos? Quanto dele permanece igual? Ele ainda joga futebol ou tênis? Batatas de sal e vinagre ainda são suas favoritas? Ele continua dando aula de violino, não é? Como foram as coisas para ele depois de Watford? Quais seus planos agora?

Contudo, sinto que se abrir minha boca as palavras vão se embolar em minha língua, no céu da minha boca, então escolho ficar calado e absorver o momento.

Escorrego a mão pelo ombro de Baz, até roçar no colarinho de sua camisa e em seu cabelo, que cai ali feito uma onda. Estamos próximos o suficiente para que eu consiga sentir a leve variação na respiração dele; sorrio com essa reação e subo um pouco mais o toque, alcançando a pele pálida de seu pescoço. Baz discretamente estreita os olhos cinzentos para mim. Presumo que ele vá me repreender, mas não acontece.

Avanço ainda mais: meu polegar no finzinho de seu maxilar, perto de sua orelha, os fios negros e macios envolvendo meus dedos. Ele engole em seco e aumenta a pressão abaixo de minhas costelas. Ainda sorrindo, mordo meu lábio, no que os olhos dele escoltam o movimento.

Estou a um fio de beija-lo, mas a música acabou cedo demais e a tia dele se aproxima de nós antes que eu o faça.

Quando nos afastamos, o mundo ressurge a nossa volta – posso jurar que não havia nada além de Baz e eu um segundo atrás.

– Simon Snow, hein? – Fiona me examina.

A partir desse ponto não temos outra oportunidade, outra dança, mais nenhum momento a sós. O lugar está lotado e a todo instante alguém nos cumprimenta ou começa um diálogo curto e formal, o qual eu apenas acompanho, sem muita participação.

Conheço o nome da maioria aqui, são as famílias mais ricas e, consequentemente, mais "famosas" de Hampshire; mas as únicas pessoas, além de Baz, que realmente faziam parte do meu círculo eram Elspeth e Philippa. Nós as encontramos após um tempo e mantemos uma conversa por boa parte da noite.

Baz e eu fazemos contato visual o tempo inteiro: enquanto falamos com os outros, enquanto rimos de alguma história de Watford que Elspeth relembra, enquanto bebo outra taça de champanhe, enquanto ele passa a mão pelos cabelos...

Eu me perco completamente em suas nuances de cinza.


BAZ

– Ei. Como ele está? – vejo Daphne quando estou saindo do banheiro e aproveito para perguntar.

– Irritado, preocupado com o que os outros vão falar... – se ao menos a preocupação fosse comigo.

– Ele realmente acha que isso vai interferir significativamente nos negócios? Eu nem sequer trabalho lá.

– Ele ainda tem esperanças de que você assuma a empresa antes de ele morrer, Baz.

– Eu sou mais Pitch que Grimm. Trabalhar com plantações, mesmo no administrativo, não é meu estilo. Não vai acontecer.

– Bom, você o conhece, ele não vai conversar esta noite. E, dito isso, não o deixe estragar a sua – ela sorri para mim. – Snow, então? – eu suspiro. – Isso explica aquela rivalidade toda entre vocês – Daphne entrelaça o braço no meu enquanto andamos. – Os dois ficam bem juntos.

dois beijosOnde histórias criam vida. Descubra agora