Bônus | Carta

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Esta é uma carta aberta para todas as pessoas que sonham com finais felizes.

Desde o começo da minha adolescência sempre estive em alerta, sempre me preocupando excessivamente com pequenas coisas e com as pessoas à minha volta. Como eu citei, excessivamente. Quando chegava em semanas de provas, ficava noites sem dormir, estudando, estudando e estudando, eu tinha medo de não conseguir ter notas boas e mesmo que eu soubesse a prova toda e tirasse ela de letra, eu ficava angustiado e me martirizando dia e noite me perguntando se eu havia me saído bem ou não. Mas isto não era apenas com provas, era com qualquer coisa, ainda mais com meus amigos, ficava com medo de magoá-los com alguma brincadeira e sempre pisava em ovos para ter uma conversa. Quando algo me estressava mais do que eu podia suportar, o ar me faltava ou então, eu começava a chorar, sem parar, em pânico. Isso não era normal e meus pais notaram, até que eles resolveram me levar ao psicólogo, que me encaminhou para um psiquiatra. Eu tinha TAG, Transtorno de Ansiedade Generalizada.

Por um tempo, eu achei que aquilo fosse o meu fim, não queria tomar remédios, não queria ser diferente, afinal, porque eu, justo eu, de todas as pessoas do mundo, tinha isso? Eu escondi de todos os meus amigos o que eu tinha, o que eles iriam falar? Eu até imaginaria "Cuidado pessoal, vocês não podem estressar o Ryan, vocês não podem deixar ele preocupado, se não ele vai começar a chorar, ficar sem ar ou até mesmo desmaiar". Não, eu não podia contar, eu seria uma piada. Fiz questão de tomar os remédios direitinho e seguir a risca todas as orientações médicas, não queria passar vergonha.

Eu não confiava em ninguém, nem em mim mesmo.

Até que um desastre aconteceu. No dia da apresentação de artes, eu travei, estava muito nervoso, suando frio, mas eu tinha tomado meus remédios, eu estava bem. Pelo menos, era o que eu achava, de repente, eu estava chorando, encolhido no canto tampando os meus ouvidos, eu estava com medo. Porém, tinha uma pessoa ali por mim, um garoto de madeixas ruivas. Ele me abraçou, me acalmou, apenas com algumas palavras:

Ryan, está tudo bem, estou aqui por você e para você, não precisa se preocupar.

Naquele dia, aquele meu eu de 13 anos, tinha se sentido acolhido e nesse dia também, eu havia feito meu primeiro melhor amigo, Yan Scott.

Desde então, eu comecei a confiar nas pessoas, não tinha o que esconder, o que temer. Eu estava muito melhor, comigo e com as pessoas a minha volta, eu me sentia diferente, mas não tinha nada a ver com minha ansiedade. Afinal, do que eu gostava? Eu me sentia atraído por garotas? Eu nunca tinha pensado em um relacionamento amoroso. Queria saber como era, queria saber como era ser amado, de um jeito diferente de um amor de um pai ou mãe e de um amigo. Mas eu não conseguia sentir atração por ninguém, nem por meninas, nem por meninos. O que eu era então? Estava com medo. Até que eu fiz amizade com uma linda garota, ela tinha cabelos loiros cacheados e sua pele era tão macia. Ela me fazia rir e me sentir especial, talvez ela tratasse todos a sua volta assim, mas eu me sentia atraído por ela como nunca me senti por ninguém. Eu estava apaixonado, muito apaixonado.

Eu me declarei e felizmente, Olivia também sentia o mesmo. Só que, a partir de um momento, ela queria mais de mim e eu não conseguia dar o que ela queria. Eu gostava de suas carícias, de seus beijos, nós estávamos envoluindo tão rápido e eu não consegui acompanhar. Comecei a ficar ansioso, ansioso demais, me preocupando com tudo que ela queria, pensava, me preocupava com cada ação que eu iria fazer, planejava cada passo, dia após dia e com isso, minhas crises voltaram, cada vez mais fortes. Porém, Olivia sempre me amparou em momentos como esse, assim como os meus outros amigos, mas eles começaram a ficar diferentes comigo, eu comecei a perceber e meu mundo caiu quando eu vi a garota dos meus sonhos na cama junto com um dos meus melhores amigos, ele conseguiu dar a ela tudo que eu não consegui dar.

Eu me odiei e confesso, eu odiei os dois naquele momento também, mas o ódio por mim era maior. Eu era tão insuficiente, o que tinha de errado comigo? Tudo. Eu tinha essas crises idiotas, eu não conseguia transar com minha própria namorada, não conseguia fazê-la feliz. Qual era o meu problema?

E novamente, perdi a confiança que eu tinha em mim, em meus amigos. Eu realmente perdoei Nicholas e Olivia depois de um tempo, pedi para que ela criasse boatos sobre mim, boatos que afastariam qualquer possibilidade de novas amizades. Não queria mais ser insuficiente com ninguém, não queria decepcionar ninguém. E por pior que pareça, minha popularidade no colégio começou a subir com boatos que eu mesmo pedi para espalhar, as pessoas eram tão fúteis assim? Todavia, eu não queria que as pessoas se aproximassem de mim, não com segundas intenções. Então comecei a ser gentil, com todos, eu queria agradar a todos, queria ser aceito e eu consegui, depois de um tempo, todos me amavam. Eu gostava de ser amado.

Procurei diversões, afinal, todo adolescente precisava de uma hora ou outra, mas eu travava na hora do sexo. Eu tinha alguma disfunção? Era hilário, eu era hilário. Até que eu não aguentava mais, eu não ME aguentava mais. Um dia, fugi de casa para chorar. Chorei a noite toda, até que eu estava decidido a mudar, mudar de dentro para fora, eu queria me amar, me entender.

Contei tudo para os meus pais, eles cuidaram de mim e decidi contar tudo que estava guardando para o meu psicólogo. Terapia após terapia, fui melhorando, eu estava me descobrindo, descobrindo quem era o verdadeiro Ryan Nevra.

Primeiro, descobri que eu amava o mundo, eu queria conhecer culturas diferentes da minha, queria conhecer pessoas diferentes. Ser diferente era bom.

Segundo, descobri que era apaixonado em música e que elas transmitiam sentimentos incríveis e nos transportava para lugares inimagináveis.

Terceiro, descobri que gostava muito de motos e eu trabalhei muito duro para ter uma.

Quarto e talvez o que mais me pertubou até no momento que descobri, eu era demissexual. Essa descoberta me trouxe uma boa sensação.

Quinto, eu queria fazer muitas tatuagens e piercings, tudo isso era muito maneiro.

E não foram só essas descobertas, descobri muito mais, descobri como ser feliz. Eu estava bem comigo, com as pessoas a minha volta. Até que eu conheci uma linda garota, os olhos delas eram tão lindos, fizemos vários trabalhos juntos, queria ser mais próximo dela, ser amigo, mas ela parecia ser tão tímida e reclusa, não queria espantá-la com todo o meu entusiasmo, um dia, eu iria ser amigo dela e fazê-la rir, já que nunca tinha a visto sorrir.

Porém um dia, a tímida Claire Hayes veio até mim, mas não para me conhecer e sim para que a ajudasse a conquistar Nicholas Lee e bem, como eu recusaria um pedido de uma garota tão doce? E eu queria conhecê-la melhor apesar de tudo, então arrumei um pretexto de querer seus mangás e funcionou, nós tínhamos um trato. Entretanto, me autosabotei e caí em seus encantos. Me apaixonei, queria lhe beijar, lhe abraçar e fazê-la mostrar aquele sorriso lindo para o mundo. Ela era bela, como uma flor no ápice da primavera.

Pensei em desistir dessa história que não teria um final feliz, mas o destino me surpreendeu e eu tinha Claire Hayes em meus braços. Eu era o garoto mais feliz do mundo. E em uma noite chuvosa, pela primeira vez, consegui demonstrar todo o meu amor e meu desejo por aquela garota de par de olhos esverdeados.

E anos depois, nós continuamos juntos. O nosso amor não continua o mesmo, ele ficou maior e cresce a cada dia. E bem, ela está ao meu lado agora dormindo na nossa cama, na nossa casa.

Eu a amo e tenho certeza que ela me ama também.

Enfim, queria dizer que, mesmo que tudo pareça que vai desmoronar e ninguém nunca irá lhe entender, lembre-se que você é o único que pode salvar a si mesmo e o resto, com o tempo, a vida irá lhe proporcionar. E sim, finais felizes existem, só não desista, por mais que ele pareça impossível.

Com carinho, Ryan Nevra.

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