As canções que Kara Danvers escolheu para mim.

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~ Flashback ~

Em alguma praia do Brasil, dois anos atrás...

O vento atravessou o cômodo, farfalhando a cortina branca de linho e amenizando a sensação de calor no quarto.

Kara se revirou na cama. Os olhos ainda fechados, sentindo as gotas de suor deslizarem pela sua nuca e umedecer a pele, molhando seu corpo nu, coberto apenas por um fino lençol.

O barulho distante das ondas indo e vindo, "morrendo" à beira-mar, chegava-lhe aos ouvidos e, pouco a pouco, suas pálpebras se abriram. Virou o rosto e correu a vista pelo ambiente. Sentia um gosto estranho na boca, devia ser por causa do vinho que tomara durante o jantar.

Demorou alguns segundos para reconhecer o chalé de madeira rústica com vista para a praia, onde, na noite anterior, hospedara-se com Camila.

Sorriu, sentando-se na cama, apoiada nas mãos, perguntando-se em silêncio sobre o paradeiro da outra mulher, ao notar o travesseiro ao seu lado amarfanhado e vazio.

Não demorou a ver um papel dobrado em cima da mesinha de cabeceira, preso embaixo da pequena luminária. Inclinou-se e o pegou. 

Seu coração apertou ao ler as poucas palavras escritas ali: "Abra seu e-mail." Não teve um bom pressentimento sobre aquilo.

Levantou-se, enrolada no lençol e saiu da cama, encontrando sua bolsa revirada sobre uma poltrona.

— Por favor, não — suplicou baixinho, quando viu a carteira aberta, em meio a bagunça de suas roupas.

Pelo menos, o smartphone permanecia no bolso lateral da mala. Com mãos trêmulas, destravou o aparelho e o ícone acusando o recebimento de uma nova mensagem de Camila piscou na tela.

"Oi, Kara!

Gostei de te conhecer, você é tão doce e linda... Nossa noite foi incrível, arrisco a dizer que, em alguns momentos, cheguei até a esquecer que tudo era uma farsa para mim. Que minha decisão de, durante meses, manter contato com você e aceitar conhecê-la não tinha nada de honesta, muito menos romântica. É Kara, lamento dizer que você foi vítima de um golpe — a loira levou a mão à boca, numa tentativa falha de reprimir um soluço angustiado —, mas não pense que isso foi pessoal. Você não foi a primeira, nem será a última a passar por uma situação assim. Eu mesma, anos atrás, estive em seu lugar, então imagino como deva estar se sentindo agora. — as lágrimas já escorriam pelo rosto, e Kara enxugava-as com o torso da mão, em gestos bruscos que marcavam sua pele — Mas a questão é que a decepção me deixou insensível ao sofrimento dos outros e aprendi a tirar proveito disso, sabendo identificar, seduzir e atrair pessoas como você na internet: vulneráveis, solitárias, carentes... como um dia eu também já fui, e roubar delas coisas que tenham valor para mim. Em geral, fico mais tempo com as minhas vítimas: duas, três semanas... Aproveitando-me, sem qualquer vestígio de remorso, da confiança e do afeto que elas passam a sentir por mim. E para nenhuma outra escrevi sequer uma linha "me desculpando" por ser a vigarista que sou. Essa é a primeira vez que ajo assim — Kara não reprimiu um sorriso desolado ao ler aquilo —, sim, imagino que isso não lhe sirva de consolo, mas precisa saber que algo sobre você, não sei se sua sincera doçura ou sua delicada e gentil maneira de ser, impediram-me de ir além. Eu não sou o que você procura, Kara, mas desejo sinceramente que, depois do que te fiz, você não desista de buscar a felicidade. Por mais estranho que possa parecer, me conforta acreditar que ainda exista alguém com o coração tão puro quanto o seu. Enfim, já deve ter percebido que roubei todo o seu dinheiro, jóias e alguns cartões. Pretendo usá-los até receber o aviso que você leu essa mensagem. Depois, vou descartá-los. Pode chamar a polícia ou tentar me rastrear, mas já estou há tanto tempo invisível para o mundo, que dificilmente me encontrarão.

The Lady In My Life [KarLena]Onde histórias criam vida. Descubra agora