capítulo 8

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- Bem... Hoje, iremos iniciar a aula de Literatura com a Pré Modernidade. - Falei, após concluir a palavra no quadro branco. - Iremos conhecer os autores e as obras que são importantes para o Pré Modernismo... - Fui interrompido por batidas à porta. Portanto, suspirei e caminhei até ela para abri-la.

Apoiei meu pé, olhando para meu aluno, que não via há uma semana, parado e de cabeça baixa em minha frente.

- Posso saber o motivo do seu atraso? - Ele não me olhou, mas ouvi seu suspiro entediado.

- Não posso simplesmente entrar. Afinal, estou aqui, não estou?

- Está, mas há horários para serem cumpridos, Arthur.

- Se não vai me deixar entrar, diga logo! - Então, respirei fundo, dando espaço para ele passar, e assim, ele o fez, sem levantar a cabeça em nenhum momento. Depois, continuei minha aula.

De vez ou outra, olhava para o aluno atrasado, que estava quieto, algo que não era do seu feitio. Arthur era o aluno que mais me dava trabalho, pois sempre conversava, sem prestar atenção na aula. Mas hoje, estava de cabeça baixa, com o olhar no caderno e com o boné cobrindo seu rosto. Nem com seus amigos, ele havia ousado falar.

Quando o sinal tocou, os alunos começaram a sair quase que correndo. Assim, olhei para Arthur, que vinha andando, com os olhos presos no chão.

- Quero falar com você, Arthur. - Ele parou de costas para mim.

- Mas eu não. - Respondeu, sem se virar.

- Por favor, será rápido. - Ele bufou, voltando e se sentando na cadeira de frente para mim. - Por que faltou a escola por uma semana?

- Não é da sua conta!

- É sim, e, mesmo que não fosse, ainda questionaria, pois me preocupo com o desempenho dos meus alunos. - Ele soprou uma risada, o que o fez erguer um pouco o rosto. Portanto, espremi meus olhos e os arregalei em seguida, ao ver seu olho esquerdo um pouco roxo.

- Corta essa!

- Você gosta de vir para a escola? - Ele me olhou por baixo dos cílios e afirmou com a cabeça. - Então, houve um motivo para faltar, certo? - Vi quando ele apertou o punho, que estava sobre o colo. No entanto, ele não respondeu. - Estava doente? - Novamente, o silêncio.

Assim, presumi que o roxo em seu olho não devia ser por ter se metido em briga. E, obviamente, ele não tinha faltado a escola por doença, pois se esse fosse o caso, com certeza não se negaria a responder minha pergunta. Eu não sabia como, mas precisava arrancar o máximo possível dele, não porque estava querendo ser invasivo, e sim, porque queria ajudá-lo, pois se minha intuição estiver certa, ele certamente tinha problemas em casa.

- Você caiu?

- O quê?

- Seu olho está roxo. - Ouvi seu arfar surpreso e me inclinei para frente, apoiando minhas mãos na mesa. - Não quero parecer intrometido, mas o que realmente aconteceu? - Ele ficou em silêncio. Esperei que ele falasse algo por vontade própria, mas nada veio. - Você pode ir. - Assim que terminei de falar, ele rapidamente jogou a mochila nas costas e foi até a saída. - Arthur? - Ele parou. - Não tenha medo de falar comigo. Eu realmente quero ajudá-lo.

[...]

Assim que chegamos em frente ao cinema, Larissa já estava lá, com seu irmão. Portanto, Alícia soltou minha mão e foi correndo até os braços da loira. Quando cheguei perto, cumprimentei ambos e, após, compramos os ingressos, as pipocas e os refrigerantes. Depois, fomos para a sala, onde ia passar um filme infantil, Zootopia. Esse filme tinha sido proposto pela Larissa, pois segundo ela, o filme era muito bom. Não segurei o riso quando ela falou que já havia assistido inúmeras vezes, mas que não se cansava.

Quando Os Sinos BatemOnde histórias criam vida. Descubra agora