𝐸𝑠𝑏𝑎𝑟𝑟𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝑎𝑚𝑜𝑟

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Coloquei meus fones de ouvido e passei a caminhar, enquanto olhava para meus tênis surrados. Já estava na hora de trocá-los, mas infelizmente ainda teria que usá-los por mais um tempo. 

Tudo estava ainda mais difícil em casa, pois havia apenas contas e mais contas para pagar. Muitas vezes, pegava minha mãe chorando de tanta preocupação. Além disso, havia dias que era difícil ter algo para comer. Papai trabalhava em uma loja de jornais, então o dinheiro que entrava era muito pouco e as contas, muito altas. Até tinha falado para a mamãe que ia trabalhar, mas ela passou a mão por meus cabelos e sorriu, dizendo que eu era muito novo ainda, mas que futuramente seria muito útil. Então, senti uma leve frustração, pois queria ajudá-los hoje, agora se possível, mas tinha que esperar por mais alguns anos. No entanto, ela disse para não me preocupar, então venho tentando fazer isso. 

Ouvi o barulho dos sinos da igreja, que não ficava longe daqui. Então, tirei meus fones para ouvi-lo melhor. Por que será que estava tocando a essa hora? Hoje nem era domingo. Então, esbarrei em alguém. Mamãe sempre me dizia para não andar de cabeça baixa ou isso acabaria acontecendo, mas era um costume difícil de abandonar. 

Depois, olhei para a pessoa no chão e vi que era uma menina. Ajudei-a a ficar de pé e ela sorriu. Não sei por quanto tempo fiquei encarando aquele sorriso, mas só me toquei que encarava muito quando ela desfez o sorriso e juntou as sobrancelhas.

— Há algo em meu rosto? — Ela perguntou, passando a mão por seu rosto. Então, pisquei algumas vezes, desviando os olhos, e me abaixei para recolher suas coisas.

— Desculpe. — Disse, entregando os livros em suas mãos. Então, dei-lhe as costas e voltei a andar. Após, ouvi passos apressados atrás de mim.

— Espere! — Então, parei e a olhei em seus olhos, que tinham a cor de mel, quase a mesma cor de seus cabelos. - Você sabe onde fica a lan house?

— Sim. É só virar naquela esquina. — Ela olhou na direção que lhe mostrei e, depois, voltou a me fitar, sorrindo de forma nervosa.

— Obrigada… — Incerta, ela deu as costas, indo em direção oposta da minha. 

Nunca a tinha visto pelas redondezas. Portanto, ou ela não saía muito, estudava em outra escola ou era nova na cidade. Um lado meu dizia para continuar meu caminho, pois já estava bastante tarde e, se demorasse mais, talvez o professor não deixasse eu assistir a sua aula, mas o meu outro lado se recusava a deixar aquela garota ir sozinha, depois de ver seu rostinho todo incerto e inseguro.  Por fim, suspirei.

— Ei! — Ela se virou. — É nova na cidade? — Afirmou. Então, soltei o ar, já me arrependendo, e dei uma leve corrida até me aproximar. — Vamos, irei acompanhar você para não se perder. — Ela sorriu e eu senti como se nada mais importasse. 

Quando Os Sinos BatemOnde histórias criam vida. Descubra agora