Capítulo 7

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Segurando sua mão gelada entre as minhas, a acariciei levemente. Depois, suspirei, trazendo-a para perto de meus lábios, e, suavemente, beijei o local onde estaria o pequeno objeto dourado que simbolizava a nossa união. A aliança estava em casa, esperando pelo momento em que voltaria para o lugar de onde não deveria ter saído. 

— Eu te amo… — Minha voz saiu em um sussurro no mesmo momento em que algumas lágrimas desceram. 

Após, suspirei, olhando para as flores, as quais havia trazido, no vaso. Era nosso aniversário de casamento. 

— Estava me lembrando do nosso tempo de escola, principalmente de quando nos encontramos pela primeira vez. Eu era apenas um pirralho solitário e você havia chegado e mudado tudo. Lembro que naquele momento você havia despertado algo em mim. Tinha sido estranho porque eu era novo e não tinha sentido esse sentimento ainda. Não imaginava que, anos depois, te levaria ao altar, mas Deus estava no controle de tudo. — Respirei fundo. — Ainda está… — Concluí em um sussurro. 

Depois, fiquei em silêncio, apenas ouvindo o barulho do monitor cardíaco. 

— Você está fazendo muita falta, amor. Por favor, acorde logo, nossos filhos precisam de você... Eu preciso...

Então, esperei por algum simples movimento, mas nada veio. Permaneci olhando seu rosto, agora livre dos hematomas, porém, pálido, como se já não houvesse mais vida, ligado aos aparelhos que a ajudavam na respiração. Depois, abaixei a cabeça, perguntando-me até quando que teria que vê-la dessa forma.  

— Tudo bem… Leve o tempo que precisar… Apenas não desista de nós... Seja forte, se recupere por mim, que te amo mais que tudo.

Antes de deixar o hospital, falei com o médico. De acordo com ele, o estado de Jéssica continuava o mesmo, sem piora ou melhora. Contudo, minhas esperanças não haviam diminuído, pelo contrário, só cresceram. Ao menos, ela estava estável. Tinha que me apegar a isso.

[...]

Enquanto caminhava de volta, com as mãos no bolso, meus olhos se prenderam em uma concessionária. Meu salário agora era bem maior que antes, então talvez no próximo mês, dê para dar entrada em um veículo. Depois, suspirei, voltando a andar. 

— Bernardo! — Olhei para o lado quando alguém me chamou. Então, vi Larissa no outro lado da rua, acenando para mim. Portanto, acenei de volta e ela sorriu, olhando para os lados, antes de atravessar e vir até mim. — Oi!

— Oi, está indo para o trabalho? 

— Sim. — Respondeu, colocando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha. 

— Certo, como está seu irmão? 

— Bem. 

— Que bom, agora preciso ir.

— Tudo bem… — Sorri, antes de dar as costas para ela. — Ahn… Bernardo? — Novamente, ela me chamou, então me virei de frente para ela, confuso. 

— Sim?

— Err... Então… Meu expediente irá acabar mais cedo hoje. Você aceita ir ao cinema comigo? Quero dizer, você e as crianças? O Ícaro irá também. 

— Tenho certeza que eles iriam amar, mas hoje não vai dar. Quero ficar apenas aproveitando a companhia dos meus filhos. Quem sabe, outro dia. 

— Ah, sim, claro. Desculpe-me, eu deveria ter imaginado. — Ela sorriu pequeno, mas notei que tinha ficado um pouco chateada.

— Até mais, Lari. — Então, voltei a andar pela calçada. 

O sol estava esquentando, portanto apressei o passo para chegar logo em casa. Assim que cheguei, fechei a porta atrás de mim e sorri com a cena à minha frente. Minha mãe estava dormindo no sofá e, em cima dela, estavam Gabriel e Alícia também dormindo. 

Então, aproximei-me deles e, primeiramente, peguei Alícia no colo e a levei até seu quarto. Depois, voltei e me aproximei para pegar Gabriel, no momento que minha mãe acordou. Portanto, coloquei o dedo na boca, pedindo para que ela não fizesse barulho a fim de não acordá-lo. Após, subi as escadas e entrei no quarto deles, deixando o garoto na cama.

Quando voltei para sala, minha mãe já estava sentada. Então, fui até ela e me sentei ao seu lado. 

— E aí? 

— Não há alterações. — Suspirei, passando a mão pelos meus cabelos. Por sua vez, ela trouxe a sua até minha costas e olhou para frente.

— Não desanime. 

— Nem se eu quisesse, mãe. — Falei, sorrindo pequeno. 

[...]

— Vocês não vão escapar de mim. — Soltei uma risada maléfica após minha fala. 

— Pegue sua espada, capitão Gab. — Alícia falou, entregando uma espada de borracha ao garoto. Então, Gabriel a pegou e apontou para mim.

— É melhor correr. — Segurei o riso, com sua tentativa falha de parecer bravo. 

— Nunca! — Ele correu até mim e começamos uma pequena luta de espadas. 

Após, senti algo encostar em minhas costas e olhei para trás, vendo Alícia com uma espada apontada para minhas costas. 

— Ah! Vocês me pegaram! — Então, soltei a minha espada e fechei meus olhos, caindo lentamente no chão, enquanto os ouvia comemorar a vitória. 

Após, abri um olho e os vi pulando abraçados, enquanto gritavam. Portanto, sorri, antes de me levantar. 

— Agora, meus pequenos marinheiros, já para o banho. 

— Pequenos não, papai. — Reclamou Gabriel.

— Certo, certo. Grandes marinheiros. 

Então, levei Alícia até o banheiro do meu quarto e deixei uma peça de roupas com ela, enquanto fui dar banho no Gabriel, que já esperava no quarto. Graças a Deus, Alícia estava melhor e mais animada. Vê-la voltando ao normal havia tirado um enorme aperto do meu coração. 

Quando terminei de vestir o garoto, ele desceu as escadas e eu fui ao meu quarto ver se minha filha estava precisando de algo. Assim que entrei, vi ela já vestida e passando a escova de forma errada no cabelo, em frente ao espelho. 

— Quer ajuda, meu anjo? — Ela me olhou e sorriu, afirmando. 

Então, me aproximei e me ajoelhei atrás dela, ficando ainda alto. Depois, ela me entregou a escova e eu comecei a pentear lentamente seu cabelo.

— O senhor faz igual a mamãe. — Parei a minha mão e olhei para ela pelo reflexo no espelho. —  Com cuidado para não doer minha cabecinha. — Concluiu a pequena. 

Suspirei e me limitei apenas a sorrir, com as lembranças de todas as vezes que entrava no quarto, encontrando Jéssica sentada na cama, com Alícia entre suas pernas, justamente fazendo o mesmo que estava fazendo agora. 

Sentia falta dessas coisas, como chegar em casa e ser recebido pelo sorriso caloroso de minha esposa, ou de entrar na cozinha e abraçá-la, de vê-la brincar com nossos filhos. Embora a casa tenha uma ótima energia vinda das crianças que não paravam um segundo, ainda sim, sentia uma lacuna vazia, algo que faltava. Era como se tivesse tudo e, ao mesmo tempo, nada. 

Quando Os Sinos BatemOnde histórias criam vida. Descubra agora