Apenas a presença de uma pessoa pode virar sua vida de ponta cabeça, assim como a sua ausência. Acreditava que essa última era a pior de todas, principalmente quando nos acostumamos com a presença dela, pois a saudade te destrói e, pouco a pouco, corrói cada parte de seu coração, até que não sobre mais nada, apenas o vazio.
— Alícia, Gabriel, venham! — Então, as crianças apareceram logo em seguida, apostando corrida.
— Cheguei primeiro.
— Não, fui eu!
Elas discutiam essas coisas banais todos os dias. Às vezes, até ficavam bravas umas com as outras e criavam um voto de silêncio por não mais do que 5 minutos.
— Apenas comam. — Disse, levando a panela ao fogão, após ter enchido o prato de ambos com a guloseima que havia tentado cozinhar.
— Argh, papai! — Exclamou a menina, mexendo no prato. — O senhor tentou cozinhar de novo?
— Não tentei, eu cozinhei.
— Todo mundo sabe que o senhor é péssimo nisso. — Semicerrei os olhos para a garota de cabelos negros, que se encolheu na cadeira. Por fim, suspirei.
Eu sabia que meu lugar não era na cozinha, mas eu insistia em tentar, mesmo falhando há um mês inteiro. Mas o que eu podia fazer? Se eu não tentasse, não teríamos o que comer.
— Hoje é domingo, dia de ir à igreja. — Disse Alícia, animada, portanto não pude deixar de sorrir.
— Então, comam rapidinho para podermos ir. — Assim, os dois começaram a comer, mesmo sabendo que não estava tão boa a comida.
Alícia e Gabriel, mesmo tão novos, compreendiam muito bem as coisas e quase nunca reclamavam de nada, mesmo quando passávamos por tantas dificuldades. Eles eram as pessoas que mais me davam forças para continuar. Eles eram meu refúgio, meu maior presente, os meus filhos. Mas ainda assim, era difícil suportar o vazio que havia se instalado em meu peito.
Após, levei Gabriel para um banho, já que, ontem à noite, ele estava tão exausto que havia dormido sem se banhar. Ele fechou os pequenos olhos, quando comecei a lavar seus cabelos, esfregando o couro cabeludo. Então, ele passou as mãos no rosto e riu, tentando tirar a água.
Gabriel tinha apenas 5 anos, enquanto Alícia tinha 6, porém ambos eram muito espertos, o que tinham puxado isso da mãe, porque de mim, certamente não havia sido.
Após o banho, peguei uma toalha e o enrolei. Depois, deixei-o sentado na cama, enquanto procurava por uma roupa decente para que ele pudesse se vestir. Havia procurado por todas as gavetas e portas, mas não tinha nada, então lembrei-me de que havia esquecido de pôr para lavar. Então, olhei para o meu filho, que balançava seus pequenos pés, totalmente distraído.
Portanto, suspirei, frustrado. Minha semana havia sido corrida com o trabalho, que acabei por me esquecer. No entanto, não era a primeira vez que algo assim acontecia. Certo dia, havia me esquecido de pegar as crianças na escola e elas tiveram que ficar esperando junto a professora por uma hora, que foi quando me lembrei. Não que eu fosse irresponsável, mas aquele dia estava ainda mais corrido, e normalmente, quem pegava as crianças na escola era Jéssica, pois ela saía mais cedo de seu trabalho.
Então, respirei fundo, ficando de pé. Eu já ia falar para eles que não teríamos como ir hoje, quando minha anja, que eu chamo de Alícia, apareceu em minha frente, segurando um par de roupas masculinas.
— Encontrei no meio das minhas coisas, papai. — Explicou ela.
Do jeito que sou, devo ter guardado algumas peças junto com as dela. Imediatamente, sorri, as pegando, e Alícia sorriu, antes de sair. Então, agradeci a Deus por essa luz e vesti o garoto.
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Quando Os Sinos Batem
Romance(CONCLUÍDO) Vidas inocentes são tiradas todos os dias por pessoas inconsequentes. Famílias, sonhos, desejos são destruidos em um piscar de olhos. Uma simples ação inconsequente pode mudar completamente a vida de uma pessoa, ou até mais. Há cerca de...