PRÓLOGO

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Then i look at you

And the world's alright with me
Just one look at you 
And i know it's gonna be
A lovely day
Lovely Day — Bill Withers


Uma magia embalava os almoços de domingo.

Talvez fosse a típica mistura de temperos que confundia o olfato, as conversas animadas, as risadas estridentes, a música ambiente que permanecia em looping apenas para preencher o espaço.

Os domingos da família Garcia Moraes eram imperdíveis. Carolina não se arrependia nem um pouco de ter colocado o celular em modo avião, não era dia de se preocupar com as possíveis cobranças acadêmicas, conversas protocolares nos grupos de congressistas ou futuros seminários para apresentar.

Estava com sua família e isso lhe bastava.

Iria ignorar o prazo apertado que recebeu de uma revista internacional para entregar um texto a ser publicado. Tudo para não roer as unhas ou esquecer o quão incrível era estar no presente, e não vivendo intensamente o futuro.

Carolina deixou as roupas formais do cotidiano para trás, nada de blazers e calças de alfaiataria. Apenas um vestido de estampa tropical e cores vibrantes que ornavam com perfeição ao seu bronze. Sentada de pernas cruzadas no piso gélido de madeira e apoiando suas costas no sofá, escutava com atenção a criaturinha adorável de quatro anos que a maquiava.

Ela definitivamente entrava em todas as brincadeiras de Aurora, sua sobrinha.

— Ô, minha fadinha, eu 'tô' ficando bonita? Você tem que jogar bastante pó de piriplimplim na sua titia favorita. — Carol brincou abrindo um dos olhos para espiar a garota, enquanto sentia o pequeno e macio dedo dela passar com certa rispidez infantil a sombra na outra pálpebra.

O ruído da risada gostosa dele a alcançou. Debruçado sobre o sofá, tentava observar melhor como estava indo a obra de arte da pequena. É... Carolina estava excêntrica. Mas, não podia negar, estava terrivelmente bonita com um olho pintado até as sobrancelhas de laranja.

— You're pretty even when u're eating spicy chicken, baby.

A brasileira ergueu o queixo levemente na direção do inglês e abriu os dois olhos em sua direção. Um Lewis Hamilton esparramado no sofá dos Moraes Garcia preencheu o campo de visão de Carol, não conseguiu evitar fazer uma careta para o mesmo. Ele segurava uma caipirinha que o sogro havia preparado em uma das mãos, enquanto a outra rapidamente afagou os seus cabelos negros e reluzentes como uma preciosa pedra ônix. Seu coração tremia de felicidade ao lado dela, isso era inegável para si mesmo e para o mundo também.

Carolina não desconfiava que ele também havia acordado determinado para aquele domingo. Lewis sabia o que precisava fazer e para tomar coragem iria confiar nos seus instintos de campeão nas pistas e na vida. Ok, as doses de álcool também iriam dar uma forcinha para tudo rolar como queria.

Os resmungos da pequena Aurora quebraram aquele curto contato visual do casal que direcionou toda sua atenção àquele pedacinho de gente. A menina reivindicou para si o rosto da tia, segurando com as mãozinhas. Era temperamental como sua mãe, Dora. Odiava que atrapalhasse suas maquiagens, suas obras de arte.

—  Da última vez essa pentelha pintou a minha sobrancelha com delineador, ficou parecendo que tinha uma taturana na minha cara, hoje é a sua vez de virar a Cuca. — Edu, o irmão mais novo do trio Moraes Garcia debochou escorado no batente da porta da cozinha. Carol entre risos traduziu para o namorado que estrangulou uma gargalhada ao se lembrar das fotografias que foram tiradas no dia em questão.

Still We Rise  - Lewis Hamilton ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora