chapter five

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A lua girou, girou

Traçou no céu um compasso

Eu bem queria fazer um travesseiro dos seus braços

A Lua Girou - Milton Nascimento


O orvalho da manhã impregnava as plantas que se encontravam na soleira da janela. Os primeiros raios de sol daquelas primeiras horas invadiram de forma amena e uniforme todo o interior do apartamento arejado, pequeno.

    O aroma do nascer de um novo dia despertou Carolina, meio desorientada. Com certa dificuldade provocada pela claridade, abriu seus olhos amendoados. Arrepiou-se com o típico frio londrino que alcançou cada poro do seu corpo nu e recém-desperto. Parte de si sentia estar levitando, suspensa da realidade, dormente, anestesiada até. E essa sensação vinha se tornando, interessantemente, comum. Contudo, a sua maneira de desfrutar andava variando. Ora, isso a amedrontava, a fazia querer recuar, dar alguns muitos passos para trás. Ora, a tornava ainda mais refém do que começava a se concretizar em seu coração.

Estava amando.

Embora pudesse soar uma breve insanidade, Carol tinha certeza de que estava apaixonada.

Não sabia se amava a situação, se amava o cara que encolhia o corpo forte em sua pequena cama para que juntos ali coubessem, ou ambas as coisas.

Sobretudo, Carolina precisava admitir: se desvencilhar dos braços rijos e tatuados de Lewis era uma das tarefas mais difíceis que havia encarado.

Seus físicos quentes se emaranhavam sem começo e nem fim. Os membros grudados formavam uma conchinha completamente bagunçada, e por esse motivo também, a melhor que a brasileira já havia experimentado. A mulher não sentia o mínimo ímpeto de se esforçar para levantar, ainda que os ponteiros do relógio corressem e ela devesse começar a se arrumar para ir a faculdade.

    Só por hoje: foda-se, Carolina disse para si mesma pela primeira vez em muito tempo.

    Estava exausta mentalmente, fisicamente. A dupla jornada, tanto de trabalho quanto de estudo em Londres, vinha a consumindo de uma maneira absurda. Se negava aos pequenos descansos por medo da espiral de procrastinação que costumava entrar, mas, sabia que para se proteger de um 'burn out' total precisava acolher suas necessidades de curtir um dia livre.

    Virou seu corpo com certo cuidado na direção do homem que dormia o sono dos justos. Podia jurar que havia um resquício de sorriso nos lábios bem hidratados e preenchidos de Lewis. Os cabelos trançados do último encontro deram lugar aos cachos livres, pequenos e iluminados, que se espalharam com graça no travesseiro verde-abacate da cientista política. Carolina deixou sua digital deslizar pelo peitoral do piloto, pensando no quão bom era pousar a cabeça ali depois de uma transa apaixonada.

    Era aquele peitoral que acariciava com carinho quando se beijavam depois de dias de distância um do outro, mas era também no qual espalmou suas mãos reivindicando o corpo de Lewis contra o seu. Podia ver ali uma frase que atravessava a clavícula e também o leão que tomava todo o espaço do peito esquerdo.

    Desceu os dedos apenas o suficiente para apreciar a bússola tatuada no início do abdômem do mais velho, no vão do peitoral. Ao invés da lasciva costumeira que a arrebatava quando o inglês começava a se despir, aquele símbolo fez uma leve cosquinha em seus pensamentos.  Era a sexta vez que dormiam juntos num curto espaço de tempo, e algo lhe dizia que no meio da zona de sua vida estar com o inglês vinha sendo uma espécie de norte, de reconforto.

Still We Rise  - Lewis Hamilton ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora