2020.
Carolina despertou desorientada.
Havia virado (mais uma) madrugada debruçada sobre seu notebook e milhares de referências bibliográficas. Não conseguiu terminar o artigo que deveria publicar nos próximos dias, mas pelo menos, adiantou uma parte relevante. Tudo bem, suas unhas foram levemente destruídas pela sua ansiedade sufocante. Ela só se deu por vencida quando o café deixou de fazer efeito e seus olhos não se sustentavam abertos. Rendeu-se a sua pequena e convidativa cama, colocando nas mãos do alarme o milagre de acordá-la.
Poucas horas depois, o famigerado "iuke" da cantora Pabllo Vittar ecoou no pequeno apartamento.
Por que eu ainda embarco na onda do Edu?, refletiu sonolenta com os olhos cerrados.
Eduardo, seu irmão mais novo, ao saber que a mais velha iria estudar em outro país fez uma aposta com o resto da família sobre quão pontual Carolina seria se não tivesse ninguém para despertá-la. O fato é: ninguém quis defender que ela iria conseguir sozinha. Aquilo nunca havia funcionado.
Desde então, tornou-se uma questão de honra. Pesquisou sons com potenciais para fazê-la cair da cama. Acertou em cheio ao escolher a drag queen brasileira para dar seu icônico grito que renderia, sem dúvidas, algumas reclamações por parte de seus vizinhos. E de Capitu que, pobrezinha, miou assustada. A gatinha persa de cor caramelo estava num soninho confortável antes de sobressaltar com o som agudo. Mas, aquietou-se quando as mãos macias de Carol acertaram onde era seu lugar favorito para receber carinho: na barriga.
A atenção da mulher foi atraída pelo celular que vibrava enlouquecidamente na escrivaninha. Estranhou a insistência mas, devia ser apenas sua mãe enviando vídeos de bichinhos fofos. Bem típico.
No entanto, bastou aproximar-se. Carolina soltou um muxoxo. Era Frank.
Ele mesmo. Frank Ratcliffe. O tipo de cara que faz a cientista política torcer nariz com facilidade. Era mais um dos engomadinhos que a brasileira havia esbarrado na London School Of Economics and Political Science, onde estava fazendo seu doutorado.
Diferentemente dos outros que não davam a mínima para os estudantes estrangeiros, Frank não conseguia tirar os olhos da brasileira que carregava um livro diferente a cada dia debaixo dos braços e andava a passos acelerados. Como um troféu, ele iria conquistá-la. Afinal, quem seria insana de simplesmente negar o filho do fundador da Ineos, uma mega empresa inglesa da área de petroquímica que também patrocinava uma das maiores equipes de Fórmula 1.
Ele só deixou de fora da sua equação o total desdém de Carolina, porque pouco importava se ele iria herdar uma empresa ou se seu pai era um fucking bilionário. Aquilo não lhe dizia nada. Alheia à todas as suas investidas, a mulher parecia sempre mais interessada na fala do professor rabugento do que nos olhares do inglês. Secretamente, isso instigou Frank que começou a levar como um grande e satisfatório desafio. Certa vez, seu pai havia dito: "tudo que vem fácil, vai fácil". Essa era a razão para não desistir da senhorita Garcia.
Frank: Hey, Carol! Queria te lembrar que hoje é a tal festa para qual te convidei. Quer dizer, você e a nossa galera LOL.
Frank: Sei que você não curte muito festanças chiques e provavelmente vai achar tudo... Como você diz? "Burguês demais para me manter sã"? Hahah.
Frank: Masss... Vai ter música legal, bebida cara (e gostosa!), muita comida. Let's have a little fun?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Still We Rise - Lewis Hamilton ✓
FanfictionQuando Carolina esbarrou seu olhar com o do heptacampeão de Fórmula 1, ela finalmente compreendeu o que bell hooks, uma reverenciada feminista negra, quis dizer ao afirmar que o amor é uma ação, nunca simplesmente um sentimento. A pergunta é: para o...