Capítulo 4

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— Bel, como anda sua aventura pelo site de namoro? — perguntou Raquel, uma semana depois do fatídico encontro, enquanto eu a ajudava dobrar algumas roupas depois do fim do expediente na sua loja.

— Male, male... — brinquei com as palavras. — Sabe aquele primeiro cara com quem quase marquei um encontro?

— Sei! — respondeu, arregalando os olhos com euforia.

— Está no segundo encontro com uma garota que conheceu no site, mas continua me chamando para sair, pois, segundo ele — fiz uma careta —, sentiu uma ligação forte entre a gente.

— Eca! Puta merda, que brega! — exclamou Raquel, colocando o indicador dentro da boca aberta, simulando vômito.

— Pois é... Este tipo de papo místico me desmotiva muito e... — pensei por um momento —... o cara já está saindo com alguém, então é mais um espertalhão, galinha.

— E mais nada? — insistiu.

— Uma conversa aqui, outra ali...

— E a página do Rodolfo?

— Acho que ele excluiu. Ou me bloqueou, pois você sabe que sou mega curiosa e quase todos os dias dou uma verificada para ver se ele retornou ao site.

— Bom... — Raquel arranhou a garganta e sorriu, maliciosa, apertando os olhos. — Acho que posso te ajudar... — Me encarou, deixando a roupa ainda não dobrada de lado e colocando as mãos em cima das minhas.

— Como assim? — Sorri, desconfiada. — Algum amigo do Hugo está desesperado para casar? — Gargalhei. — Só se for alguém que não conheço, porque os amigos dele que já vi, são todos abaixo da minha linha limite.

Raquel balançou a cabeça, indignada e bradou: 

— Linha limite, Isabel? Que merda é essa?! Pelo que tinha entendido, você estava totalmente entregue à falta de padrão, qualquer coisa que enfiasse um anel no seu dedo era motivo para um “sim, aceito” — respondeu, contrariada.

Passei as mãos pelos cabelos, olhei para o lado e respondi: 

— Tem razão. Até algum amigo dele serve — continuei no mesmo tom, porque adorava ver Raquel irritada com minhas provocações. — Já conversei com todos e absolutamente nenhum me chamou a atenção... — Balancei os ombros e entortei os lábios. — Mas era outra época, em que eu estava totalmente alheia aos assuntos sobre relacionamento.

— Mas pode ficar despreocupada que não se trata de nenhum amigo do Hugo. É um parente meu.

— Como assim? Você tem algum parente que eu não conheça? — indaguei, surpresa.

— Muitos, né, Isabel?! — respondeu, virando os olhos. — Você não conhece todos os meus parentes que moram fora da cidade. — Balançou a cabeça e começou a me explicar: — Um primo do meu pai está se mudando para cá e tem dois filhos e eles — ela ergueu a sobrancelha com um sorriso travesso nos lábios — estão solteiros.

— E ainda moram com os pais? — perguntei, contrariada.

— Eu moro com os meus pais até hoje — respondeu, mais contrariada.

— Porque quer — rebati. — E não sei por que quer, por mais que queira me convencer!

— Não vou sair da casa dos meus pais, que são as melhores pessoas do mundo, muito compreensivos e amorosos, para me mudar para um quarto e sala qualquer com o Hugo e passarmos o dia todo discutindo sobre contas, sobre o que nosso dinheiro não nos permite comprar! — respondeu, impaciente mais uma vez, com o mesmo discurso que não me convencia muito, pois eu morava sozinha e não era o orçamento mais folgado do mundo, a corda era constantemente usada no meu pescoço como um adereço, um lenço, por assim dizer, mas eu preferia um apertozinho nas finanças do que imaginar morar na mesma casa da minha mãe e Maurício, tirando a liberdade de nós três. 

De Cor e SalteadoOnde histórias criam vida. Descubra agora