De Cor e Salteado

Capítulo 9

No finalzinho da tarde, entre 17h e 18h, decidi procurar por Gael e acabar de vez com qualquer possibilidade de alguma coisa, que eu nem sabia o que era, que poderia começar a rolar entre nós. Primeiro toquei o interfone de sua casa e, como não me respondeu, colei a orelha nas portas do bar e escutei barulho, então bati de leve e logo em seguida me arrependi, pois me lembrei de Gael ter comentado que teria a ajuda dos pais na arrumação do bar. Era uma droga, mas parecia que estava se tornando um padrão meu, agir sem coerência quando Gael estava envolvido.

A porta de ferro foi subindo rapidamente e Rafael me recebeu com um sorriso enorme. 

— Bel, tudo bem? — perguntou, simpático, porém com um certo estranhamento no olhar, provavelmente sem entender minha presença lá.

Respondi num resmungo, sem entrar, revistando rapidamente o lado de dentro à procura de Gael. Eu já estava envergonhada por ter sido recebida por Rafael e fiquei ainda mais sem graça ao sentir os olhares do pai e da mãe deles, além de Carina e de Lorena — uma amiga dela — sorrindo em minha direção e nada do Gael. 

— Entra, Bel — sugeriu Rafael, segurando a porta.

O que eu faço? Que vergonha! Que desculpa invento para estar aqui? Minha mente procurava uma saída e fiquei alguns segundos do lado de fora ouvindo todos simpaticamente me convidando a entrar: “Entra, filha, está frio aí fora”, “Tia, vem se juntar a nós!”, “Tia Bel, a tia Raquel também vem?”. 

Entrei rapidamente e sorri o mais natural que pude. 

— Olá! — Dei uma olhada no ambiente que estava, para uma pessoa leiga sobre bares como eu, aparentemente pronto para uma inauguração. Todos estavam sentados em volta do balcão, com a aparência desarrumada de quem estava fazendo uma pausa depois de um trabalho pesado, tomando vinho e relaxados. — Que lindo, hein! — afirmei, percorrendo o olhar por todo o ambiente. — Tenho certeza de que será um sucesso. 

Ouvi todos novamente me respondendo com simpatia e reforçando o convite para sentar e aproveitar o descanso com eles. Eu elogiei repetidamente o local, que nem me parecia tão diferente dos bares que já tinha ido, tentando ganhar tempo para inventar uma desculpa sobre o motivo de estar procurando por como Gael, mas além da falta de criatividade, minha cabeça insana parecia estar mais preocupada em acalmar meu peito, que ficou espremido ao saber que Carina e Lorena não só estavam no bar como pareciam bem à vontade e totalmente incorporadas à família dele. Cheguei lá preparada, porém, não muito disposta, a falar para Gael que estava me encontrando com outra pessoa, que irresponsavelmente tinha cedido à minha carência na noite anterior, mas que não queria estragar a amizade que poderíamos vir a ter morando no mesmo bairro, tendo nossos pais como vizinhos e Raquel como ligação, contudo, minha cabeça de repente virou os pensamentos para outros dois lindos focos: Lorena e Carina. O que as duas estavam fazendo lá? Gael e Lorena? Rafael e Lorena? Gael e Carina? Rafael e Carina? Não importava muito quem poderia ser o par de quem, todos faziam sentido — eu mesma já tinha me dado conta disso anteriormente. E o pior: as duas, sem a presença de suas famílias, com certeza não estavam ali à toa... Afastei os pensamentos especulativos, afinal, tinha ido até lá “terminar” com Gael e dei um jeito de me despedir. 

— Vim aqui porque o Gael me disse que iria me explicar um programa de planejamento nos negócios... — explicava, meio sem jeito, sob os olhares atentos e aparentemente nada desconfiados, a não ser Rafael, que sorria com os olhos azuis vibrantes de divertimento. — Mas não é nada de mais... Aliás, é importante, mas não urgente... Então, depois mando uma mensagem para ele... — finalizei, sorrindo e agradecendo aos convites para me juntar a eles.

Rafael me acompanhou até a porta e, assim que a levantou até um ponto que eu pudesse passar sem ter que me abaixar, deu a volta para o lado de fora.