Capítulo 5

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Pontual, às 21h meu interfone tocou e avisei a Gael que já estava descendo ao seu encontro. Produção simples, calça jeans, sandálias de salto alto pretas, camisa de algodão, bijuterias grandes, maquiagem leve, apenas o batom vermelho em destaque. O tipo de produção “sou assim, sempre linda, não se preocupe, não é para você”.

Desci as escadas ensaiando meu sorriso mais encantador, afinal, a gente nunca sabe de onde o amor eterno e a aliança podem surgir.

Puta merda! — esbravejei internamente já com o sorriso não tão aberto. 

Vou matar aquela desgraçada, maldita da Raquel!

Abri o portão e não consegui manter o sorriso, despejei o que estava entalado:

— Quantos anos você tem?

Um garoto, lindo, lindo mesmo, gargalhou com os dentes mais brancos que já tinha visto na vida, abaixando levemente a cabeça do jeito mais sexy que eu já tinha presenciado e tampou com a mão o rosto por um segundo. Segundo suficiente para que eu reparasse a calça jeans surrada, o tênis e a camisa de malha. 

— Oi, Isabel — me cumprimentou, sorrindo em minha direção e sem parecer constrangido e, sim, ter se divertido com a minha pergunta. Chegou bem perto de mim. — Prazer em conhecê-la, acabei de fazer 27 anos.

— O Gael não pôde vir? — indaguei, louca e confusa. — Você é o Rafael, irmão mais novo dele? — Encarei-o de forma firme, esperando ansiosa que ele respondesse positivamente às minhas perguntas.

Ele riu, divertido, e tapou o rosto por um instante com as mãos. 

— Desculpe, eu sou o Gael. 

O encarei, totalmente sem graça. 

— Me desculpe, Gael. — Pus as mãos em sinal de prece. — Me perdoa, fui tão... tão... — Respirei fundo e ele me interrompeu.

— Espontânea. Você foi espontânea e só. — E abriu novamente o sorriso perfeito. 

— Desculpe. A Raquel não me falou nada sobre idade e eu, louca, não imaginei que... — sem saber como parar de me enrolar, mudei de assunto sem completar a frase. — Bom — suspirei fundo —, esquece minha loucura... Cadê o seu carro?

Gael gargalhou mais uma vez. 

— Nossa, estou me sentindo um idiota... — Percebi na hora que tinha acabado de dar outro fora e o encarei totalmente perdida. — Isabel, eu não tenho carro — falou, em tom de desculpa. — Aliás, eu tinha, mas... vendi para juntar dinheiro para abrir um bar aqui na cidade e... Eu ia vir com o carro do meu pai, mas justo hoje minha família resolveu ir ao centro, jantar num restaurante libanês.

— Gael, por favor, eu nem sei mais como me desculpar. Na verdade, estou até com medo de falar com você e sair outra bobagem... — Suspirei e enfiei um sorriso entusiasmado no rosto, tentando consertar a situação. — Sem problemas! Vamos no meu carro! Não sei nem por que pensei que você estaria de carro...

— Porque vim te buscar — respondeu, divertindo-se, em seguida sugeriu: — Isabel, que tal a gente deixar o carro de lado e irmos até um barzinho que tem a três ruas daqui?

Pensei bem e logo me veio à cabeça a cena constrangedora de algum dos meus conhecidos passando em frente ao bar da nossa vizinhança e me verem sentadinha, sorridente, tomando cerveja com um garoto. 

— Ah, não! — Tentei soar descontraída. — Conheço bem todos os bares da redondeza e, com certeza, não são as melhores opções de boas-vindas a um novo morador da cidade — afirmei, mentindo com segurança. — Mas do outro lado da cidade... — longe de todo mundo que conheço —... fiquei sabendo que abriu um bar, restaurante, pizzaria... não lembro o nome, mas que está fazendo o maior sucesso! — despistei, já buscando o celular na bolsa para procurar o endereço de algum bar bem distante. 

De Cor e SalteadoOnde histórias criam vida. Descubra agora