Capítulo 3

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Levantei bem cedo na quarta-feira, mandei uma mensagem de texto para as meninas, para que se encontrassem comigo para o café da manhã na casa da minha mãe, assim não teria que ficar recontando a história do encontro desastroso. 

Maurício abriu a porta, já com a aparência animada, o sorriso largo, demonstrando todo seu vigor matinal e o uniforme da academia onde trabalhava. 

— Que rapidez, meninas — brincou. — Poderiam ter essa mesma disposição que têm para fofoca para irem às minhas aulas de spinning.  

Em seguida deu um beijo na testa de cada uma de nós, antes de atravessarmos a porta da sala, como se fôssemos menininhas levadas e, ele, o tio legal da família. Não era o que a nossa diferença de idade apontava, algo em torno de 16 anos de diferença, mas desde que tinha começado a namorar minha mãe, sempre foi tão acolhedor e protetor conosco que Raquel, Helena e eu, que acabamos entrando de bom grado no clima que ele impôs ao nosso relacionamento, um clima de carinho meio paternal. Entramos e ele saiu em seguida nos deixando à vontade para conversarmos sobre a minha noite anterior. 

— Conta logo, sexo e paixão ou decepção e angústia? — começou por Helena o interrogatório, enquanto arrumávamos a mesa para o café.

— O cara era lindo mesmo? — continuou Raquel.

— Anda, Bel, ninguém aqui tem mais do que uma hora, antes de ir trabalhar.

Só comecei a falar depois que nos sentamos. Tomei um gole de café com o semblante impassível, mas não aguentei por muito tempo e acabei me rendendo à gargalhada ao pensar sobre a história patética que teria que relembrar em voz alta. E como realmente o horário estava apertado comecei logo a contar tudo detalhadamente.

— Filho da mãe! — esbravejou minha mãe, logo ao ouvir o início do meu relato.

Raquel, sempre a mais nervosa, estava nitidamente contrariada e exclamou, respirando fundo: 

— Vou descobrir o nome e o endereço desse casal escroto e vou até a casa deles falar umas poucas e boas!

 — Sei lá... Achei que foram imbecis, mas talvez estivessem mesmo querendo ajudar o amigo... — ponderei, com sinceridade.

— Por que, logo você, que é toda irritadinha, está defendendo o casal? — indagou Helena, balançando a cabeça em negativa.

— Ah... Gostei da conversa do tal Roberto. Se foi ele mesmo que estava escrevendo para mim, sabe usar as palavras para seduzir — respirei fundo —, e escreve tão certinho... que fico até com pena de ficar com raiva dele. — Gargalhei ironicamente.

— Mas, e o tal Rodolfo, sem chances de uma nova tentativa? — perguntou minha mãe, esperançosa.

— Gente, zero chance de um encontro — afirmei. — O cara estava nitidamente puto de ter ido ao meu encontro e deixou claro que só foi para que eu não ficasse sozinha no bar. — Ergui a sobrancelha. — O que seria menos humilhante do que escutar que eu era até bonitinha e simpática.

Fizemos mais algumas considerações sobre o encontro malsucedido, tomamos rapidamente o café e depois de nos despedirmos, Raquel e eu seguimos caminhando juntas para o trabalho, enquanto conversávamos mais um pouco.

— E aí, não vai ser por causa do fracasso do primeiro encontro, que vai desistir de encontrar novos pretendentes, não é, Bel?

— Não! Claro que não — respondi, enfática. — Eu sabia que não seria mágico e cinematográfico. — Respirei fundo e espremi os lábios. — Comigo nunca foi mesmo... — Sorri. — Não precisava ser tão ridículo e desmotivador, mas você me conhece, coloquei como meta um casamento e filhos e vou batalhar bravamente nesta missão.

Raquel balançou nervosamente a cabeça e me lançou o seu tradicional olhar de reprovação ao escutar sobre meus planos. 

— Você é tão cabeça dura, Isabel! Porra, você não tem que ter como meta casar e ter filhos, o natural e saudável é encontrar alguém com quem se sinta feliz, um companheiro bacana e depois deixar o rio seguir o curso...

— Não estou pensando em felicidade, depois que estiver casada e grávida, começo a pensar nisso! — reforcei meu pensamento para irritá-la. Em seguida, dei uma cotovelada de leve em seu braço e sorri. — Mas e você? Está muito ansiosa para casar, depois do pedido de noivado? — Apertei os olhos e completei, encarando minha amiga: — Eu nunca te ouvi falando em datas. 

Raquel quase sorriu. 

— A gente tem que pensar em tanta coisa... São tantas decisões e tantos detalhes... Preciso de muito mais dinheiro do que tenho, para fazer as coisas do jeito que quero.

— Dinheiro, dinheiro, dinheiro... Onde estás que não me responde? — brinquei.

Ela gargalhou e continuou: 

— Não cairia nada mal ganhar na loteria este ano.

Chegamos à porta de nossas lojas e nos despedimos, com um abraço carinhoso.

— Vamos arrasar hoje! — sentenciou, positiva.

— Pelo menos, dois ou três lápis eu preciso vender hoje, para me sentir um pouco melhor — brinquei.

De Cor e SalteadoOnde histórias criam vida. Descubra agora