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HELENA

O hospital tinha um jatinho especial para emergências e busca de órgãos e depois de um tempinho, recebi a informação que o Antônio já estava de volta no hospital. E eu precisava correr para falar com ele sobre o paciente, o órgão precisava ser do Lucas.

Descobri que ele já estava a caminho da sala de cirurgia para preparar o órgão para o outro paciente. Sai correndo pelos corredores do hospital, me paramentei rapidamente e entrei para falar com ele.

— Você não pode operar aquele Sr, o Lucas precisa de um pulmão. Ele teve uma parada respiratória ,eu tive que fazer uma traqueostomia de urgência e pra piorar , a namorada dele também tem a doença. O que vamos fazer? — falei ainda ofegante e ele me encarou.

— Você fez o que ?

— O atendente estava em uma cirurgia ,o paciente ia a óbito e eu não estudei seis anos pra deixar alguém morrer em minha frente. O que vamos fazer ? — eu o respondi rispidamente pois sabia que ele daria piti.

— Você poderia ter matado o paciente , e eu poderia estar sendo o culpado por ser responsável por você , você tem noção disso? — disse aumentando o tom de voz.

— O PACIENTE ESTÁ MORRENDO! Você pode fazer alguma coisa? — falei ainda mais alto.

— JÁ DISSE PRA VOCÊ NÃO GRITAR COMIGO!

Quando por mim, nós dois estávamos aos berros.

— O que está acontecendo aqui? — o chefe de cirurgia apareceu,nos olhando com um olhar reprovador.

Estávamos sentados na sala do chefe ,enquanto Antônio me fulminava com o olhar.

— Eu me recuso acreditar que dois médicos estavam discutindo enquanto vidas necessitam dos seus cuidados — ele disse caminhando de um lado pro outro.

— Mas chefe... — nós dois falamos juntos.

— Calados! — Você ,Helena... O que aconteceu enquanto o Dr. Antônio estava fora? — ele me olhou,se apoiando sobre a mesa.

O Antônio olhou incrédulo e negou com a cabeça, como se não tivesse gostado da atitude do chefe.

Eu expliquei toda a situação, parte por parte e ele me ouviu atentamente.

— Sim ,o procedimento foi bem sucedido. E se não fosse? Quem teria que colocar o corpo na reta?Ela? NÃO! Havia outros atendentes, se ela procurasse um disponível , eu não estaria gritando com ela.

— Dra. Helena, o Dr. Antônio tem razão em dizer que poderia dar errado. Mas nesse caso foi fundamental pro paciente e eu não vejo problemas com isso. Parabéns pelo procedimento bem sucedido.

— Não acredito que você vai apoiar essa loucura , Chefe? — O Antônio permanecia indignado. Deveria ser ruim pra ele e o seu ego saber que eu também era capaz e que ele não é o Deus soberano desse hospital.

Aproveitei ainda mais a oportunidade e expliquei a situação do Lucas para o chefe, conseguindo que o transplante fosse dele. O que deixou o Antônio mais irritado ainda, querendo o pulmão pro paciente que ele julgava certo. E como o Antônio não podia deixar barato, pediu um minuto a sós com o chefe enquanto eu esperava do lado de fora.

Eu já estava até imaginando, ele deveria estar listando tudo que pudesse pra que eu "perdesse". Mas acho que ele ainda não entendeu que isso não é sobre nós.

— Espero que você já tenha mandado a namorada do paciente pra bem longe daqui. — ele disse saindo da sala, pisando duro.

— Eu achei que você deveria conversar com...— ele me interrompeu enquanto eu tentava acompanhá-lo.

ANATOMIA DO AMOR - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora