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HELENA 

Levei a paciente pros exames , ela fez todos e a levei de volta pro quarto. Chegaram muitas emergências e a manhã foi bem produtiva. Me biparam pra buscar os exames e eu fui. A missão agora seria entregá-los para aquele ridículo do Antônio. Ele acha mesmo que meu mundo vai passar a girar entorno dele?! Ele estava muito enganado.

Os exames estão prontos! — eu disse o encontrando em uma sala em que ele anotava em alguns papéis e deixei os exames na mesa.

— Algum palpite? — ele parou as anotações e me olhou com ar de deboche.

A sua prepotência era tão grande que ele achava mesmo que eu não seria capaz de diagnosticar corretamente.

— Pelos sintomas e pelo histórico da paciente , acredito em um Aneurisma de Aorta torácica — disse seca e indo em direção à saída da sala.

— Mas não são comuns em pessoas com menos de 65 anos. Ela tem 34! — eu parei e olhei pra ele novamente.

— O que não impede dela desenvolver um. Na ficha dela , relata hipertensão e também pode ser por aterosclerose. Enfim , você sabe que pra medicina não existe impossível. — sorri de forma forçada e ele me observou.

— Abra os exames, quero ver se você tem uma boa intuição. — disse disse me encarando e eu revirei os olhos.

Fiz questão de abri-los só pra rachar a cara dele e bingo, eu estava certa.

— Como tinha dito , Aneurisma de Aorta torácica! Ah , e é caso cirúrgico. O aneurisma tem mais de 6cm e forte presença de sintomas. E por aqui, não trabalhamos com intuição, trabalho com ciência.

Sorri vitoriosa e ele pareceu sem graça. Saí sem nem dar chance pra que ele rebatesse.

Ah,Dr. Antônio,você ainda vai se surpreender e muito.

Graças a Deus deu a hora do almoço, já não aguentava mais correr de um lado pro outro e estava fraca de fome. Estava indo em direção ao vestiário quando esbarrei com Tina.

— Eaí gata, como foram as primeiras horas? Está curtindo? — perguntou empolgada.

— Sim e o Rafael acaba de ganhar uma rodada de chopp por minha conta. Ele descreveu corretamente aquele mala. — eu ri e ela também.

— Você e o Rafael são namorados ? Ficantes ? — perguntei curiosa. Afinal, eu poderia estar oferecendo chopp pro namorado dos outros.

— Claro que não menina. Somos amigos com benefícios quando a solidão bate mas geralmente só ocorre quando estamos muito bêbados e eu estou com dor de cotovelo. — ela riu. — Vai almoçar aqui mesmo? — ela abriu seu armário e guardou seu jaleco.

— Acho que sim. Não conheço nada por aqui. — disse fazendo o mesmo e me sentando no banco.

—Conheço um lugar ótimo. Quer ir?

— Eu topo, estou morrendo de fome!

— Ir aonde? Eu também vou!

O Rafael chegou no vestiário e se aproximou da gente

— Comer Rafael , comer! — Tina disse impaciente.

— Aí é comigo mesmo... — disse safado e eu ri.

Ele era muito assanhadinho. E gato também. Vigia, Helena! Você já tem problemas o suficiente.

— Sempre desnecessário!

Tina resmungou e ele me olhou , fazendo um gesto como se falasse para implicar com ela mesmo.

— Vou falar com um amigo meu e vocês me esperam na saída do hospital ? Prometo não demorar.

Eu e o Rafael nos olhamos desconfiados e concordamos com a cabeça. Ela jogou um beijinho no ar e saiu.

— Dona Tina ,essa aí é conhecida como quem dá nó em pingo de éter! — ele riu. Vamos ruiva, vamos esperar sentados porque em pé vamos cansar. — ele disse, pegando suas coisas e eu também peguei as minhas.

Ele passou por mim e deu um "aperto" na minha cintura. Mãos fortes , gostei disso.

O horário de almoço acabou passando rápido e até que foi bem legal. A sintonia com o Rafa e Tina foi incrível, pareciamos que nos conhecíamos há tempos e já estávamos marcando nossas saídas pelo Rio de Janeiro.

O restaurante ficava perto do hospital, fomos andando de volta e fomos direto para nossas funções. O Rafael foi me acompanhando porque o lugar que iríamos ficar era bem próximo.

— Então Leninha, vou nessa! Boa sorte com o mala aí..;— ele riu e eu revirei os olhos só de lembrar. — Óh, não vou esquecer do meu chopp e do karaokê hein?! — ele disse apontando pra mim e eu concordei com a cabeça.

— Pode deixar, tá tudo certo pra dar errado! — eu ri.

Ele jogou um beijo no ar e saiu. Ele era muito gatinho... Aff, se controla Helena!

Entrei no quarto e a paciente não estava. Meu coração gelou e eu pensei mil coisas. Sai correndo e parei o primeiro enfermeiro que vi.

— Você viu a paciente do 220? Fui prepará-la para cirurgia e ela não estava.

— Se não me engano, a paciente já está em cirurgia. Paciente do Dr. Antônio? — concordei com a cabeça

— Deixa eu ver no quadro de cirurgia. — ele saiu e eu fiquei apreensiva.

Não era possível , tenho certeza que era pra depois do almoço... A não ser que aquele ridículo tenha adiantado sem me avisar nada.

Fui interrompida dos meus pensamentos quando o enfermeiro voltou.

— Isso mesmo Dra. Helen, ele já está na SO — ele sorriu simpático e eu agradeci.

Filho da puta , ele entrou para cirurgia só porque eu não estava. Que ódio!

Saí bufando dali e fui pro PS do hospital pra tentar passar meu ódio. Não era justo. Eu tinha o direito de entrar naquela cirurgia também.

Passei a tarde inteira lá , não estava nem aí pra aquele idiota. Eu iria me importar com quem precisava dos meus cuidados.

Por volta das 19:00, fui bipada. Os elevadores estavam ocupados então subi rapidamente pelas escadas e cheguei ao destino. Era a paciente em que eu não participei do procedimento. E ele estava lá, me olhando como se não tivesse feito nada. 

ANATOMIA DO AMOR - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora