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ANTÔNIO LUCCA

Ela era boa, dedicada e inteligente. O que eu odeio ter que admitir que mais uma vez me enganei a respeito dela. Mas, não seria tão fácil assim pra ela. Eu queria ver se ela era realmente durona e se ia aguentar a pressão. Afinal ,por trás de um bom médico, sempre existe um bom professor.

Meu dia tava corrido e só pra hoje já havia marcado duas cirurgias. Estava terminando de assinar umas altas quando Tina apareceu em minha sala.

— Você não para nem na hora do almoço, Luquinha? — ela disse pra me irritar me chamando dessa forma.

— Já disse que aqui eu sou Dr. Antônio — falei sem tirar os olhos do papel.

— Tô indo almoçar com o Rafa e uma das suas residentes. Quer vir ? — ela disse mexendo na calculadora que havia na mesa.

— Você sabe que não almoço com meus residentes,Tina! Quem sabe quando eu tiver tempo, almoce eu e você. — falei checando os papéis mais uma vez pra não ter erro.

— É a Helena. Você gostou dela? Não sei dizer porque mas minha intuição me diz que ela vai ser uma grande médica.

Parei de mexer nos papéis e a olhei.

— Aonde você quer chegar com isso? — falei cruzando os braços e a encarando.

— Meu Deus , a lugar nenhum. Não posso perguntar o que você pensa de uma colega de serviço que inclusive é sua residente? — ela disse irritada.

— Ainda é cedo pra formar uma opinião sobre. Agora se não se incomodar , eu preciso terminar a papelada tá, meu bem? — disse irônico e ela revirou os olhos, se aproximando e me dando um beijo do rosto.

Tentei me esquivar mas ela sempre consegue.

— Ah, e ninguém além do Rafa sabe que você é meu irmão, tá? Fiz como o combinado — ela sorriu de forma forçada e eu concordei com a cabeça.

Ela saiu da sala ,eu parei de anotar e respirei fundo. Eu sempre levei meu trabalho como a parte mais importante da minha vida e eu nunca havia sequer dormido com alguma colega de trabalho em todos os anos aqui.

Nunca gostei de misturar as coisas e agora toda essa situação com a Helena, me deixava profundamente incomodado.

Além de ter que lidar com a Helena como residente, teria que lidar com ela sendo amiguinha da Tina?

Acho que iria enlouquecer.

Eu não curtia pausas muito longas para o almoço, então comi e logo fui adiantar a minha cirurgia. E por alguma ironia, a Helena não estava aqui. Eu poderia bipar ela mas ela iria aprender que pra ser boa de verdade, ela precisa entender que cada minuto aqui dentro, importa.

A cirurgia levou algumas horas, eu acabei entrando em outra logo em seguida e assim que terminei, resolvi bipá-la.

— Dr. Helena ,a cirurgia da Joana foi realizada com sucesso. Colocamos um tubo para substituir a parte comprometida da Aorta. Preciso que fique monitorando a paciente em casos de complicações pós -cirúrgicas. — disse checando a paciente.

— Mas ela não é minha paciente ,Dr...Eu não participei da cirurgia. Sugiro que encontre o residente que acompanhou o caso — ela disse seca e saiu da sala.

Eu respirei fundo, pedi licença a paciente e fui atrás dela.

— Dr. Helena, quem você pensa que é pra me desrespeitar assim? — falei com ela antes que ela se afastasse da porta, a encarando.

— A residente que você sei lá porquê odeia. E se antes você não tinha motivos pra me odiar , agora você terá! — Ela disse dando ombros e saindo andando, o que a me fez puxar e fazer com que ela me olhasse.

ANATOMIA DO AMOR - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora