Capitulo 4

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Uma das razões pelas quais Noah escolhera essa casa foi o fato de já ter uma câmara escura no porão. Um legado do inquilino anterior, que se interessara por fotografia durante um tempo.

Não que Noah se interessasse. Para ele, era mais uma compulsão. Tinha crescido vendo a vida através de uma lente de vinte e quatro milímetros. Agora que ganhava para fazer isso — e muito bem —, sua animação toda vez que capturava a cena perfeita não diminuía.

Atualmente, a maioria das suas fotos era digital, reveladas na tela brilhante do seu laptop em vez de em um porão escuro e úmido.

Mas, como um homem que preferia cortar a própria madeira só para sentir o peso do machado nas mãos, havia algo reconfortante em poder revelar as fotos que tirava com a vodak dos anos 50 do avô.

Trabalhava sob o brilho vermelho da luz de segurança enquanto movia a impressão do banho de revelador para o de interrupção e depois para o fixador, até pendurá-la para secar. Era bom fazer as coisas dessa maneira — usar os mesmos processos que costumava usar quando jovem, a mesma câmera que o avô lhe dera em seu aniversário de catorze anos.

Naquela época, ele perdeu mais do que algumas fotos impressas devido à superexposição ou por não ter colocado o papel no banho rápido o suficiente. Foram necessários anos de prática para desenvolver a revelação perfeita, e, ainda assim, sempre havia a possibilidade de algo dar errado. Por alguma razão, ele gostava muito mais disso do que de mexer em seu MacBook.

Noah terminou a última foto — de Matthew escalando Miss Maisie — e saiu da sala, tomando cuidado para não expor as imagens à luz. Depois de subir as escadas para o térreo, foi checar se o filho estava bem, sorrindo ao vê-lo dormir enrolado em cima das cobertas, a mão na boca enquanto chupava o polegar. Matthew estava acostumado a dormir em qualquer lugar — resultado de sua criação —, mas ainda achava difícil se acalmar durante sua primeira semana em Shaw Haven.

Após pegar uma cerveja na geladeira, Noah ignorou a atração do laptop e, em vez disso, se dirigiu para a varanda. Pegou a câmera com a intenção de desmontá-la e limpar a lente enquanto observava o sol se pôr. Mas, quando saiu, percebeu que não era o único que planejava passar algum tempo sob o sol da tarde.

Sina estava ajoelhada na grama em frente ao seu bangalô com uma pequena pá em uma das mãos cavando a terra dos canteiros que cercavam a casa. Ele observou enquanto ela plantava flores vermelhas e cor-de-rosa cuidadosamente, enchendo o solo antes de borrifá-las com água da sua lata de metal pintada de azul.

O cabelo estava preso em uma trança francesa que pendia em suas costas, a cor ainda mais marcante que de costume. Ele sentou ali, com a câmera no colo, os dedos tocando suavemente a lente preta, e observou enquanto ela cuidava do pequeno jardim. Estava alheia ao mundo, deixando à mostra o pescoço longo e esguio à medida que se inclinava sobre o solo, balançando os quadris enquanto se movia de um lado para outro pegando plantas e as colocando no lugar certo. Era um retrato à espera de ser tirado, uma observação da perfeita beleza.

Afastando o olhar, Noah pegou o pano macio que usava para a câmera e limpou a lente com suavidade. Quando ergueu a cabeça, alguns minutos depois, Sina havia terminado seu plantio. Ela estava de pé, os braços cruzados enquanto examinava sua obra.

Afastou uma mecha de cabelo loiro do rosto — os fios balançando na brisa suave da noite.

Ela estava completamente alheia à sua presença, tão envolvida na colocação exata das plantas que nada mais existia a seu redor.

Era linda de um jeito clássico — como aquelas mulheres do século XVII que se viam nas paredes de galerias de arte.

Seus pensamentos se voltaram para Joalin, a mãe de Matthew.

Uma luz no Outono - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora