Capitulo 14

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Noah parou o carro ao lado do portão. Embora a chuva tivesse diminuído um pouco, a tempestade mantinha a maioria das pessoas longe do cemitério. Estava agradecido pelo silêncio — fazia muito tempo que não visitava aquele lugar.

Tempo demais.

A última vez que passara por aqueles portões de ferro forjado tinha sido quando estava carregando o caixão do avô para o local de seu descanso final.

Depois de todos aqueles anos, estava de volta, mas desta vez com seu filho. Sua carne e seu sangue. Alguém que não o julgava por seu dinheiro ou suas escolhas. A única pessoa no mundo que o aceitava pelo que ele era, nunca pedindo ou exigindo mais.

A pessoa pela qual daria a vida sem pestanejar.

— Está pronto? — perguntou a Matthew, pegando o guarda-chuva no banco de trás e dando a volta para ajudar o filho a sair do carro.

Matthew assentiu. Estava carregando um pequeno vaso de plantas que tinha decorado em casa.

— É onde o vovô Cutler está enterrado?

— Isso mesmo. E a vovó Maisie.

— Mas eles são seu vovô e sua vovó, não é? Não são meus? A minha avó é a Johanna, não é? — Ele estava falando sobre a mãe de Joalin. Matthew ainda não tinha entendido como as relações familiares funcionavam, e Noah sabia que parte disso era culpa dele.

Ele raramente falava da própria família para o filho, além de seu avô; não era de admirar que o garoto estivesse confuso.

— Cutler e Maisie eram seus bisavós.

Matthew assentiu, sério, envolvendo as mãozinhas na alça de metal do guarda-chuva e o puxando para perto da cabeça.

— Tudo bem, então.

Dentro do portão, os caminhos que serpenteavam ao redor dos túmulos estavam vazios como o estacionamento.

Noah limpou a água da chuva do rosto, depois colocou o braço nas costas de Matthew, levando o filho para o interior do cemitério. Ocasionalmente, cruzavam com uma família — de cabeça baixa e guarda-chuva preto — prestando homenagem aos entes queridos naquela tarde de Ação de Graças.

Finalmente passaram pelas árvores que conduziam ao mausoléu de sua família. Era uma parte privada do cemitério, marcada por bustos de mármore e pedras intrincadas. Tudo nas sepulturas refletia a riqueza de seus ancestrais. Os Urreas moravam naquela cidade desde o século XVIII, embora o cemitério tivesse sido construído apenas em 1835.

Os dois seguiram pela esquerda, passando pelos nomes familiares dos antepassados de Noah; Marthas e Williams, Johns e Eleanors, todos enterrados havia muito tempo, embora o sangue deles ainda corresse por suas veias.

Com a mão firme nas costas do filho, ele o conduziu até as duas lápides brancas e simples que marcavam o lugar do descanso final de seus avós.

Foi quando percebeu que não estava sozinho. De pé ali, usando um casaco vermelho grosso e abrigada debaixo de um guarda-chuva cinza-claro, estava sua mãe.

Ela olhava para as lápides com os lábios vermelhos franzidos e os olhos semicerrados. Parecia menor do que ele se lembrava — menor e mais magra —, e seu cabelo, antes comprido e saudável, estava ralo. Quando ele e Matthew se aproximaram das lápides, ela ergueu a cabeça, piscando enquanto tentava se concentrar nas figuras à sua frente.

— Noah? — Como o restante dela, a voz de Wendy Urrea parecia quase sem peso. — É você?

O coração de Noah estava acelerado. Ele limpou a garganta, tentando engolir o caroço que havia se formado ali. Da última vez que vira essa mulher —, meia vida atrás —, ela estava chorando, com o rosto vermelho de tristeza e os olhos molhados de lágrimas.

Uma luz no Outono - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora