A verdade doeu. O silêncio que a sucedeu doeu ainda mais.
Dias se passaram sem qualquer contato, dias que viraram semanas, duas semanas de ligações sussurradas com Elliot e mais nada. Fora isso, silêncio.
Meu pai não ousou pagar para ver se eu teria coragem de cumprir a ameaça que o fiz, e apareceu na casa dos Horan ao anoitecer daquele dia, para confirmar tudo o que eu dissera, com muita vergonha e arrependimento, de acordo com Elliot. Parte de mim, ainda que ínfima comparada ao resto ainda muito machucado por sua participação naquela trama, ficou aliviada ao saber disso; no fundo, eu sabia que queria perdoá-lo, agora que a poeira baixara e eu enxergava a situação com olhos mais distanciados, com a mente menos atribulada pelo furor da descoberta. Somente o tempo diria o que de fato aconteceria.
No momento, eu tinha outras preocupações mais urgentes com as quais lidar. Como, por exemplo, o fato de que Harry estava passando as tardes na mansão, junto ao filho, enquanto Niall ainda estava lá.
- Não posso dizer que o clima é leve - disse meu espião, numa de nossas conversas telefônicas às escondidas - Mas não aconteceu nenhuma tragédia até agora. Cada um fica no seu canto, sem sequer se verem. Mesmo assim, não é difícil perceber que Niall fica no limite de seu autocontrole só de saber que Harry está aqui.
Meu coração doeu ao imaginar o que ele estava enfrentando, a batalha interna que travava... Se o desejo de correr até ele e abrigá-lo em meu abraço apenas se intensificou, mas eu sufoquei o impulso com todas as minhas forças, mesmo que isso me causasse ainda mais sofrimento.
- Não deve ser fácil para ele assistir ao homem que tanto o prejudicou entrar pela porta da frente em sua própria casa, e ocupar o posto com o qual ele enfim começava a se acostumar.
- Realmente, não é uma cena nada bonita de se ver - Elliot concordou, penalizado - Pelo menos Ben tem se dado bem com o pai. Claro que ainda existe uma confusão a respeito dessa mudança brusca, mas ele está se adaptando bem, e Harry está bastante comprometido com a tarefa de deixá-lo o mais confortável possível durante essa transição.
- Fico feliz por isso, de coração... Por Ben, por Emily, por todos vocês. Mas por Harry... - falei, com um nó na garganta ao me recordar da forma como ele olhou para o filho no fatídico encontro há alguns dias - Depois de tudo o que me fez passar, e não falo só dos recentes acontecimentos, acho que levarei um bom tempo para aceitar que ele está feliz, que conseguiu o que tanto queria, apesar de seus métodos horríveis.
- Entendo perfeitamente... Você tem todo o direito de se sentir assim.
Alguns segundos de quietude reflexiva se seguiram, até que ele se pronunciou, como se soubesse exatamente a pergunta que eu queria fazer.
- Ele não está bravo com você.
Suspirei, apertando a réplica de tartaruga prateada pendendo de meu pescoço como um fanático religioso apertaria um pingente da cruz em seus momentos de aflição.
- Como pode ter tanta certeza?
- Primeiro, porque ele não é capaz de nutrir qualquer sentimento ruim por você. Segundo, porque ele não está bravo comigo.
- Não está? - questionei, positivamente surpresa, e Elliot confirmou - Ele disse alguma coisa? Conversou com você?
- Não exatamente. Ontem à noite, depois do jantar, eu o procurei. Disse que você merecia uma satisfação depois de tudo o que fez pela nossa família, fosse ela positiva ou negativa.
- Você disse isso? - indaguei, sem conseguir conter a angústia que crescia cada vez mais dentro de mim.
- Claro que sim, eu precisava dizer e ele precisava ouvir - Elliot confirmou com veemência - Conversamos por alguns minutos sobre você... Ele perguntou como foi sua conversa com seu pai. Eu falei a verdade, que você foi muito corajosa e que ele deveria se orgulhar... Nem todo mundo iria tão longe para descobrir uma verdade que mal lhe diz respeito.
Mordi o lábio inferior, tocada por suas palavras. Nota mental: abraçar (e muito) Elliot quando o visse outra vez.
- Obrigada pelo apoio - murmurei com sinceridade - Significa muito para mim.
- Sem problemas, só fui honesto - ele disse num tom bem humorado - Niall levou anos para encontrar a mulher perfeita, e agora que ele a tem, não posso deixá-lo perdê-la. Já que eu não tenho mesmo chances com ele, que esteja em boas mãos, e seu nome vem logo abaixo do meu na minha lista.
Ambos rimos de seu comentário; em momentos assim, eu sentia que já o conhecia há muito mais tempo do que apenas algumas semanas.
- Prometo que cuidarei muito bem dele - suspirei quando nosso riso cessou, adornando minha voz com alguma melancolia - Isto é, se ele voltar pra mim...
Elliot grunhiu do outro lado da linha, claramente enojado com minha postura derrotada.
- Eu me recuso a sustentar esse tipo de pensamento. Dê tempo ao tempo, garota! Mais cedo do que você imagina, ele estará batendo à sua porta de novo. Confie em mim, conheço o primo que tenho.
- Espero que sim, Elliot - falei, de olhos fechados, como uma prece - Espero que sim.
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Biology II
FanfictionTodos os problemas pareciam superados... Pelo menos os problemas que não não existiam.