A janela do táxi estava completamente aberta, mas o ar continuava a me faltar. A cidade passava depressa diante de meus olhos enquanto eu me aproximava de casa, quando na realidade tudo o que eu queria era não ter que lidar com o que me esperava lá.
Agora que o susto inicial havia passado (se é que isto era realmente possível considerando-se a situação), meu corpo começava a indicar sinais de que algo além de álcool ainda corria em minhas veias. Mesmo tendo sido dopada, nada parecia fora do comum... Em outras palavras, nada parecia ter acontecido. Mas eu não tinha motivo algum para confiar em Harry. De qualquer forma, o nojo que se apoderou de mim ao imaginar que os efeitos da noite anterior continuavam se manifestando em meu organismo através da leve tontura e náusea que sentia só causou, com sua intensidade, a piora desses mesmos sintomas. Meus olhos ardiam com lágrimas que eu me recusava a derrubar, negando cada uma delas com todas as minhas forças. Eu sabia que em algum momento elas me derrotariam, mas não ali, não tão facilmente; além do mais, o pior ainda estava longe de terminar. Eu teria que chegar em casa e certamente encarar perguntas, perguntas que eu não sabia como responder... Ao pensar nas possibilidades, meu coração só doía mais. Ter que relatar o ocorrido (isto é, o que eu sabia do ocorrido) para minha mãe... Eleanor...
Niall...
Engoli um soluço, com a visão embaçada por lágrimas. O taxista se remexeu em seu assento, claramente desconfortável com meu estado deplorável.
Não me importei. Eu só queria sumir.
A curta caminhada do carro até a porta de casa foi terrível. A cada passo, minha vontade de correr na direção oposta só crescia; se ao menos eu tivesse para onde ir...
Não. O erro fora meu, e eu tinha que arcar com as consequências, não fugir delas.
Minhas mãos tremiam ao encaixar a chave na fechadura. Bastou destrancá-la para que passos fossem ouvidos do outro lado da porta, se aproximando rapidamente. Girei a maçaneta, ao mesmo tempo em que a primeira lágrima de muitas rolou por meu rosto.
– Filha... Graças a Deus!
Meus calcanhares ainda estavam sobre o tapete de boas-vindas quando vi minha mãe parada diante de mim, mais aflita do que nunca. Um sorriso aliviado surgiu em seu rosto, e suas mãos seguraram o meu, buscando uma resposta para meu sumiço em meus olhos. Os pensamentos e sentimentos desconjuntados que encontrou somente a preocuparam ainda mais, ao invés de confortá-la.
– O que houve? O que aconteceu? Você está bem?
Respirei fundo, mesmo sabendo que a falta de ar persistiria, e tudo o que pude fazer em seguida foi desmoronar no abraço de minha mãe.
Ela murmurava perguntas desesperadas, mas eu não conseguia responder. Eu só chorava, e chorava, e me odiava, e queria poder voltar no tempo e evitar que aquilo estivesse acontecendo. Ela não merecia aquela preocupação.
Senti outro par de mãos sobre meus ombros e outra voz chamar meu nome, e mesmo sendo familiar, levei alguns segundos para reconhecê-los como sendo de Eleanor. Quando consegui recuperar um pouco do controle sobre minhas emoções, vi que ela me encarava com os olhos arregalados, pálida, tão apavorada quanto minha mãe.
– (S/N)... O que aconteceu? – ela sussurrou, incapaz de elevar a voz diante de tanto medo. Fechei os olhos, evitando a preocupação gritante em seu rosto, e apenas balancei negativamente a cabeça. Eleanor insistiu, repetindo sua pergunta com um pouco mais de veemência. Engolindo o choro que ameaçava me dominar novamente, balbuciei algumas palavras.
– Ele... Ele me enganou.
– Quem? Quem te enganou, filha? – minha mãe indagou imediatamente, enxugando minhas lágrimas com as mãos trêmulas.
Meus olhos voltaram a fitá-la, e a resposta saiu de minha boca após uma breve hesitação.
– Harry.
Ambas adotaram feições ainda mais aterrorizadas ao terem seus receios confirmados. Minha atenção foi roubada não muito tempo depois, no entanto, por uma terceira figura, parada alguns passos atrás de minha mãe, que eu até então não tinha visto.
Meus pulmões foram esvaziados instantaneamente ao identificar Niall diante de mim.
O choque me paralisou por alguns segundos. Sustentei seu olhar, vazio e ao mesmo tempo cheio de significados, até inspirar profundamente, como se tivesse acabado de emergir de um mar agitado, e correr para as escadas, puramente movida pelo pavor de sua reação ao descobrir o que tinha acontecido. Ouvi passos me seguirem, porém fui mais rápida e consegui me trancar em meu quarto, ignorando os chamados do outro lado da porta. Minha respiração estava superficial e entrecortada, não só pelo súbito esforço físico, mas também pelo nervosismo que se apoderava cada vez mais de mim.
Andei em círculos por um instante, tentando raciocinar, mas nada parecia aliviar meu pânico. Esfreguei o rosto com as mãos, enxugando as lágrimas que caíam de meus olhos, e senti cheiro de álcool e vestígios de cigarro em minhas roupas devido à noite anterior. A náusea que me incomodava desde que acordei voltou com força total, e eu corri para o banheiro, despejando todo o conteúdo de meu estômago no vaso. A fraqueza que se seguiu só me tornou mais refém do choro, que agora fazia com que soluços escapassem por minha garganta. Reuni minhas forças e tirei aquelas roupas, entrando no chuveiro para que o jato de água escaldante ajudasse a remover aquela sensação horrível de sujeira de meu corpo. Peguei a esponja e o sabonete e esfreguei cada centímetro de pele com todo o meu empenho, até me certificar de que mais nenhum traço de qualquer contato com Harry, físico ou verbal, restava.
As lembranças persistiam. E eu não podia abrir minha cabeça, tirar meu cérebro dali de dentro e esfregá-lo também. Eu jamais me esqueceria.
Saí do banho e me enxuguei devagar, ainda tremendo da cabeça aos pés. Não ousei encarar meu reflexo no espelho ao escovar os dentes – três vezes. Não penteei meus cabelos; deixei-os pingando sobre minhas costas avermelhadas pela repetida fricção com a esponja. Vesti qualquer pijama que encontrei e parei diante da porta, onde minha mãe e Eleanor ainda esperavam. Apesar de seus chamados terem cessado, eu sabia que elas estavam ali.
Eu sabia que ele também estava. Mas eu não o queria lá.
Eu não queria ter que abrir a porta, olhar para aquelas pessoas e dizer a verdade.
Mas eu o fiz mesmo assim.
Ninguém disse uma palavra ao me ver. Não ergui meu olhar para ninguém. Apenas foquei minhas energias em minha voz, me certificando de que ela seria audível.
– Me desculpem... Eu... Precisava de... Um tempo.
O silêncio se manteve por um breve momento antes de alguém se manifestar.
– Tudo bem – minha mãe assentiu, agoniada – Agora nos diga o que houve, querida... Por favor.
Continuei evitando os olhares de todos, e assenti de volta, caminhando até minha cama e me sentando sobre ela. Os três me seguiram; minha mãe e Eleanor imediatamente se sentaram ao meu lado, colocando mechas de meu cabelo atrás de minha orelha e acariciando meus ombros em forma de apoio. Niall ficou de pé diante da cama, como que incapaz de reagir apropriadamente. Mantive meus olhos baixos, ainda que eu ansiasse por descobrir qual era a expressão em seu rosto, e pude ver suas mãos trêmulas, fechadas em punhos, denunciando o nível de seu autocontrole para não sair correndo dali e procurar Harry.
Virei a cabeça na direção de Eleanor, e comecei a relatar o que havia acontecido.
– Ontem, quando você foi falar ao telefone com Ewan... Um barman me ofereceu uma bebida, dizendo que... Dizendo que Niall a havia mandado para mim.
– Niall? Mas ele nem estava lá... – Eleanor disse, absolutamente confusa.
– Exatamente – continuei, ignorando o medo absurdo das reações que o resto da história causaria – Foi tudo um plano de Harry.
– Ele estava lá? – minha mãe perguntou, e eu assenti – Como ele sabia...
– Dianna, a aniversariante... Ele se aproximou dela há alguns dias, de propósito – respondi, voltando a me sentir enjoada – E também conhecia o barman... Ele planejou tudo.
Alguns segundos de silêncio se seguiram, até que eu decidi verbalizar o que todos já tinham deduzido.
– Ele me drogou... E me levou para sua casa.
A memória de ver “Niall” em meio às pessoas, parado de costas para o bar, me veio à mente. Eu queria tanto que ele estivesse lá que deixei minha saudade me trair. Apesar da tristeza, prossegui.
– Quando eu o vi, depois de aceitar a bebida... Eu pensei que ele fosse...
Não pude completar minha frase. No entanto, alguém o fez.
– Você pensou que ele era eu.
Pela primeira vez, ergui meus olhos até os de Niall, e vi refletida neles uma dor grande demais para não sucumbir às lágrimas. Confirmei com a cabeça, expressando todo o meu arrependimento em meu rosto, e ele fechou os olhos com força. Minha garganta se fechou momentaneamente ao vê-lo dar as costas para mim e cobrir o rosto com as mãos.
– Eu não sabia... Pensei que você... Que você estava lá... Para me fazer uma surpresa – falei, em tom de súplica, porém minha mãe me interrompeu.
– E então? – ela questionou, tentando evitar mais nervosismo de minha parte – O que ele fez?
Me recuperei do pavor que a reação de Niall causou, e respondi.
– Ele disse que não fez nada comigo... Mas não me deu certeza. Eu não me lembro de nada depois de deixar a festa... Eu não sei o que ele pode ter feito...
Eleanor apertou minha mão, apoiando a testa em meu ombro para esconder seu rosto e o medo nítido nele.
– Mãe... – murmurei entre soluços, ousando olhar para ela e fraquejando ainda mais ao encontrar seus olhos temerosos – Eu estou com tanto medo...
– Oh, meu bem – ela disse, com todo o amor do mundo, me abraçando mais uma vez e acariciando meu cabelo – Você está a salvo agora... Nós estamos aqui, e não vamos deixar que nada aconteça.
Ela sussurrou palavras de conforto por algum tempo, apoiada por Eleanor, até que eu conseguisse conter minhas lágrimas novamente. Quando percebeu que eu estava mais calma, ela segurou meu rosto para que eu prestasse atenção no que diria.
– Nós vamos cuidar de você... E encontrar esse monstro e fazê-lo pagar por isso. Eu juro.
Assenti, desejando mais do que tudo que suas palavras magicamente se tornassem realidade.
– Nós vamos descobrir o que aconteceu... Está bem? – Eleanor adicionou, massageando meu ombro – Vamos denunciá-lo. Se... Se algo aconteceu, um exame de corpo de delito é suficiente para que ele nunca mais possa tocar em você.
Engoli em seco, insatisfeita com aquela solução.
– Não tenho tanta certeza disso – falei, por mais que quisesse apenas acreditar que tudo realmente daria certo como ela disse – Pessoas me viram deixar a festa com ele... Voluntariamente. A não ser que o que ele usou para me dopar ainda esteja em meu sistema, ele pode alegar que eu saí de lá com ele por livre espontânea vontade.
– Vai dar certo, filha – minha mãe interveio, assentindo com convicção – Nós vamos provar tudo o que ele fez e colocá-lo na cadeia.
– Ele não tocou em você.
A voz de Niall, tão grave e cheia de seriedade depois de tanto silêncio da parte dele, fez com que nós nos assustássemos. Ele ainda encarava a parede oposta, e seus ombros tremiam – de ódio, certamente.
– Como assim? – Eleanor perguntou pelas três.
Niall manteve seu tom contido, como se temesse perder o controle caso se exaltasse minimamente.
– Ele sabe de tudo isso... Sabe que existiriam provas que poderiam condená-lo. Tendo sido capaz de arquitetar todo esse plano, ele não seria burro a ponto de cometer um deslize desses.
Lentamente, ele se virou em minha direção, e com os olhos cheios de determinação, completou sua resposta.
– Além do mais, ele sabe que se tivesse encostado um dedo em você, eu seria capaz de matá-lo.
Um arrepio percorreu minha espinha ao ouvi-lo dizer tamanho absurdo com tamanha sinceridade; me levantei na mesma hora, e fui até ele, com lágrimas nos olhos.
– Nunca mais diga isso – implorei, erguendo minhas mãos até seu rosto – Por favor... Nunca mais.
Niall travou o maxilar, devolvendo meu olhar apavorado com um rígido, ameaçador. Percebendo que ele se mantinha inflexível, longe demais, perdido em seu ódio, fiz a única coisa que estava ao meu alcance para trazê-lo de volta, mesmo que ainda me sentisse suja para sequer tocá-lo.
Meus lábios, úmidos com minhas lágrimas, encontraram os dele, e permaneceram ali até que ele soltasse parte do ar que prendia em seus pulmões, anunciando que a raiva que o cegava havia se dissipado. Niall me abraçou pela cintura, mais apertado do que nunca, e enterrou o rosto em meu pescoço, como se buscasse se fundir a mim e absorver a minha dor para que eu não tivesse que senti-la sozinha. As lágrimas mais dolorosas caíram de meus olhos enquanto estava em seus braços.
Ouvi minha mãe e Eleanor deixarem o quarto, percebendo que precisávamos de um momento a sós, e assim que a porta se fechou atrás delas, Niall se desenroscou de mim e examinou meu rosto, acariciando cada traço com seus polegares, buscando por qualquer detalhe que fosse incompatível com sua lembrança dele. Seus olhos estavam avermelhados, e lágrimas ameaçavam cair a qualquer momento; ele me beijou mais uma vez antes que isso acontecesse.
– Eu sinto muito... – murmurei contra seus lábios – Eu não queria...
– Eu sinto muito... – ele interrompeu, incapaz de me libertar do aperto de seus braços – Eu sinto muito que ele tenha estragado a sua noite. Você estava tão feliz quando se despediu de mim... E eu nem pude fazer nada... Me desculpe...
– Não, não peça desculpas, Niall – respondi prontamente, enxugando uma lágrima que rolava por seu rosto – Não foi culpa sua... Ninguém poderia prever que ele estaria lá.
– Como você está se sentindo? Está com alguma dor? – ele disparou, acariciando toda a extensão de meus braços.
Neguei com a cabeça sem nem pensar se algo realmente doía. A sensação de tê-lo perto de mim, me apoiando apesar de tudo, me fazia um bem maior do que eu podia mensurar.
– Nós vamos fazê-lo pagar... Caro. Está bem? Eu prometo.
– Eu sei que vamos – assenti, olhando-o com uma súbita determinação que não me pertencia – Vai dar tudo certo.
– Vai dar tudo certo – ele repetiu, com toda a convicção do mundo – Vamos, eu te levo até a delegacia. Nós vamos provar que esse cara não tem condições de permanecer em liberdade.
Me arrumei em alguns minutos, com certa ajuda de Niall, e encontramos minha mãe e Eleanor na sala. Fomos até o distrito policial mais próximo e prestamos queixa. Fiz todos os exames necessários, e por mais que me doesse ter que sair de lá sem os resultados, que levariam alguns dias para ficarem prontos, não tive outra opção. Aqueles seriam os dias mais longos de minha vida, sem dúvida.
Na volta para casa, passamos num restaurante e almoçamos (ou jantamos?) os maiores hambúrgueres de minha vida. Apesar de tudo, consegui relaxar um pouco. Estava rodeada das pessoas que mais amava, e que me amavam e me apoiavam incondicionalmente. Se eu teria que aguardar pelos resultados, era melhor tentar não pensar no pior, e todos à minha volta pareciam dispostos a me distrair a qualquer custo.
Niall e Eleanor passaram o resto do dia em casa. Ewan apareceu assim que chegamos, e já sabendo de tudo por meio de Eleanor, apenas me deu um longo e apertado abraço, dizendo o quanto sentia muito por tudo e como eu podia contar com ele para qualquer coisa. Passamos o resto do dia vendo TV e buscando compensar o dia horripilante com uma noite tranquila.
Posso dizer que funcionou. Em alguns momentos, Harry me vinha à mente, porém logo alguém me trazia de volta ao momento, e eu me forçava a abandonar os pensamentos negativos. Tudo daria certo, ou pelo menos era isso o que eu via nos olhos de cada um dos presentes.
Eleanor e Ewan foram embora pouco depois da meia-noite, com muitos beijos e abraços. Levá-los até a porta foi a única coisa que fiz sem a companhia de Niall desde que chegamos em casa; ele se recusava a me deixar, sempre com um braço ao redor de meus ombros, ou uma mão firmemente unida à minha.
Minha mãe nem titubeou, e o convidou para passar a noite. Ele já havia dito que o faria, quer ela permitisse, quer não, e eu também já havia concordado com seu plano. Eu precisava dele; a mera ideia de termos que nos despedir fazia meu coração doer, e eu ainda me sentia fraca demais para aguentar mais tristeza.
Nos despedimos de minha mãe, que parecia absolutamente exausta ao seguir para seu quarto, e fomos para o meu. Niall me abraçou pela cintura assim que fechei a porta, e novamente seu rosto encontrou a curva de meu pescoço. Depois de uma eternidade apenas abraçados, em silêncio, encaramos um ao outro por um longo tempo, tendo nossas preocupações amenizadas por estarmos juntos. Naquele instante, protegida por seus braços, por todo o amor que ele demonstrava sem sequer dizer uma palavra, eu tive a certeza de que Harry jamais conseguiria nos separar, por mais que tentasse.
E enquanto eu tivesse Niall ao meu lado, eu era mais forte do que nunca. Eu era invencível.
– Feche os olhos – ele murmurou em meu ouvido, beijando meu maxilar rapidamente em seguida. Obedeci sem pestanejar, apesar da curiosidade. Niall se afastou brevemente, e ao se reaproximar, passou o que parecia uma corrente de um colar por minha cabeça. Franzi a testa de leve, até que ele voltasse a falar.
– Pode abrir.
Ergui minhas pálpebras, e automaticamente olhei para baixo, encontrando o pingente de tartaruga que eu o havia dado de presente pender de meu próprio pescoço. Fitei o pequeno objeto por um momento antes de voltar a encará-lo, tentando entender o que ele pretendia.
– Niall... O que é isso? – perguntei, enfim, diante de seu silêncio satisfeito. Ele pegou o pingente e o fitou vagamente enquanto respondia.
– Isso... Isso é o colar que você me deu de aniversário. Você me deu esse colar, e no dia seguinte, você me deixou. Lembra?
Confirmei com a cabeça, engolindo em seco ao recordar aqueles momentos.
– Durante aqueles três meses de distância, a única lembrança que eu tinha de você, o único objeto que eu podia tocar que me fazia acreditar, ainda que por um instante, que eu te veria de novo... Era esse colar.
Niall levou seus lábios até a tartaruga prateada, e a beijou antes de prosseguir, sem tirar os olhos dos meus.
– Quando eu segurava esse pingente, eu pensava em você... Em como você me faz uma pessoa melhor. E isso me motivava a querer ser alguém melhor... Para que eu pudesse voltar para você. E aqui estou eu.
Eu mal era capaz de piscar, completamente hipnotizada pela atmosfera que ele havia criado com suas palavras, sua voz, seu olhar, seu toque... Meu coração batia acelerado, feliz, radiante... As feridas profundas que Harry havia aberto, Niall estava, lentamente, cuidadosamente, carinhosamente, fechando. Levaria algum tempo, mas ele estava fazendo um ótimo trabalho apenas por estar ali comigo.
– Esse colar... É meu talismã. E eu quero que você fique com ele, pelo menos por um tempo, para que ele te dê a força de que eu precisei, e de que você precisa para encarar isso agora.
Respirei fundo, sentindo lágrimas tímidas se acumularem em meus olhos.
– E caso você se esqueça do quanto eu te amo e eu não esteja por perto para refrescar a sua memória... Lembre-se de segurar esse pingente.
Ele levou uma de minhas mãos até o colar, e fechou meus dedos ao redor da pequena tartaruga.
– E eu estarei pensando em você.
Sua mão cobriu a minha, e ele apenas olhou em meus olhos, deixando que eu assimilasse sua declaração. Quando enfim fui capaz de reagir, um sorriso apaixonado surgiu em meu rosto, o qual ele reproduziu com perfeição.
– Eu não fazia ideia de que meu presente significava tanto... – suspirei, lançando um rápido olhar para o pingente em minha mão e voltando a encará-lo – Obrigada.
– Como poderia não significar, se você significa tudo pra mim? – Niall perguntou, verdadeiramente confuso com minha surpresa. Meu sorriso fraquejou diante do arrebatamento que suas palavras causaram; tudo que fui capaz de fazer foi observá-lo, absolutamente perplexa, e tentar entender o que eu havia feito para merecê-lo em minha vida. Nenhuma resposta parecia satisfatória.
Mas, pensando bem, não era sempre assim entre nós dois? Não precisávamos entender... Apenas sentíamos.
Voltei a sorrir, com total serenidade, e envolvi seu pescoço com meus braços.
– Um dia... Um dia eu vou me casar com você – sussurrei ao pé de seu ouvido, e embora meu tom fosse sério, minha voz soava romântica, sonhadora – E nós teremos filhos. E vamos criá-los com todo o amor e carinho... E passaremos o resto da vida juntos, até eu ficar rabugenta demais e você ficar surdo de propósito. Ou nós podemos viajar pelo mundo, morar numa cidade diferente a cada mês, sem nunca nos apegarmos a lugar algum ou pessoa alguma a não ser um ao outro... E mesmo assim, mesmo quando essa vida acabar, seja ela como for, eu vou amar você.
Beijei seu maxilar, da mesma forma que ele havia feito comigo, e examinei sua reação, bem de perto. Niall fechou os olhos, sorrindo da mesma forma que eu havia feito, como se nada nunca mais pudesse tirar aquela alegria de seu peito, e uniu sua testa à minha antes de falar, cheio de admiração.
– Para uma pirralha, até que você sabe exatamente o que dizer.
Rimos baixo de sua resposta, e iniciamos o primeiro beijo dos incontáveis que se seguiriam, em qualquer que fosse o destino que escolhêssemos a partir dali.
De alguma forma eu soube que, independentemente do que estivesse por vir, tudo daria certo.CONTINUA...
GEEEEENTE FELIZ ANO NOOOOVO, MUITA PAZ, AMOR, SAÚDE E TUDO DE BOM PARA VOCÊS!! Não teve como postar ontem, mas para começar um ótimo ano, estou postando hojeee. Espero que gostem!! Como foi o Ano Novo de vocês? O meu foi bom!!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Biology II
FanfictionTodos os problemas pareciam superados... Pelo menos os problemas que não não existiam.