Capitulo 11.

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O resto da tarde passou como um borrão. Me recordo apenas de chegar em casa com mil pensamentos colidindo em minha mente, subir as escadas depressa e me atirar na cama, para somente me levantar de novo dali a algumas horas. Em meio a todo o choque e a todas as perguntas ainda não respondidas, das quais somente uma possuía resposta possível, fui capaz de reunir forças para ficar de pé e rastejar até o banheiro. Um longo banho ajudaria a clarear minha mente, a relaxar, e principalmente, a me fazer sentir limpa após toda a sujeira que Harry havia despejado sobre mim ao revelar suas mentiras do passado.
Tudo ainda era demais para assimilar.
Se ele realmente estava dizendo a verdade, se ele realmente é pai de Ben, então... Eu havia sido culpada pelo que Niall estava enfrentando ao decidir lidar com a suposta paternidade e teria que enfrentar ao descobrir que tudo aquilo era uma farsa, tramada pela própria prima e atestada como verdade pelo melhor amigo.
Por mais que eu soubesse que também havia sido enganada, assim como todo o resto da família, e não tinha como sequer imaginar que tamanho absurdo poderia ter acontecido, por mais que soubesse que em momento algum agi de má fé, que apenas segui o que acreditava ser certo... A culpa ainda pesava sobre meus ombros.
E se Harry estivesse falando sério? E se fosse mesmo verdade? Como contar a Niall?
Ele perderia o controle, eu sabia que sim. Se eu ainda o conhecia tão bem quanto imaginava, seria difícil conseguir contê-lo, impossível impedi-lo de atacar os responsáveis por tamanha traição e pelos anos de culpa reprimida. Ele ficaria arrasado.
Talvez me odiasse por tê-lo feito repensar suas decisões...
Outro fator preocupante era que, sem dúvida, ele havia se apegado a Ben, pelo menos um pouco, e o menino, a ele, também. Ainda que meu coração doesse por Niall, minha maior preocupação era o estado em que aquela criança ficaria diante de tamanha confusão. E a culpa era toda de Emily e Harry.
E, em parte, minha.
Já havia anoitecido quando enfim saí do chuveiro, ainda pior do que quando havia entrado. Ao menos, uma certeza agora eu tinha: eu precisava saber a verdade, e tomar a decisão certa dessa vez, qualquer que fosse o preço a pagar por isso.
Estava enrolada na toalha, procurando por um pijama em meu guarda-roupa, sem energia nem para acender as luzes, apesar da relativa escuridão, quando a campainha tocou. Meu coração quase parou ao imaginar quem poderia ser àquela hora, e imediatamente pensei em Harry. O medo que agora acompanhava sua presença se instaurou em meu peito com força total, ainda que eu tivesse plena noção de que precisava dele para comprovar a veracidade de sua história; me esgueirei até a janela, tentando ver quem estava parado à porta sem ser vista, e meus joelhos quase cederam ao identificar o visitante inesperado.
Sem qualquer outro sentimento a não ser o alívio e a surpresa imensos que corriam em minhas veias, desci correndo os degraus, e com a mesma pressa, abri a porta, deparando-me com o principal assunto de minhas preocupações parado sobre meu tapete de boas-vindas.
Nossos olhares se encontraram de imediato, e permaneceram conectados até o instante em que ambos nos demos conta de que um de nós estava parcialmente nu. Engoli em seco, morrendo de vergonha por ter me esquecido completamente daquele detalhe assim que o reconheci da janela do quarto. Niall, por sua vez, apenas deixou seus olhos viajarem por minhas pernas expostas, e rapidamente pigarreou, voltando seu foco para meu rosto, agora furiosamente vermelho.
– Oi – ele murmurou, claramente distraído com a recepção indecente.
– Oi – ofeguei de volta quando consegui encontrar minha voz. Alguns segundos de silêncio caíram sobre nós, durante os quais nos encaramos intensamente, com incontáveis emoções ardendo em nossos olhos, até que consegui retomar o controle e agir.
– Entra.
Niall hesitou um pouco antes de obedecer, com o maxilar travado, feito um morto de fome diante de um banquete do qual não lhe era permitido desfrutar.
– Eu vou... – comecei, apontando para o andar de cima, e antes que eu pudesse me envergonhar ainda mais, ele assentiu com veemência, indicando que havia entendido perfeitamente, e que concordava em gênero, número e grau com minha decisão de me vestir.
Corri de volta para meu guarda-roupa, colocando as primeiras peças comportadas que encontrei e penteando meus cabelos ainda úmidos depressa. Eu estava longe de estar apresentável, mas não havia tempo a perder; ele me esperava na sala, provavelmente tentando não se lembrar das partes de meu corpo que não esperava ver, e eu não pretendia desperdiçar um segundo de sua presença.
Voltei ao andar de baixo, ainda me xingando mentalmente, e o encontrei sentado no sofá, olhando fixamente para a parede oposta e parecendo um tanto transtornado. Não pude deixar de sentir pena, e ao mesmo tempo, uma vontade incrível de rir.
– Sinto muito... Por... Você sabe – falei, anunciando meu retorno, e ele me lançou um breve olhar contido antes de negar com a cabeça.
– Tudo bem.
Não, não estava tudo bem. Estaria tudo ótimo se eu ainda estivesse seminua, e você também. Estaria tudo maravilhoso se eu não tivesse estragado tudo ao impeli-lo a se redimir por sua negligência e assumir a paternidade de uma criança que poderia não ser sua.
Resumindo: definitivamente, não estava tudo bem.
– O que você está fazendo aqui? – indaguei, tentando esquecer de uma vez por todas o infeliz incidente de alguns minutos atrás – Aconteceu alguma coisa?
Niall adotou a mesma postura, e a seriedade em seu rosto me preocupou.
– Aconteceu – ele respondeu, implacável – Eleanor me ligou.
Arregalei levemente os olhos, incrédula por ela ter sido capaz disso, e ao mesmo tempo frustrada por não ter previsto que ela seria capaz disso.
– Eu já devia saber – resmunguei, cobrindo parte do rosto com uma mão – Ela te contou sobre Harry, não foi?
– Sim, porque sabia que você não o faria.
Franzi a testa, estranhando sua atitude ressentida.
– E por que eu deveria te ligar? Para colocar ainda mais problemas em sua cabeça, problemas que, pra começar, nem são realmente problemas, e que não lhe dizem respeito?
– (S/N), como você pode pensar dessa forma? – ele respirou fundo, inconformado com minha teimosia – Mas é claro que você deveria ter me ligado, assim que aquele idiota foi embora! Eu também tenho uma parcela de culpa por seu retorno, e uma parcela generosa, por sinal. Além do mais, não percebe o risco que ele pode representar, ainda mais estando sozinha pelo resto do fim de semana?
Bufei, irritada com sua preocupação excessiva. Por que Eleanor teve de contar tudo a ele? O retorno de Harry deveria ter ficado em segredo até que eu descobrisse a verdade. No momento certo, eu contaria tudo a ele, mas não antes de certificar a veracidade dos fatos.
– Pelo amor de Deus, ele só quis me assustar! – rebati, frustrada por ter que esconder tanto dele – Você não precisava ter vindo até aqui para isso, eu vou ficar bem.
– Você não entende, não é? – ele insistiu, dando um passo em minha direção – Ele perdeu completamente a noção de tudo. Ele te seguiu! Se isso não grita perigo para você, quase estoura meus tímpanos! O Harry que eu conhecia jamais faria uma coisa dessas... Sabe-se lá do que mais ele é capaz!
Sua irritação crescente e despropositada estava começando a me afetar. Se ao menos eu pudesse explicar o que realmente estava acontecendo... Mas ainda não era o momento. Não podia ofendê-lo daquela forma, contando uma história tão mirabolante e possivelmente falsa. Além do mais, se ele já estava surtando com o que sabia, se sequer sonhasse que me encontrei com Harry a sós, acabaria tendo um colapso nervoso no meio da sala.
– O que você acha que ele vai fazer? Invadir minha casa e me sequestrar? Faça-me o favor!
– Eu já entrei aqui sem ser convidado, o que o impede de fazer o mesmo?
– Niall, seja sensato, pelo amor de Deus! – pedi, avançando dois passos em sua direção – Ele não vai me machucar.
– Como pode ter tanta certeza? – ele indagou, recusando-se a ceder – Eu fui amigo dele por anos e não sei o que esperar dele. E você, sabe?
– Não, eu não sei! – exclamei, cada vez mais tomada pelo calor da discussão – Mas tem uma coisa que eu sei, e é o número de telefone da polícia. Se ele sonhar em tentar qualquer coisa absurda, vai parar na delegacia na mesma hora!
Niall sustentou meu olhar com determinação, ainda disposto a rebater meu argumento, mas após alguns segundos, apenas suspirou profundamente e abaixou a cabeça, balançando-a negativamente em seguida.
– Me desculpe – ele murmurou, depois de um breve silêncio – Eu não queria... Eu não queria brigar com você.
Minha raiva momentânea se esvaiu por completo ao ser pega de surpresa por sua mudança de atitude. Ele só estava preocupado comigo... Tão preocupado que dirigiu por horas só para ter certeza de que eu estava bem. Uma pontada de remorso surgiu em meu peito.
– Nem eu – confessei, ainda que meu tom guardasse resquícios de irritação em meio à compreensão.
Niall ergueu a cabeça novamente, examinando minha expressão.
– Como você está?
Dei de ombros, sem saber o que dizer. Havia sido um longo e péssimo dia, e eu adoraria acordar daquele terrível pesadelo muito em breve e descobrir que tudo continuava como antes de Harry reaparecer, pelo menos.
– Vou ficar bem – disse apenas. Obviamente, não foi o bastante.

CONTINUA...

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