Capitulo 13

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Niall Horan's POV

- Boa noite.
Minhas palavras vieram acompanhadas de um sorriso, em parte grato, em parte pesaroso. Meus olhos seguiram o caminho que ela fez, do sofá até as escadas, e dali até sumir de vista, e no instante em que não pude mais vê-la, meu peito ardeu de saudade. Não sei por quanto tempo fiquei observando os degraus, talvez rezando para que ela reaparecesse, talvez rezando para que ela nunca o fizesse.
Algumas horas haviam se passado desde minha chegada, preenchidas por algumas conversas tímidas, porém revigorantes. A tensão havia se dissipado consideravelmente, permitindo que nos comportássemos como velhos amigos, o que não era de todo inédito entre nós, mas foi uma boa surpresa, considerando o contexto em que nos encontrávamos.
(S/N) sempre conseguia me surpreender da melhor forma possível. Isso eu aprendi a jamais subestimar.
Quando enfim pude desgrudar os olhos das escadas, eles caíram sobre o canto do sofá no qual ela havia se encolhido por boa parte da noite, e de onde ela conversou comigo, riu comigo, existiu comigo. O nível de saudade que eu sentia era insuportável, beirando o patológico. E não era apenas no aspecto amoroso.
Sim, eu a amava. Ao posicionar meu travesseiro sobre o local antes ocupado por ela e então repousar minha cabeça sobre ele, nenhum outro pensamento restava em minha mente a não ser esse: eu a amava. Demais, até demais. E era exatamente por amá-la tanto que eu não me importei com o fato de não poder tocá-la, como sempre adorei fazer. Era estranho demais poder conversar com ela de uma forma tão tranquila e não poder puxá-la para mim, acomodá-la em meu colo (onde ela já admitiu, mais de uma vez, que prefere ficar, ao invés de simplesmente ao meu lado), ou então deitar minha cabeça sobre o dela e deixar que seus dedos bagunçassem meus cabelos... Tudo era muito estranho quando havia uma barreira invisível entre nós.
E eu era o único responsável pela existência dela.
Respirei fundo, tentando lutar contra os sentimentos ruins que já começavam a se aglomerar em meu peito. Ela mal havia me deixado sozinho e eu já estava estragando tudo.
Forcei meus olhos a se fecharem, e com algum esforço, consegui relaxar um pouco. Dormir seria impossível, estando tão próximo dela num lugar onde não havia absolutamente ninguém a não ser nós dois.
Assim que meu cérebro chegou a essa conclusão, meus olhos se abriram repentinamente, e meu coração deu um salto, quase me escapando pela boca.
A situação era familiar demais.

Flashback - cerca de um ano atrás

- (S/N)?
Franzi a testa, sem tirar os olhos do trânsito quase inexistente. Estávamos nos afastando cada vez mais da casa de Kelly, e ela ainda não havia me dado seu endereço. Eu podia ter sido um canalha de marca maior e o descoberto por meios nem um pouco éticos há muito tempo, mas eu sabia que quando soubesse onde ela morava, acabaria cometendo uma loucura (por exemplo, encheria a cara uma noite qualquer e acabaria soltando o verbo para a primeira pessoa que aparecesse à porta depois que eu tocasse a campainha).
Já estava começando a me arrepender de ter contido minha curiosidade; decidi tentar novamente.
- (seu sobrenome)?
Parei em um semáforo fechado, e aproveitei a oportunidade para me utilizar de métodos mais incisivos para fazê-la responder. Virei seu rosto em minha direção, com todo o cuidado do mundo (ela bem que seria capaz de arrancar minha mão com os dentes se percebesse que eu a estava tocando), e confirmei minhas suspeitas.
(S/N) estava dormindo.
- Pirralha maldita - resmunguei, já prevendo a dor de cabeça que toda aquela bagunça me traria. E era tudo culpa da Smithers. O que aquela idiota tinha na cabeça ao convidar a (seu sobrenome) para uma das suas festinhas demoníacas?
Eu não sabia quem estrangular primeiro: Kelly, por ser tão irritante, ou (S/N), por estar tão... Inconsciente.
A palavra não soava muito convidativa. Inúmeras vezes me peguei imaginando como seria tê-la em meu carro, sentada no banco do carona, cantarolando alguma música que eu não conhecia junto com o rádio ou então apenas olhando pela janela, com os cabelos bagunçados pelo vento, falando uma coisa ou outra com os pés apoiados no painel.
Nenhuma das imagens que criei em minha mente fértil chegavam ao nível doentia que a realidade diante de mim apresentava.
- (S/N) - chamei mais uma vez, dando leves tapinhas em seu rosto, mas foi em vão. A única reação que recebi foi um gemido baixo quando meu dedão esbarrou no canto de sua boca, e foi então que percebi a pequena mancha de sangue na extremidade de seu lábio inferior. A imagem da cena que encontrei no banheiro da casa de Kelly, onde imaginei que seu pequeno machucado tivesse sido criado, assombrou minha mente; se eu visse aquele pivete de novo, ele nunca mais veria qualquer outra coisa a não ser meu punho colidindo com sua cara.
Respirei fundo para dispersar o álcool ainda correndo em minhas veias, e fixei meu olhar na rua deserta adiante. Minha consciência, ou pelo menos a parte sóbria dela, alertava que eu estava prestes a tomar a decisão mais errada de toda a minha vida, mas meu cérebro levemente entorpecido não me permitia enxergar nenhuma outra solução.
Então, quando o sinal abriu, eu acelerei o carro e a levei para minha casa.
É, eu sei. Que puta cagada. Mas o que mais eu poderia fazer àquela hora da noite?
Ligar para Harry não era uma opção. Era culpa de sua idiotice que (S/N) estava naquele estado, nada mais justo que deixá-lo de fora da jogada. Além do mais, ele era um idiota, e acabaria estragando tudo; um professor envolvido naquele rolo já era suficiente, ela não precisava de dois para tornar todo o acontecimento ainda mais difícil de explicar.
Pegar seu celular e ligar para sua mãe ou para sua melhor amiga? A mera hipótese de falar com uma delas me deu calafrios. Eu acabaria sendo crucificado, e com a sorte que eu tinha, (S/N) acabaria se esquecendo de tudo que aconteceu, e colocaria a culpa em mim por ter se embriagado tanto, ou algo igualmente inconcebível.
De qualquer forma, ela me odiaria ainda mais. Então por que não escolher a opção que mais me favorecia?
Não me entenda mal, eu não pretendia tirar proveito de sua vulnerabilidade. Eu jamais faria algo do tipo, nem mesmo com ela. Só de pensar no assunto meu estômago se revirava de horror. Não... Um dia, eu não só a levaria para minha casa muitíssimo acordada, como também por sua própria vontade.
Hoje, eu só queria cuidar dela. Amanhã, quando recuperássemos os sentidos definitivamente, ela poderia pensar em como se explicar para os outros, e eu pensaria em como me explicar para ela.
Cheguei sem demora ao meu prédio, e assim que estacionei, deixei o veículo e o circundei para abrir a porta do passageiro. (S/N) continuava apagada, dormindo como se não houvesse amanhã. Por um instante, me perguntei se seria necessário levá-la a um hospital, mas bastou checar brevemente seus sinais vitais para perceber que ela apenas estava num estágio profundo de sono; a experiência de passar por isso inúmeras vezes nos anos de faculdade também ajudou a me tranquilizar.
- (S/N)? - tentei pela trigésima segunda vez, chacoalhando-a pelos ombros, e novamente, não funcionou. Esfreguei o rosto com as mãos, tentando entender como aquela noite havia virado de cabeça para baixo tão rapidamente, e, com o foco retomado, passei meus braços por baixo de seu corpo, um por sob seus joelhos, outro por sua cintura.
Como se tivesse esperado por isso desde que adormecera, ela envolveu meu pescoço com seus braços preguiçosamente, e soltou um suspiro contra meu pescoço. Precisei de um momento para me recuperar do choque (e, claro, da explosão de pensamentos impuros) que sua reação inconsciente causou, e só então pude me mover. Virei na direção do elevador, empurrei a porta do carro com o calcanhar e ativei o alarme, fazendo malabarismos para não derrubá-la no processo. Sorte dela que eu era bom em manusear mulheres, ainda que eu preferisse as minimamente lúcidas.
Não sei como sobrevivi à respiração serena dela em meu pescoço, mas de alguma forma, consegui me manter são durante o trajeto vertical do elevador. Assim que as portas se abriram, caminhei até o sofá, e a deitei sobre ele. Na penumbra do apartamento, pude ver que ela agora tinha a testa levemente franzida; afastei uma mecha de cabelo de seu rosto, o mais suavemente possível, e ela abriu os olhos. Meu coração quase saltou pela boca ao vê-la acordada. Ela não esboçou reação, apenas me encarou, confusa, por alguns segundos.
Quando enfim me reconheceu, um certo pânico preencheu seus olhos, e eu logo tratei de tranquilizá-la.
- Shh, está tudo bem - sussurrei, afastando minhas mãos dela em sinal de paz - Você está segura agora.
(S/N) piscou lentamente, processando minhas palavras, e, ao contrário do que eu previa, não ofereceu resistência à minha explicação. Pelo contrário, um alívio sincero pareceu percorrer seus traços, e se eu já não estivesse sóbrio o suficiente para distinguir a realidade do imaginário, teria certeza de que o sorriso agradecido que ela me deu foi pura alucinação.
- C-como se sente? - gaguejei, pego totalmente de surpresa por aquela demonstração (ainda que alcoolizada) de confiança. Ela podia nem sequer sonhar em admitir tal fato, mas agora eu tinha certeza de que ela não me via mais como o monstro que um dia eu fui em sua mente. Somente esta descoberta já foi suficiente para que eu não me arrependesse de tê-la trazido para casa comigo. Acontecesse o que acontecesse, ela havia me revelado algo muito importante, e nada do que me dissesse no dia seguinte mudaria isso.

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