Capitulo 20.

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~Notas Importantas no final, leiam por favor~

A primeira coisa que senti ao despertar, antes mesmo de abrir os olhos, foi um braço ao redor de minha cintura, e uma mão sob a blusa de meu pijama. Um certo pânico se apoderou de mim durante os primeiros segundos de lucidez, nos quais ainda não havia me dado conta de meus arredores, e principalmente, de quem dormia ao meu lado, respirando suavemente contra minha nuca.
A segunda coisa que senti, ao erguer as pálpebras, foi um perfume familiar, acompanhado de uma voz familiar, que instantaneamente desanuviou minha mente e enviou uma onda de alívio por todo o meu corpo.
– Bom dia.
Me virei na cama o mais rápido que minha sonolência permitiu, deparando-me com um Niall desgrenhado e com apenas um olho aberto. Ao ver meu rosto, ele abriu um sorriso fraco, que, apesar de lindo, tinha como principal característica preocupação.
– Bom dia – murmurei enfim, com a voz enrouquecida pelo desuso. Niall examinou meu rosto contorcido pela claridade por alguns segundos antes de voltar a falar.
– Como está se sentindo? – ele perguntou, acariciando meu quadril com o polegar – Conseguiu descansar um pouco mais?
Assenti, me lembrando da interrupção em meu sono no meio da noite: um pesadelo horrível, em que eu me encontrava naquela mesma situação, acordando de manhã...
Mas não era Niall quem me abraçava.
Estremeci só de lembrar. Ele pareceu perceber, pois me puxou para ainda mais perto de si, como se nossa proximidade fosse uma forma de me afastar de todos os pensamentos ruins. E de certo modo era.
– Você parece mais cansado do que eu – comentei, franzindo levemente a testa ao finalmente conseguir focalizar sua expressão – O que houve?
Niall balançou negativamente a cabeça.
– Está tudo bem, não se preocupe.
Cerrei os olhos, sabendo que havia uma parte da resposta que ele estava omitindo, e que não demorou a vir quando ele percebeu que eu não desistiria tão facilmente.
– Não consegui dormir direito... Você sabe que eu sou assim, perco o sono às vezes. Só isso.
Respirei fundo diante de sua resposta, e decidi não questionar mais.
– Tudo bem... Foi um dia difícil, eu entendo – falei, acariciando seu rosto com todo o carinho do mundo – Sinto muito por te causar tanta preocupação. Eu nunca quis...
Ele segurou meu pulso com delicadeza assim que percebeu o rumo que a conversa tomava, e eu entendi o recado, abandonando minha frase incompleta.
– Não faz isso – ele murmurou, agora me encarando intensamente, sem vestígios de sonolência – Não faz... Você não me deve nenhuma explicação.
Engoli o resto de minhas palavras e apenas assenti novamente. Sorri ao vê-lo virar o rosto na direção de minha mão e fingir que a morderia, sabendo que arrancaria pelo menos um risinho de mim com sua criancice.
– Assim está melhor – ele sorriu de volta, orgulhoso de seu feito, e antes que meu rosto ficasse ridiculamente vermelho como sempre ficava quando ele me elogiava, uni meus lábios aos dele num beijo rápido, porém sincero.
– Senti sua falta – murmurei, com o rosto ainda bem perto do dele – Muito.
– Pensei que nunca fosse dizer – ele brincou, e antes que eu pudesse protestar, roubou outro beijo, que dessa vez durou tempo suficiente para que eu conseguisse me colocar sobre ele na cama. Ao perceber o rumo que estávamos tomando, no entanto, ele respirou fundo e partiu o beijo.
– O que foi? – sussurrei, franzindo a testa. Niall hesitou por um instante antes de se sentar na cama; percebendo que o assunto era grave, fiz menção de voltar a ocupar meu lado do colchão, o que ele impediu ao segurar minha cintura.
– Pode ficar – ele disse, levando uma de suas mãos até a alça de meu pijama e colocando-a de volta à sua devida posição após escorregar de meu ombro – Eu só... Quero conversar com você.
Permaneci em seu colo, com o coração mais acelerado a cada segundo. Niall ergueu o olhar até o meu e respirou fundo, como se o que estava prestes a dizer lhe causasse grande dor.
– Odeio ter que trazer isso à tona, mas prefiro que tenhamos essa conversa agora a lidarmos com algo muito pior depois.
Já prevendo o rumo da conversa, engoli em seco e assenti. Ele prosseguiu, com extrema cautela na voz.
– Você passou por um evento traumático... E ainda não sabemos exatamente o quão traumático ele foi. De qualquer forma, nós precisamos entender de que forma isso te afetou. O seu pesadelo é um exemplo de que não está tudo bem, e você não precisa me dizer o contrário se não for a mais pura verdade. Qualquer desconforto que sentir, se em determinado momento quiser ficar sozinha, ter seu tempo pra digerir tudo o que aconteceu, por favor, me diga, está bem? Eu jamais pretendo... Forçar algum tipo de intimidade que você não esteja disposta a ter.
Encarei suas íris preocupadas por um instante, deixando o efeito de suas palavras rapidamente se alastrar por meu peito numa onda de alívio e ternura. Fiquei paralisada durante aquele breve momento, sem saber como reagir de forma a demonstrar o quanto eu apreciava sua iniciativa de me deixar o mais confortável possível naquela situação horrível. Senti lágrimas se formarem em meus olhos, e não questionei sua existência, apenas deixei que elas se acumulassem conforme eu finalmente articulava uma resposta.
– Obrigada... Por tomar esse cuidado. Por sempre cuidar de mim. Não vou mentir pra você... Eu estou apavorada. Só de pensar no que pode ter acontecido, eu... Eu sinto que meu coração pode parar de bater a qualquer momento, de tanto, tanto medo.
Niall acariciou meu braço, com o maxilar travado numa tentativa de manter suas emoções sob controle. Com um suspiro e um sorriso sincero, continuei a falar tudo o que ele precisava ouvir, e que eu também precisava dizer.
– Mas eu não tenho medo de você.
As marcas de expressão em seu rosto, tão sérias, tão cansadas pela noite mal dormida, pareceram se atenuar ao som de minha declaração.
– Eu sei que você nunca faria nada pra me machucar. Pelo contrário, você sempre está tentando me proteger. Tem sido assim desde o início, e não me refiro apenas ao início do nosso relacionamento. Desde que você colocou os olhos em mim, tudo o que quis fazer foi me proteger. Você provavelmente acha que eu não entendo, mas tudo passou a fazer sentido com o tempo... Como se esforçou tanto pra que eu te odiasse, e depois, se esforçou ainda mais pra que eu te amasse.
Uma lágrima rolou por meu rosto, e meu sorriso se alargou ao senti-lo enxugá-la com o polegar, cada vez mais emocionado com o que ouvia.
– Não estou justificando o seu comportamento... Você era um idiota completo – prossegui, e ambos rimos – Mas agora eu vejo que foi uma tentativa, a melhor em que conseguiu pensar, de me preservar, de me manter a uma distância segura de tudo o que sentia. Você sabia que eu não estava pronta, e você esperou, pacientemente, até que eu tivesse maturidade suficiente para encarar essa realidade... A nossa realidade, que é mais forte do que tudo.
Suspirei profundamente, aliviada por dividir aquele momento com ele. Desde que reatamos o namoro, não tínhamos conversado tão abertamente sobre como nos sentíamos, e só então percebi que existiam muitas coisas dentro de mim esperando para serem ditas; e agora que o caminho estava aberto, a única opção era continuar deixando que elas fluíssem.
– Eu não sei o motivo disso tudo, de toda essa consideração por mim, mas eu agradeço... De todas as formas possíveis. Sem você, acho que eu teria caído num poço de vergonha e arrependimento depois de tudo o que aconteceu com Harry. Talvez jamais voltasse a confiar em alguém novamente. Mas você está aqui, comigo, provando que ele é apenas mais um obstáculo a ser ultrapassado e esquecido... Que pessoas como ele não valem um futuro de rancor e solidão. Que há motivos pra seguir em frente.
Coloquei minha mão sobre seu peito, sentindo seus batimentos fortes e acelerados, assim como da primeira vez em que o fiz em nossa noite na Ferrari. A lembrança me encheu de felicidade, e fez com que outra lágrima caísse.
– Então, se o seu medo é me forçar a fazer algo que não quero, só me prometa uma coisa... Que nunca vai me pedir pra deixá-lo ir embora.
Niall piscou algumas vezes, afastando o excesso de umidade que começava a se acumular em seus olhos, e apenas sorriu, sem palavras. Segurei seu rosto com as duas mãos e uni nossas testas com todo o carinho do mundo.
– Eu sou mais forte com você... Porque sei que posso confiar em você.
Após alguns segundos de perplexidade, ele envolveu minha cintura com seus braços e me puxou para mais perto, com o sorriso mais radiante que já havia visto até então. Não foi difícil reproduzi-lo ao sentir seus lábios próximos dos meus, murmurando minhas palavras favoritas:
– Eu te amo.
Abracei seu pescoço, sentindo o poder daquela frase se espalhar por cada cantinho de meu corpo e fazer com que eu me sentisse mais viva do que nunca. Nossas bocas se encontraram novamente, dessa vez sem hesitação, dúvida ou medo. Éramos só nós, e todos os sentimentos maravilhosos de que compartilhávamos.

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