Capítulo 4 - Aversão

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Quando abri meus olhos, eu estava novamente na praça, sentado sobre o banco e confuso. Foi quando me lembrei daquela garota em que vi em meu sonho. Dessa vez, o balanço estava vazio, balançando apenas com a força do vento. O silêncio era perturbador, nem ao menos os pássaros que insistiam em cantarolar todos os dias tinham aparecido. Tudo que eu ouvia era meu próprio coração palpitando e os passos secos que eu dava na direção do balanço.

Eu me aproximei bem devagar e inesperadamente um som se alastrou, mas era distante... como se fosse o chiado de um rádio buscando sinal.

Eu aproximei minhas mãos da estrutura metálica que sustenta o balanço e, com um simples toque, todo o cenário ao meu redor mudou abruptamente. Não era mais a praça, mas sim a estrada que leva à minha escola.

O balanço ainda estava lá, mas desta vez estava na calçada, como se tivesse mudado de lugar. Enquanto eu estava parado bem no meio da rua, desviei meus olhos por um curto segundo e, quando olhei novamente para o balanço, a menina estava lá. Ela usava o mesmo vestido, tinha a mesma aparência e sorriso...

Fixei meus olhos nos dela, tentando reconhecê-la, mas permaneci em silêncio, apenas observando-a.

Um som distante que eu havia ouvido quando ainda estava na praça agora voltou com mais intensidade, mas eu ainda não conseguia distinguir com clareza. Eu continuava vidrado em tentar descobrir quem ela era, esquecendo tudo ao meu redor.

Não demorou muito para que a fisionomia dela mudasse, não mais com aquele sorriso encantador e angelical, mas sim um de preocupação e alerta. Ela respirava ofegante, começando a ficar mais agitada sobre o balanço, enquanto sua boca tremia tentando me dizer algo e finalmente conseguindo:

-Cuidado, cuidado!! - Ela gritou, com sua voz ecoando fortemente.

Foi então que percebi e despertei daquele som que eu ignorava. Era como se fosse um som abafado por algo e que inesperadamente é revelado. O som era nada mais, nada menos que de um caminhão, que vinha em minha direção à toda velocidade. Eu simplesmente congelei, meu coração se agitava, esperando o pior.

E ele se aproximava cada vez mais, em alta velocidade. Quando eu estava prestes a sentir o impacto... Acordei, ou melhor, fui acordado pelo meu irmão Finn.

-Irmão! Você tá bem? - Ele perguntou como se já estivesse tentando me chamar há um tempo.

-E-eu tô sim. - respondo um pouco ofegante.

-Certeza? você sempre é o primeiro a acordar e agora foi o último. Sem contar que ficou se remexendo todo na cama.

-Tô bem, eu só tive um pesadelo.

-Então foi um pesadelo e tanto - Ele diz com um meio sorriso. Eu me ergui ainda sentado sobre a cama, colocando a mão em meu peito, que mesmo depois de acordar continuava agitado.

Meu irmão percebeu minha cara e resolveu sentar ao meu lado. Ele me olhou como alguém que espera o outro tomar iniciativa de falar.

-Não foi nada, apenas um susto. - digo a ele sem encará-lo

-Acho que é algo de se esperar depois do dia de ontem. Eu também tive um sonho ruim, mas queria me certificar de que aquilo não tenha te deixado mal... - ele diz olhando para mim com um sorriso consolador. Eu inclinei minha cabeça para baixo olhando ao chão, pensando se contaria a ele sobre os sonhos que ando tendo ou então sobre aquele peculiar símbolo, mas ele provavelmente acharia exagero da minha parte, ou ficaria preocupado demais comigo.

-Richard você... Teve algo que te incomodou quando olhou para os gângsteres? Você simplesmente paralisou olhando pra eles. - Continuou Finn.

- Não, eu só... me assustei. - digo.

A garota dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora