Capítulo 27 - Indiretas

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O caminho foi silencioso até a loja de Donut. Não sei se era apenas para mim a sensação perturbante daquele silêncio. Willian ligou o rádio que tocava uma música dos Queens - Bohemian Rapshody e começou a cantar. Sua feição era terna.

-É sua banda favorita, não é? - perguntou, encarando a estrada a frente.

-Sim, eu gosto das músicas deles.

-Então pelo visto ainda lembro. Seu gosto não mudou. - Diz olhando para mim com expressão de simpatia.

-Não sou apegado a mudanças. - Digo de forma breve.

- Eu imagino. - Respondeu.

Nunca foi tão difícil para mim fingir tranquilidade e não transparecer meus sentimentos. Era como uma luta por contradição, ele sempre foi como um pai para mim, como poderia estar envolvido em algo assim?

Eu e Jorge somos amigos há muito tempo. Willian me conhece desde que era criança e sempre me aconselhava ou nos levava para passear. O inimigo mora ao lado há  tanto tempo e nunca percebi isso. Agora que Richard se recordou de tudo só ele será capaz de dizer se Willian Clark esteve envolvido naquele dia. O desgosto de imaginar que ele possa ter feito isso com meu próprio irmão me corrói. É duro demais para digerir.

-Tá tudo bem, Finn?

-Sim, só estou pensativo mesmo. - Respondo brevemente.

Em poucos minutos chegamos na loja. Não era tão longe. Eu saí do carro e o acompanhei para dentro dela.

-Boa tarde! Gostaríamos de pedir os donuts especiais do dia, por favor. - Diz Willian próximo ao caixa.

-Claro senhor, quantas irão querer? - A mulher perguntou.

- Humn... pode ser oito agora  e mais oito para viajem. E dois Milkshake, por favor.

-Mais algum sabor além dos especiais? - Pergunta a moça, anotando em um bloco. William encarou-me esperando eu responder.

-Pode ser de chocolate também. - Digo.

-Dois de chocolate, por favor. - Respondeu para a moça. - Finn, enquanto isso procura um lugar para sentármos. - continuou.

-Tudo bem. Ah! Espera senhor Clark. Eu não trouxe dinheiro.

-Não se preocupe, fica por minha conta! - Respondeu dando um tapinha no meu ombro.

-Ok, obrigado. - Agredeci.

Fui em direção à mesa dos fundos próxima à janela. Era o mesmo lugar onde costumávamos ficar antigamente. A jukebox  de anos atrás jazia ali, abandonada. A última  vez que a vi funcionar, a mãe de Jorge ainda estava viva.  Embora todo estabelecimento tenha sido levemente retocado com uma nova aparência, parece que uma parte permaneceu, e as lembranças brilham levemente, com um ar bem mais gelado.

Encarei a janela, pensativo e inquieto. Estar nesse lugar nostalgico não me ajuda muito. Ainda é irreal demais para se acreditar. Como alguém como Willian Clark se envolveria em uma gangue? As lembranças queimavam minha razão.

O senhor Clark se aproximou com uma bandeja, o atendimento foi bem rápido por sinal. Quando colocou sobre à mesa pude sentir o cheiro formidável daqueles donuts, causava-me ainda mais nostalgia.

-Fique à vontade. Confesso que mesmo tendo tomado sorvete, estava com saudades de comer os donuts desse lugar. Pena que Jorge não quis vir. - Alegou, pegando um donut  para comer.

-É...eu também estava. - Respondo pegando um também. Assim que degustei fiquei admirado com o sabor. Era uma mistura de doce de leite com coco e uma pitada de banana. A combinação era estranhamente boa. Sem perceber, começei a comer rápido, abismado pelo gosto.

A garota dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora