Capítulo 8 - Todos a espera

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Caminhamos em direção à minha casa. Eu apenas andava de cabeça baixa tentando não pensar e nem tentar entender o que tinha ocorrido. A chuva tinha parado com o tempo e andávamos sem pressa para chegar. Meu primo continuou com um olhar confuso, mas parecia que havia mais alguma coisa que ele queria dizer e não sabia se era o tempo apropriado para isso.

Sempre fui muito sensível, talvez até sensitivo. Pois, embora eu tente evitar perguntar, consigo notar coisas apenas no olhar que a pessoa expressa. Ultimamente com esses pesadelos repentinos essa percepção ficou maior.

Nunca contei isso a ninguém, mas às vezes  sinto que há algo de errado com as pessoas à minha volta. Como se tentassem omitir uma parte do que realmente querem dizer a mim. Por que nunca questionei? É simples, para não me aborrecer e evitar dor de cabeça, só que ultimamente está quase impossível.

-Você é estranho, sabia? Há pouco tempo na escola você estava bravo comigo e agora eu simplesmente te encontrei ajoelhado no chão, desesperado e eu nem sei por que você me agradeceu. - questionou, ainda caminhando.

-Eu não quero falar disso.

-Tudo bem, você que sabe. - alegou, parando no meio do caminho. - Não vai me perguntar por que eu vim aqui?

-Isso me interessa? - perguntei, parando um pouco mais à frente.

Ele riu - Você não muda mesmo. Eu fui até sua casa para te ver, queria te pedir desculpas pessoalmente.

De certa forma, mesmo ele tendo me ajudado involuntariamente, eu não quis  responder. Não estava com cabeça para pensar nisso.

-Podemos continuar, por favor? Eu quero chegar logo em casa...

-Tudo bem, você que sabe. - Repetiu, dando um sorriso curto e voltando a caminhar.

Nós dois permanecemos em silêncio e caminhando, Brian ficava olhando para mim como se quisesse acrescentar mais alguma coisa, mas não o fez.

Nós chegamos em casa e meu primo também entrou. Chega a ser irônico perceber que a praça em que faço de refúgio me fez desejar voltar para casa, mesmo com os problemas nela.

Minha mãe, sem pensar duas vezes, resolveu preparar um lanche para a gente. Com certeza foi mais pela presença de Brian. Nós nos sentamos à mesa e tudo que deu para fazer naquele momento era esperar.

-Já que você não quer falar sobre aquela situação na escola, será que podemos falar sobre a de agora? Por que você estava daquele jeito, foi por minha causa? 

-Você faz muitas perguntas, Brian. Não foi por sua causa.

-E você não vai me contar, não é mesmo? Richard, eu acho que você deveria falar disso com alguém, tipo o Finn. Ele se preocupa com você, não faz bem guardar as coisas pra si.

-Falando assim até parece que você se importa... - murmurei.

-O que disse?

-Nada! Eu vou pegar um café, você quer? - perguntei já irritado.

-Não, obrigado. - ele diz, então eu levantei e saí dali, indo pegar um pouco de café.

Perguntas e mais  perguntas... parece que é disso que eu vivo. Cheio de questionamentos e pessoas que fingem se importar. Será que eu não poderia apenas seguir uma vida normal? É o que mais tenho tentado por tanto tempo, porém sempre há uma sensação de incômodo em mim e que me faz sentir que há algo faltando; ao mesmo tempo, existe um medo em meu ser. Algo que me diz para seguir sem olhar pra trás. O que seria esse "não olhar para trás?"

-Richard, Você vai beber isso tudo de café? Vê se maneira, hein! - disse minha mãe, saindo dali com uma espécie de bolinho e levando até à mesa.

Eu não havia entendido de primeira, porém  quando olhei para o copo, percebi. Eu estava tão distraído que enchi até o talo. Acabei rindo de mim mesmo. O que eu ia fazer com todo aquele café? Eu nem bebo tudo isso!

A garota dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora