Capítulo 32 - Não há espaço para dúvidas

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Finn

-Jorge, o que tá fazendo aqui? - Pergunto confuso com sua chegada.

-Eu vim de moto, resolvi os seguir e aí  vi você correndo de lá...  Desculpa.  - Ele diz, sua feição parecia meio estranha.

-Pensei que o jogo estava bem mais interessante pra você.   - Respondi dando um sorriso descontraído, apesar da tensão.

Jorge se aproximou se enconstando na parede, ele parecia tentar evitar contato visual comigo.

-Tudo bem... Parece que nós dois temos perguntas não é mesmo? - Pergunto, de braços cruzados.

Jorge continuou a me encarar por um tempo e aquele silêncio estranho permaneceu entre nós.

-Sua família está em perigo, não tá? - Perguntou acompanhado de um breve suspiro.  - Você está em perigo, não tá...?

-Uma hora isso ia acontecer... eu acho.  - Respondo. - Mas eu  quero saber como você sabe disso, por que nos  seguiu?

- Eu não queria acreditar, não queria mesmo. Me desculpa...

-Do que está falando?

-A forma estranha como meu pai estava agindo nos últimos  tempos, as coisas  que vi e ouvi... Simplesmente tentei ignorar, mas eu não posso assistir meu amigo morrer, não é?

Fiquei estagnado, sem saber o que responder a ele, apenas  esperando ele prosseguir, por mais que o tempo parecia cada vez mais curto.

- Não sei se essa cara é por eu ter descoberto ou por não ter te contado nada sobre.

-Talvez seja porque você sabia a verdade, e me deixou vir sozinho com seu pai mesmo assim, não é?

-É... mas  não me parece tão surpreso quanto a isso, talvez porque no  fundo já sabia, aliás sempre foi bom em sacar as coisas, né? - Retrucou.

-Ao mesmo tempo que  me induzia  a desistir  de investigar quem fez isso com meu irmão você mesmo me pediu pra entrar no quarto do seu próprio pai só pra pegar um Pen Drive, meio contraditório.  - Eu rio.

-Tá aí algo que temos em comum, Finn.  - Respondeu com um sorriso e novamente um silêncio tomado pelas palavras, acho que no fundo queríamos acreditar que fosse mentira.

-Então, pretende me explicar melhor o que tá fazendo me seguindo aqui? - Pergunto.

-Eu não sei se é o certo, porque  ele é meu pai... mas eu não posso fingir  que tudo vai ficar bem.  - Disse dando um leve suspiro. - Dês daquele dia na sorveteria, eu sabia que já  tinha  visto aquele desenho na jaqueta em algum lugar. E depois, em um outro dia, Brian tinha me contado do quase atropelamento do seu irmão, eu tenho certeza que foi meu pai... Porque lembro  dele falando sobre entregas e algo como "Mal sucedido" do outro lado da linha , parecia  estar falando em códigos, sabe? Sem contar que de repente meu pai estava comprando coisas caras que tenho certeza que seu emprego não supriria, vivia perguntando do seu irmão e conversas estranhas de como eu deveria estar preparado pra tudo, sobre ser forte, o quanto  sentia muito por não poder ser tão bom quanto queria, mas de qualquer  forma não parecia mais o meu pai... - Sua voz saía trêmula, ele abaixou a cabeça.

-E mesmo com todos esses sinais eu ignorei. Quando ele não estava em casa, aproveitei para remexer suas coisas. Descobri onde ele guardava armas, uma caixa cheia de dinheiro e um mural guardado em uma caixa velha com vários endereços fixos; um deles era na praça  Raimund Park, aquela onde seu irmão levou um tiro. Não queria me meter, dizia pra mim mesmo que não era problema meu.

-Jorge...

-E-eu não imaginei que meu pai chegaria no mesmo momento que você entrou no quarto dele, mas por um único segundo eu disse para mim mesmo que estava tudo bem, que ele não teria coragem de fazer nada com você...

-E o que fez você mudar de percepção?

-Bom... Se lembra quando te pedi que me ensinasse a hackear algumas coisas, só porque queria conseguir as versões ilimitadas dos álbuns esportivos que estavam fazendo na escola?

-Lembro... - Eu ri.  - Mas eu te disse não porque era errado. Só que você me encheu tanto o saco que eu te ensinei só pra você parar de me atormentar. - Respondo.

-E depois pra descobrir onde morava a Brice Conner...?

-Aí cara, nem me lembre desse  dia! não  sei o que você disse pra me convencer disso. - Digo me arrependendo de ter lembrado.

-Graças a você eu descobri um talento nato meu, mais do que o basquete. - Alegou com um leve sorriso.  - Antes de vir eu consegui acessar algumas informações do celular do meu  pai através do computador, encontrei um bloco de notas bloqueado, mas consegui destravar. Ele tinha o título de pendências, vários nomes circulados e uma espécie de mapa mental, ligações... Era bizarro. O do seu irmão estava em uma parte que se classificava como: "por acaso." O que aconteceu  com seu irmão não era pra acontecer, foi uma coincidência ruim, "lugar errado na hora errada", sacou? Mas outros casos que estavam ali... Eles apenas escolhem quem perseguir!

-Então  isso com certeza não se trata mais de uma gangue... mas seja o que eles forem isso tem que acabar! E tendo sido planejado ou não eles ainda querem acabar com meu irmão, com qualquer um que saiba...

-Eu sei... eu queria acreditar que meu pai não tem nada haver com essa  organização perversa nem nada mas... eu não tenho mais certeza. Quando eu fui olhar no quarto dele, no lugar onde ele esconde as armas... eu vi que tava faltando uma. Se ele realmente está disposto a fazer isso... - Diz Jorge, seu olhar parecia incrédulo em pensar nessa cogitação, eu também me sentia assim, só que as coisas estavam indo longe demais. Não era tempo para ter dúvidas.

Nossos devaneios foram interrompidos  por um som de um carro acelerando  e parando bruscamente,  meu coração pulsava como em uma batida fora de ritmo, Jorge olhou para mim. Podia não ser nada, mas também poderia ser o mal à  nossa espreita.

-O que  fazemos? - sussurou Jorge.

-Vamos tentar chegar no outro  lado do beco. Há uma saída.  - Digo com passos  desacelerados para não causar alarde, enquanto  Jorge me seguia logo atrás. Não havia nenhum sinal de alguém ainda, o beco era curto e não dava para ver o carro que parou, mas assim que nos afastamos daquele curto corredor nós corremos em direção a um beco mais largo, pretendendo sair daquele lugar silencioso para  de volta as ruas movimentadas, qualquer lugar movimentado que desse para se esconder.

A garota dos meus sonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora