Capítulo 3 - A introdução da Cena

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Março chegou e com ele viriam mais três meses praticamente iguais, pouca coisa de diferente, mas se posso dizer o que era igual e mudavam: meus filhos, os meninos e os amigos. Meus filhos eram os mesmos, mas cresciam cada vez mais, mais espertos, bonitos e inteligentes; os meninos estavam amadurecendo, parecendo que aprendendo a escolher as armas para estarem nesse combate, e os amigos, tinha a linda capacidade de serem presentes, sem me sufocar.

Os dias eram iguais, essa era a minha sensação dia após dia, mas tem várias coisas que as pessoas não nos contam, principalmente como é a vida de alguém doente, mas eu digo, é estranha, e mágica! Nada muda e ao mesmo tempo está tudo mudando ao seu redor, a vida gira em torno de você, e por vezes te convida pra um eclipse, te permitindo se ator brevemente.

Eu era muito atento e cuidadoso com o meu corpo, notava os mínimos detalhes, uma das primeiras coisas que senti diferença foi a minha libido, diminuiu bastante, eu não tava nem aí, nem quando Caio me ligava, antes eu pedia foto dos outros modelos, via, ria, comentava, cheio daquela euforia que o desejo nos dá, mesmo que imaginário, mas agora eu olhava e nem fazia diferença.

Outra coisa que eu reparei foi que minha perna estava ficando avermelhada, e eu não era burro, vermelho é veia, é sangue, o meu problema eram lá, na corrente sanguínea. Juntei A + B. Logo pensei, se ta mais vermelho é porque está acumulando sangue aqui, então o trombo é real. Outra coisa que a pessoa doente faz é saber de muita coisa e deixar pra si, claro que eu comentei com Tomás, que achou prudente falar com Val, mas eu não chorei, não me desesperei, só joguei isso no fundo de mim.

E segui a vida, as coisas lá em casa estava ficando mais calmas, sentei com vó Rosa, Beth, Yasmin e Val, cada uma num dia, falei que não precisava vim as três num dia, falei que cada uma poderia vir um dia, tinha eu também e os meninos, que também iam se revezar pra não ficar pesado pra ninguém. Só Beth que não cumpria muito a escala, não por deixar de vir, pelo contrário.

- Menino, aí você entende – Deu um trago no cigarro – Por isso que é importante pra mim vir – Ela disse conversando comigo, estávamos na sala, os bebês dormindo no quarto.

- Sim, claro, fique à vontade – Falei e Beth me sorriu.

Ela conversou comigo do quão ficar com os bebês estava sendo bom pra ela. A mulher me disse que tinha feito muita loucura na vida, tomado muito ácido, encheu demais a cara, e pegou vício em fumar, gostava mesmo, e que ficar com as crianças era bom pra ela, que quando ela ficava à toa saia, voltava pra casa três dias depois, se metia na farra, se enchia de homem, e que no fundo no fundo ela nem gostava, fazia pra ocupar o tempo e agora havia encontrado uma maneira mais divertida, bonita e barata de fazer isso.

A casa também ia mudar, Val tinha vários planos, planejávamos trocar alguns móveis, adaptar melhor a cozinha. Os papais estavam amando a nova cama no quarto dos filhos, foi uma benção, e era muito engraçado, Tomás ia em casa umas três vezes por semana, mas dificilmente dormia, e Edu, mesmo morando em cima ficava por lá por casa também. Só me incomodava muito o fato deles estarem parados! Edu treinava sem compromisso ou planos, e Tomás só ia pra academia, pra escola de artes e pra casa de festas, me disse que passou no ENEM, mas nem comemorou, não foi fazer a matrícula. Ia tentar no meio do ano caso eu melhorasse.

Meus filhos estavam indo para o oitavo mês, fui na consulta e novos elogios, os médicos diziam que eles estavam crescendo muito bem, havia muita preocupação pelo fato deles terem tido pouquíssimo leite materno, só o do banco de leite, algumas vezes, mesmo assim bem pouco, mas eles eram extremamente saudáveis.

Miguel sempre tinha maiores alertas, além de se rum bebê nervoso o médico percebia comportamentos muito diferenciados, sim, um pouco de personalidade dele, cada bebê tinha o seu jeito, mas ele alcançava níveis de estresse negativo muito rapidamente, do mesmo modo que o estresse positivo, ele variava de humor com facilidade, mas nada grave, apenas observações pra irmos cuidando.

DE AMIGO PARA NAMORADO  - LamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora