O domingo chegou, e a conversa com os meninos realmente me alimentou, eu me sentia mais preparado, acreditava que tudo ia ficar bem, talvez de tanto ouvir Tomás me dizer ou talvez de tanto ouvir ele dizer aos outros, ele, eu sabia que acreditava muito, mas parecia fazer um grande trabalho de convencimento aos que nos cercavam.
- Obrigado – Falei quando ele me trouxe um prato de sopa, Marré tinha feito e eu adorei.
- Pelo que? - Perguntou virando o rosto para o meu enquanto colocava o prato em meu colo.
- Por ser incrível! – Agradeci.
- Só trouxe a sopa – Disse com tranquilidade.
- "Mas vai ficar tudo bem" é a frase que você mais diz durante o dia – Falei e ele corou levemente, como uma criança que foi pega enquanto descobre seu próprio corpo.
- É porque passou a minha favorita – Disse me dando um beijo no cabelo e saiu para a cozinha.
Me fazendo olhar para suas belas pernas que vazavam por aquele shortinho vermelho estilo salva-vidas, os pelos de sua perna estavam crescendo, loiros, meio dourados até.
- Vamos beber a sopa, Filipe! – Falei pra mim e sorri.
*
A nossa casa estava sempre cheia, e sinceramente eu detestava um pouco aquilo. Sim, sempre fui muito cercado pela família, mas era estranho como em um dia dez pessoas diferentes passavam por lá, eu amava os dias que era apenas: eu, as crianças, os meninos, e vó Rosa ou Val ou Beth, uma delas pra nos acompanhar, mas geralmente Tia Kate sempre se preocupava e passava lá, e Tio Carlos dava aquela "passadinha", Iasmin vinha ajudar, e por vezes as nossas três "avós ajudantes" resolviam aparecer, eu sorria e tentava ser agradecido por ter pessoas que se importassem, mas não era fácil.
Segunda-feira foi um desses dias onde todo mundo resolveu aparecer, e a minha sensação era que "todo o mundo" resolveu aparecer. Todos queriam saber como seria o a consulta.
"Olha, nem eu sei, estou tentando não ficar nervoso, ansioso, principalmente por não saber o que se passa no meu corpo, por deixar meus filhos em casa ou por talvez eu ouvir algo que eu não queira, é isso!" É o que eu tinha vontade de dizer, mas sorria. Sabia que eles apenas estavam se preocupando e que me amavam e estavam cumprindo o script de "família que tem alguém próximo e amado doente".
Mas a noite Tomás fez questão de por música pop – Beyoncé – num volume alto, de modo que as crianças quase dançavam e eu sorria, ele estranhamente vinha desenvolvendo uma conexão forte comigo, tipo o que eu sentia com ele quando namorávamos ou com Edu, mas agora era diferente.
E na hora de dormir eu fiquei no meu quarto conversando com ele, mas pedi pro Edu não dormir em casa, queria ele por ali, ele me dava uma segurança também. Até dez horas da noite fiquei no quarto conversando com o loiro, até o Edu aparecer, o outro disse que ia sair. Mas eu insisti bastante e ele ficou por lá, o bundudo fez uma cama no chão, com um colchão extra e cobertas, se ajeitou e apagou.
Eu fiquei conversando com Tomás até três da manhã, teríamos que acordar às sete pra começar os preparos pra ir pro médico, mas eu ignorei isso e conversei mesmo assim, foi divertido, horas ríamos e víamos Edu se mexer, ficávamos quietos igual criança rindo em silêncio pra não acordar os pais.
- Eu vou dormir – Disse alisando meu pé.
- Dorme aqui – Falei chegando pro lado.
- A gente ia parecer um casal – Disse e eu fiz uma cara engraçada.
- Ta, senta aqui e eu durmo com a cabeça no seu colo – Falei inocente.
- Não vou me sentir bem com o Edu aí embaixo – Ele afirmou e concordei – Que foi?
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DE AMIGO PARA NAMORADO - Lamentos
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