Em Setembro tive outra sessão, elas aconteciam a cada quatro semanas, caiu bem no dia da consulta dos babys, Tom que geralmente ia com Miguel de tarde, foi de manhã, e a mãe foi junto na consulta, meu filho estava bem, ouvi o mesmo do Edu, que foi com o pai, saber que o desenvolvimento das crianças estava bom era ótimo, eles imaginavam que os bebês em breve soltariam alguma palavra, eu estava ansioso por aquilo desde que fizeram nove meses.
A quimioterapia em si foi tranquila, eu estava bem, sentia os remédios entrando, mas não sentia muita coisa, me enturmei um pouco com as enfermeiras, tinha vontade de falar com as outras pacientes, mas tinha medo de me apegar a elas, elas morrerem e eu ficar mal com isso, o câncer tem dessas coisas, ele meio que tira sua vontade de planejar.
Como de costume saímos da quimio e fomos comer, no mesmo restaurante, eu perguntei ao Talles se estava tudo bem comer aquelas coisas, ele disse que cada tipo de câncer é um, que se eu tivesse câncer de estômago a lista de restrições seria imensa, mas o que eu tinha era de origem muscular, que eu mantivesse minha boa alimentação e que comesse o que eu tivesse vontade, que o ganho psicológico seria maior!
Foi o que fiz, pra culpa não ser muito grande, eu voltei a apenas beber suco, me cuidar em relação à essas coisas, mas tirando isso, comi muita pizza, levamos uma pra casa, mais um mêsversário havia acontecido, que agora era muito mais um bolinho e um mega almoço pra pormos o papo em dia.
- É bom estar aqui com você sabia? – Falei sorrindo.
- Como tem força pra vir pro Rodízio depois da quimioterapia? – Indagou
- Fome e a sabedoria de por algo no estômago pra ter o que vomitar quando os enjoos começarem – Falei e ele sorriu, depois alisou meu braço por entre os refrigerantes.
- Você é tão forte! – Disse sincero com a franja do cabelo caindo na cara, estava grande.
- Será que eu passei isso pra eles? – Indaguei e ele me olhou meio aflito – Genética, passa por DNA, ainda duplicado...
- Se passou ou não só o tempo dirá, não é algo a se culpar, vários fatores podem desencadear – Ele disse.
- É eu sei – Aquela era minha zona de perigo máximo, o assunto do que podia ter desencadeado o meu câncer, era o meu limite, meu tabu máximo, que bom que ninguém atacava de Dr. House perguntando sobre – Vamos comer, porque é terça-feira, e existe pizza de calabresa.
Parecia que cada mês eu tinha um novo inimigo para lutar, a dor, a contração, o enrijecimento, o câncer nomeado, os enjoos, e agora o sono, um sono surreal me pegou, depois da quimioterapia, eu dormir praticamente três dias, eu acordava bem pouco, pra tomar os remédios, comer algo, e mesmo assim sem força pra segurar o garfo.
Eu ouvia sons e conversas ao longe, fora que sentia cada vez mais diminuída minha capacidade de andar, talvez tivessem fatores psicológicos envolvidos, mas no geral, eu sabia que de um jeito ou de outro estava preso à cama, morria de medo de me aparecer uma úlcera, fora que o quarto cheirava a "paciente doente".
- Eu to preocupado com você – Ele disse segurando minha mão – Talles disse que é normal, principalmente nas primeiras sessões.
- Fique bem, e eu estou bem, jamais morreria dormindo – Sorri fraco.
- Eu acredito, meu medo é que você está perdendo sua vida, os dias, as crianças – Confessou.
- Talvez meu corpo esteja me protegendo de dores, olha quantos remédios eu tomo... Mês passado ele perguntou, de 0 a 10 quanto minha dor doía, mesmo com remédio, eu falei 2, esse mês foi pra três – Perdi o olhar na cama.
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DE AMIGO PARA NAMORADO - Lamentos
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