Capítulo 7 - Solos

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As sessões psicológicas seguiam, estavam dando cada vez mais resultados, e talvez em coisas que eu nem percebia, mas eu me sentia mais consciente em relação as coisas.

O ano estava acabando, aquilo me animava, logo entraria um novo ano, novas consultas e sessões de quimio, agora eu tinha em mim uma ansiedade, queria que tudo terminasse, e eu soubesse estava bem, as crianças também crescido, os meninos mais encaminhados, tudo estaria melhor.

Minha quimioterapia caiu antes da consulta dos bebês, Tomás não poderia ir comigo, as aulas de teatro estavam cada vez mais intensas e ele teria alguns ensaios naquela semana, nem nas consultas dos babys ele iria, eu queria muito poder ir, mas não sabia se conseguiria.

Val foi comigo na sessão, foi tranquila, agora eu não me assustava mais, estava fazendo 21°C, fui um pouco mais agasalhado. Estranhamente aquele dia doeu, a medicação entrava e eu não estava nada bem, as enfermeiras se preocuparam, na verdade o que estava acontecendo é que eu estava sentindo dor do câncer, não da medicação, elas injetaram uma medicação pra dor, que doía mais que tudo, ardia, eu mordia a boca e tentava aguentar, depois passou um pouco, foi sofrido.

Talles me receitou uma nova medicação, um potente opioide, morfina, eu ia começar tomando 1 grama, de quatro em quatro horas, foi um alívio tão grande! Diziam que fazia dormir, eu não podia confirmar, porque eu sempre voltava da quimioterapia sonolento, mas o alívio era muito grande! Há meses eu vinha sentindo uma dor incômoda, por menor que fosse, ela estava sempre ali.

Depois da quimio eu tinha que tomar vários remédios em casa, a cada quatro horas eu tomava em média dois remédios, tinha de tudo, pra proteger os rins, pra dor, pra imunidade e revestir o estômago, a quimioterapia pode causar várias coisas, após aquela sessão tive um descompasso intestinal gigante, tipo, dor de barriga.

Que sensação péssima, quando você fica com medo de ir no banheiro, a barriga treme, e o pior é que sentar no vaso e fazer força faz tudo arder, eu nem aguentava mais! Edu perguntou se eu queria um gel anestesiante, demos tanta risada; Novamente as mulheres entraram em ação, Vó Rosa: Banana, Tia Kate: Goiaba; Val: Caju, e foi na base dessas frutas e senhoras que eu consegui "prender" o intestino.

O dia a consulta dos babys chegou, eu sem condições de ir, Tom nos ensaios, Edu pediu liberação do treino pra ir nas duas, o pai foi com ele na consulta de Liz e Beth na do Miguel. Novamente elogios, ambos tomaram duas novas vacinas, Liz estava com 10.200kg, e Miguel com 400g a menos, mas estavam muito bem, ambos tinham completado os 20 dentinhos, coisa mais linda o sorriso deles.

As crianças estavam cada vez mais desenvolvendo suas habilidades, Miguel tinha dito a primeira palavra: de novo, que na boquinha dele saiu: xi nhofo, e depois não parou mais, o auge havia sido eles aprenderem a falar vó, nossa, as avós ficavam orgulhosíssimas!

Quem se interessou muito por tudo isso foi o pessoal do Núcleo de Pesquisa, o professor era o Cláudio, Maria fazia terapia ocupacional, Ricardo era estudante de enfermagem, e Edson que fazia medicina. Eram três jovens muito bonitos, e dava pra ver que queriam muito aprender.

- Vou deixar você falar com eles, agora que já estamos com tudo certo – Cláudio disse depois que entreguei os documentos assinados, ele era um querido, tinha um sotaque forte e maravilhoso de ouvir – Vou estar na sala falando com os demais.

- Obrigado – Falei e o professor saiu, ficaram só os alunos no quarto – Oi pessoal – Falei acenando e eles fizeram o mesmo – Primeiro sentem – Eles olharam em volta, não tinha muitos lugares – Podem pegar essa cadeira, sentar na cama, fiquem à vontade – Maria ficou na cadeira, Ricardo na ponta da cama e Edson em pé - Se apresentem – Eles sorriam.

DE AMIGO PARA NAMORADO  - LamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora