Capítulo 13 - Aplausos do público

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Bem no finzinho de Junho tomei coragem e enviei uma mensagem, sem áudio, sem maiores delongas, queria ser muito direto e que minha mensagem fizesse o efeito que realmente fez.

"Olá, estou enviando essa mensagem para te dizer que se você quiser me ver, talvez pela última vez você tem pouquíssimo tempo, te amo, e acho que você tem o direito de saber, caso queira vir, venha preparada, porque se pode ser a nossa última conversa eu quero dizer coisas das quais sempre te poupei. Se você não vier, tudo bem, sabe que já me acostumei com sua ausência, mas a minha parte eu fiz. Bjs, Filipe"

Enviei essa mensagem e minha mãe chegou no Brasil dois dias depois, me enviava mensagem a toda hora depois daquela mensagem, pra falar das passagens, do voo, do hotel, dos bebês, ela me ligava e eu não atendia, não queria falar por telefone, eu queria ver ela, eu a estava chamando muito mais por mim, muito mais por eu dar essa chance a ela, muito mais por eu poder olhar nos olhos dela e falar coisas, muito mais pra eu me despedir.

Pedi que mandasse mensagem pro Tomás dizendo que me faria uma surpresa, pois senão ele desconfiaria dela por ali, e ele caiu direitinho, via ele conversando com Edu, pensando ideias e coisas para fazer, achando que eu não sabia de nada, mal sabiam...

Na quinta-feira que ela pousou no Rio, nem fez o tradicional check-in dela no hotel, veio direto pra minha casa, como se estivesse segurando em suas mãos o fio da minha vida. Quando chegou fingi surpresa, Tomás só tinha visto ela uma vez, foi toda simpática, e se grudou nos netos, os meninos falaram que iriam malhar e que depois voltavam, Beth e Vó Rosa como já sabiam das coisas ficaram com as crianças pra podermos conversar.

Comecei a conversa dizendo que não tínhamos muito tempo, em no máximo uma hora e meia meus anjos da guarda estariam de volta, ela reclamou, disse que era pouco tempo pra entender tudo, já comecei daí: Falei que se ela quisesse entender tudo me preocuparia mais do que uma vez a cada quarenta e cinco dias, que saberia do que estava acontecendo, que aquele encontro só aconteceu porque eu liguei.

Ela chorava, via na minha mãe a estampa do arrependimento. Eu nunca a julguei, e jamais permiti que qualquer pessoa a julgue. Olhar de fora é muito fácil, minha mãe foi uma das melhores alunas de direto que teve na UFF, estudou muito, se formou com honras, trabalhava na mesma empresa fazia quase uma década, "tubaroa", encarou um mundo coorporativo e se consolidou nele, se fosse meu pai que não estivesse nem aí pra mim as pessoas achariam normal, mas não esperam isso de uma mulher, e eu sempre vi ela determinada e empenhada a buscar sua carreira, e a admirava por isso! Queria que Liz fosse que nem ela, só que sem a necessidade de ser provar pra ninguém, eu via que minha mãe fazia aquele esforço todo pra mostrar ao mundo que ela era capaz e podia ser melhor que qualquer homem que atravessasse seu caminho, mas o desejo dela era parar.

- Eu estou tão arrasada, meu filho! – Ela disse depois que contei tudo, curiosamente dessa vez me emocionei menos, eu estava pensando em outras coisas.

- Eu também mãe, sobretudo porque não teremos tempo, não agora, pra vida mãe! – Lhe olhei nos olhos.

- Eu te dei tudo que você precisava, né? Menos tempo – Assentiu com a cabeça, as lágrimas marcavam a maquiagem na pele negra.

- Por isso eu tento ser tão presente na vida dos meus filhos – Devolvi.

- Acho que é muito tarde pra pedir desculpas, né? – Disse tímida.

- Não é não – Falei sério, como quem diz: é isso que estou esperando.

- Adoro o jeito que você fica quando está decidido ou bravo, parece comigo – Ela disse e sorri, era verdade.

Silêncio

- Vou te dizer, na minha cabeça, eu era a mulher-maravilha, eu podia correr o mundo, conseguir ficar muito bem e no fim ficar mais com você e com seu irmão, ainda mais agora que meus netos nasceram, eu até fiz um plano estratégico, para sair desse mundo dos negócios – Ela riu meio frustrada – Mas agora parece loucura, porque seria daqui há quatro anos – Chorou e depois segurou as lágrimas fazendo bico – A gente não lida com a morte eminente, a gente pensa que a morte é uma coisa longe, seu avô, penso que ele vai na minha e na sua frente, e que eu morreria antes de você e vem a vida e derruba a gente do cavalo...

DE AMIGO PARA NAMORADO  - LamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora