Capítulo 15 - Flores no camarim - parte 1

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Por Tomás:

- Ta demorando, né? – Edu falou, eu já estava bem impaciente, mas disfarçava bem, nos últimos tempos eu vinha disfarçando muita coisa.

- Tem meia hora já – Olhei meu relógio no pulso – Opa – Senti meu telefone vibrar no bolso.

- Que foi, que foi? – O chato do Edu perguntou curioso, quase parando no meu colo de tão em cima que ele estava, eu e ele adorávamos implicar um com o outro, era divertido.

- É o Filipe, ele pediu pra – Eu tentava ler e reagir a mensagem – Pra eu entrar e depois você me dar o Miguel, pode ser? – Olhei pra ele que procurava em mim alguma resposta.

- Claro – Ele disse pegando o Miguel.

Eu queria poder fazer todos os exercícios de aquecimento que aprendi no teatro, poder me alongar, poder chorar, sei lá, eu não sabia o que sentir, mas tinha um imenso medo de cruzar a porta, muito mesmo, tanto que fiquei um tempo encarando, até entrar de fato.

Fui abrindo a entrada do quarto lentamente, tinha uma mesinha de madeira com um abajur de luz azulada, a fonte de iluminação era toda infantil, achei a cara de Miguel, azul com amarelo, as cores favoritas do meu pequeno, o teto brilhava, estava cheio dessas estrelinhas que brilham no escuro, aquela meia luz azul fez com que eu me sentisse no espaço sideral.

Tinham duas poltronas brancas na parte que ficava entre a porta e a cama, estavam encostadas na parede, eu dava passos reparando tudo, o quarto estava lindo de um jeito que não sei explicar, era tudo muito lúdico, subjetivo e especial, estranhamente eu queria chorar, parecia que eu tinha sido teletransportado pros meus oito anos e idade.

Olhei pra ele que me olhava, mas sem me ver totalmente, olhei em seus olhos e parecia que ele tinha chorado muito, quando chegamos Filipe levou Miguel e Liz pro quarto e ficou com eles uns vinte minutos no quarto depois nos devolveu os babys e ficou sozinho esse tempo todo no quarto, uns quarenta minutos.

- Ei, Ta tudo bem? – Indaguei sabendo que não, mas não sabia por onde começar

Ele apenas balançou a cabeça na negativa e jogou o cabelo pra trás, seu rosto se mostrou cansado de um jeito que desde que o conheci nunca havia visto. Filipe era intenso, quando amava, amava mesmo, quando chorava, se acabava, quando ficava feliz era uma explosão, quando dançava era um furacão, e agora eu acho que eu estava vendo algo mais intenso que o sofrimento, acho que era um cansaço generalizado.

Segurei a mão dele, que me olhou sem dizer nada.

- Eu queria ficar em silêncio pra sempre – Deixou duas lágrimas caírem, eu o olhei surpreso, mal começamos e ele já chorava – Você é literalmente uma das últimas pessoas que eu gostaria de ter essa conversa.

- Do que você ta falando? – Eu estava confuso.

- Você sabe, Tomás – Sua fala era pausada, mais lenta que o normal e cansada – Sabe que eu to murchando, secando como uma flor velha.

Eu na hora quase fiquei sem ver de tantas lágrimas que estavam nos meus olhos.

- Não, não, você tá um pouco mal, mas você... – Eu falava

- Tomás – Ele me cortou e meneou a cabeça – Nem sei como te dizer isso, mas essas são as últimas horas que temos – Ele disse com os olhos lotados de lágrimas.

- Que?! – As minhas lágrimas caiam aos montes, como água – Não, não, quem te disse isso? – Ele massageava as minhas mãos.

Ele apontou pro coração.

DE AMIGO PARA NAMORADO  - LamentosOnde histórias criam vida. Descubra agora