As Aparências Enganam

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O coração da atriz passou a dar galopes dentro de seu peito, sua respiração passou a ser entrecortada e mesmo que seu cérebro mandasse comandos a todo seu corpo para que ele se mexesse ou esboçasse alguma reação, ela não se mexia e não sabia dizer por qual motivo seu corpo não obedecia a seus comandos. Dennis, que estava ao lado da atriz, fez uma cara de desagrado e tentando disfarçar o máximo que pode, designou algumas ordens para o assistente da direção, se virou e cumprimentou o colega diretor.

— Tudo bem, Rangel?

— Melhor impossível. – mexeu a cabeça forçadamente. — Eu não mereço uma resposta, Regina?

Nathália Timberg estava próxima de Lilia Cabral e Reginaldo Faria quando percebeu ter algo errado demais, pois a protagonista da novela estava menor que uma formiga. Por estar mais próxima, Lilia conseguiu escutar e o silêncio condenatório de Regina não estava ajudava em nada a sua posição comprometedora, mas o que ela poderia fazer? Nada. Aquela era uma arapuca que Regina Duarte tinha se enfiado sozinha e acabou arrastando com ela pessoas que não tinham nada a ver com aquele inferno extraconjugal.

Tirando forças não sabendo de onde, a atriz colocou seu melhor sorriso forçado no rosto, se virou e alisando o pingente do colar prateado em seu pescoço, se aproximou e beijou o canto dos lábios do marido. Ainda fugia de seu olhar, já que as palavras não entravam em ordem em sua mente e por isso, se resguardava para não falar o que não devia. Del Rangel mais uma vez insistiu, esboçando cada vez menos paciência em seu tom de voz que ficava mais e mais baixo e mais rouco, fazendo com que a pobre namoradinha do Brasil se sentisse reduzida a um átomo. O que ela falaria? Como poderia fugir daquela armadilha sem expor a verdade em seu peito? Como poderia continuar fingindo uma verdade quando sua maior vontade era extravasar toda a frustração em seu interior?

Então ela se limitou a sorrir, aquele mesmo sorriso simpático e acolhedor que era capaz de camuflar todo seu inferno pessoal.

— Ivan é o homem da Raquel, meu amor. – deu-lhe uma piscadela. — Por isso a brincadeira.

— Oh, é verdade. – Del deslizou a língua por seu lábio inferior.

— O que você veio fazer aqui? – colocou as mãos em volta da cintura masculina.

— Buscar uma esposa fujona. – arqueou a sobrancelha.

— Mas eu não fugi. – Del coçou sua pestana, impaciente. — Bom, talvez eu tenha saído um pouquinho mais cedo de propósito? – fez uma careta.

— Melhor assim. – consentiu. — É bom te ouvir falando a verdade. Sem mentir. Sem inventar alguma desculpa. – enlaçou a cintura feminina e sussurrou em seu ouvido. — Por isso vamos conversar em casa mais tarde, só nós dois.

Del Rangel se afastou com um amplo sorriso no rosto, beijou levemente os lábios femininos e saiu do set de gravações. Regina, que pensou por um momento ter burlado a inteligência de Rangel, ficou estarrecida com o tom das palavras sussurradas em seu ouvido que soaram tão mortíferas como a sentença a injeção letal. Uma gota de suor escorreu por sua espinha e tentando dispersar o medo que o marido lhe causou, pediu licença ao diretor e correu para seu camarim sobre os olhares atentos e não menos preocupados de Nathália e Cabral.

Antônio Fagundes estava tão focado nas cenas que gravava com Renata Sorrah que nem sequer percebeu o clima pesado que havia se instaurado por detrás das câmeras. O homem estava esbanjando bom humor e energia ao gravar todas as sete cenas que tinham na pauta do dia, até o mais distante percebia que ele estava com as feições mais revitalizadas, leves e o motivo estava mais que cristalino para todos aqueles que o rodeavam: estava em paz com Regina.

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