Maria Maria

27 1 0
                                    

Com a força do impacto, os óculos do diretor voaram no chão e ele adormeceu nos braços de Carlos Lombardi. Todos se fizeram silenciosos, estáticos, catatônicos. Del Rangel, que se fez desacordado nos braços de Carlos Lombardi, não deu nem sequer sinal de que acordaria pelos próximos instantes.

Dennis Carvalho, mais que depressa, arrancou das mãos de Fagundes a garrafa da bebida que comprovaria uma possível arma de um crime com os olhos arregalados. Boni, que agarrava Renata a impedindo de se jogar entre os homens que por ali haviam, tratou de afastá-la ainda mais a deixando aos cuidados de sua secretária que também não sabia o que fazer.

Carlos fez com que o diretor de sua novela descansasse seu corpo no sofá, Gilberto saiu depressa da sala rumo ao primeiro andar para chamar por algum socorrista de plantão e Fagundes, que tentava controlar seu nervosismo, escorou-se no canto da parede enquanto uma de suas mãos tentavam estancar o sangramento de seu supercílio.

Ninguém falava muita coisa além do necessário, não era preciso colocar mais lenha em uma fogueira que havia tratado de incendiar todas as pessoas ali presentes e Dennis se aproximou do diretor apagado dando toques em sua têmpora.

— Ele morreu? - cochichou com Lombardi.

— Não. - tocou em seu pulso. — Ainda tem pulso.

— Então por quê caralhos ele ainda não acordou? - abraçou a garrafa.

— Não sei. - deu de ombros. — Às vezes o cérebro demora a reagir depois de um choque. - sussurrou.

— Onde você viu isso? - arregalou os olhos.

— Em uma reportagem, não me lembro qual. - alisou sua cabeça tentando achar algum sangramento. — Ele tem um galo aqui. - tocou uma área do lado esquerdo da cabeça do diretor.

— Cara, você matou ele. - Carvalho olhou para Fagundes e beijou a garrafa de whisky. — Mas pelo menos ela está intacta.

— Você só se importa com isso? O cara está desmaiado, porra. - Boni passou por Carvalho coçando a cabeça.

— Mas esse Antonio não é meu amigo. - foi até Fagundes após pegar o gelo que restou dentro do balde. — Esse é. - colocou o gelo no ferimento fazendo com que o amigo se encolhesse. — Só faz merda, mas é meu amigo.

— Muito solidário você, viu? - tomando as rédeas, segurou o gelo. — Fiz merda?

— Oh, imagina... Só apagou com uma garrafa de Chivas o diretor de uma novela que, é marido de sua amante. - balançou a mão dando a entender que o que disse não tivesse importância. — Nada de mais.

— Cadê a Renata?

— Boni, cadê a Sorrah?

— Lá fora. - o mandachuva da Globo, que andava de uma ponta a outra da sala, olhou para Antônio. — Você tem noção do quê aconteceu aqui? - se aproximou dos dois homens. — Você sabe o tamanho da merda que fez? Isso não podia ter acontecido, Fafá, porra! Olha a sua cara! As gravações vão ter que parar! - Gilberto e o socorrista adentraram a sala. — Graças a Deus, Braga! Aguiar, olha isso.

Antônio Fagundes não sabia dizer o que mais doía, se era o supercílio rasgado, suas mãos, sua cabeça, o resto de seu corpo ou a alma. Tudo doía. Tudo sangrava. O desespero por saber do paradeiro de Regina, a ponte aérea, a briga... Todo o cansaço por um dia massacrante crescia por todos seus poros e de repente aquela sala parecia densa demais, pesada demais. Não querendo mais pertencer àquele ambiente, o ator saiu da sala de Boni, viu Renata Sorrah sendo amparada pela moça que ele havia deixado falar só minutos atrás, se aproximou pedindo licença e se agachou para olhar a amiga loura que se fazia mais branca do que uma nuvem aleatória em um céu de verão.

DegradêOnde histórias criam vida. Descubra agora